Quase parei: a história de Jimmy, que jogou todos os jogos do NBB

Jimmy, jogador de basquete do Pinheiros

Jimmy, jogador de basquete do Pinheiros Imagem: Ricardo Bufolin/Pinheiros

Aos 34 anos, o ala/armador Jimmy Dreher de Oliveira, de 1.90m de altura e 92.5kg, natural de Florianópolis, é capitão do Pinheiros.

Jimmy jogou todas as temporadas do NBB e nunca ficou fora de nenhuma partida: são 482 jogos disputados e mais de 3.800 pontos no NBB. Mas, ele teve uma longa e dura trajetória de luta até se tornar uma referência do basquete nacional.

Jimmy contou um pouco da sua carreira em relato para a coluna.

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Iniciei no esporte aos 12 anos jogando basquete na rua e na escolinha onde estudava por influência do meu pai e do meu irmão em Joinville (SC). Gostava de futsal, era um bom goleiro, mas aos poucos fui me afeiçoando e aprendendo a curtir o basquete também.

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Comecei a praticar futsal e basquete na escola até me destacar principalmente no basquete e ganhar uns elogios dos professores. Fiz parte do projeto social "Jovem Cidadão" focado no desenvolvimento de crianças através do basquete. Fui evoluindo e, em um curto espaço de tempo, ganhei uma bolsa de estudos no colégio, o que foi um grande alívio para a minha família, que era apertada de grana.

Levava o esporte como lazer, mas já competia nos jogos escolares de Joinville. Aos 16 anos, próximo de me formar no colégio, já treinava no infanto e no juvenil, e comecei a completar também o treino do time profissional da cidade. Recebi minha primeira ajuda de custo e consegui comprar meu primeiro tênis de basquete.

O técnico da base Annibal Oliveira sempre me apoiou no esporte, seja com importantes dicas táticas, com conselhos sobre a vida e até mesmo ajuda financeira.

Tinha dificuldade para conseguir ir para o treino, e às vezes eu ia a pé, correndo na verdade, e às vezes ia de ônibus quando ainda tinha o dinheiro da passagem. O treinador Aníbal organizou uma vaquinha com os outros garotos do time para conseguir uma bicicleta para servir de transporte para que eu pudesse chegar nos treinamentos.

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Dividia o tempo entre a escola e o basquete e, ao me formar no colégio, só queria saber de jogar basquete.

Tentando o meu lugar ao sol, tive muitas incertezas pelo caminho e pensei seriamente em parar de jogar e voltar a estudar para prestar vestibular.

Em 2009, quando estava com 19 anos, recebi um convite para bater uma bola em São José dos Campos e fazer um teste no time que jogaria o campeonato juvenil.

Sem parar de correr um minuto nos treinos, dei o melhor de mim e consegui a confiança da comissão técnica. Aos poucos fui ganhando espaço entre os juvenis.

Sempre joguei na pegada. Com espírito competitivo dentro de quadra, fui ganhando também chances no adulto com o treinador Régis Marrelli. Ia bem nos treinos, mas dificilmente entrava nos jogos do adulto.

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Sabia que não ia entrar no jogo, então eu pegava água e dava toalha para todo mundo, e não via problema nisso. Sabia que naquele momento aquela deveria ser a minha a função, eu sonhava que um dia minha hora ia chegar.

Todo fim de temporada era aquela ansiedade para saber se iam ou não renovar meu contrato

Durante os três anos de São José, aprendi muito taticamente e cresci tecnicamente, mas tinha pouco tempo de quadra. Então fui para um time mais modesto de Jacareí, joguei lá por três meses para poder entrar mais na rotação. Me senti preparado, abracei a oportunidade e fiz bons jogos, até que recebi uma proposta para ir para Fortaleza jogar o NBB.

Continuei na mesma pegada, disciplina e dedicação nos treinos, mas nada de pisar em quadra pelo Basquete Cearense. Somente na reta final do campeonato comecei a ficar mais tempo dentro de quadra.

A defesa sempre foi minha principal característica. Aprendi com meu pai "que a defesa é o melhor ataque" e sempre entrei para dar a vida na defesa.

Fui me garantindo e ganhando a confiança dos técnicos pela minha dedicação e capacidade de correr mais que outros e marcar quase qualquer um do outro lado da quadra.

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A linha é muito tênue entre ser um jogador de elite e ter que parar de jogar. Já cansei de ver caras muito mais habilidosos ou mais talentosos do que eu ficarem pelo caminho. Mas acredito que o meu perfil de não desistir nunca e saber interpretar o meu papel dentro da equipe foi me abrindo muitas portas.

Recebi propostas de grandes times do Brasil justamente por ser esse cara de grupo, um "three and D" (bolas de três e defesa), como os americanos falam.

Fui me desenvolvendo ao longo da minha carreira como jogador, e hoje me orgulho muito do que eu já conquistei por esses atributos que aprendi com meu pai e carrego sempre comigo.

Por três vezes ganhei o prêmio de melhor defensor do ano no NBB. Só estou atrás do Alex Brabo (que ganhou nove vezes o prêmio), então tecnicamente sou o segundo melhor defensor da história do campeonato brasileiro.

Quando me vejo em quadra sempre com aquela mesma energia, quase ninguém sabe que quase tive que abandonar o basquete algumas vezes.

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Os treinos e o esforço incondicional não te garantem um contrato, mas sei que isso faz parte do jogo.

É preciso ser resiliente e ter humildade para ficar os 40 minutos no banco de reservas e no outro dia acordar cedo para fazer um treino extra. A perfeição é algo raro no esporte, então acho que a busca por evolução é a melhor maneira de ser atleta.

Consegui me estabelecer e ser reconhecido entre os grandes somente em Mogi, em 2014. Por causa da minha defesa e das minhas bolinhas de três que começaram a cair com mais frequência, ganhei moral e permaneci por quatro temporadas defendendo as cores da cidade de Mogi das Cruzes.

O basquete foi abraçado pela cidade e pelos torcedores, e fomos campeões Paulista e Sul-americano lá.

Tive a honra também de jogar por Franca, a capital do basquete, em um timaço de primeira linha. Lá ganhei meu espaço e fomos mais uma vez campeões Paulista e sul-americano.

Ainda tive a chance de jogar em cidades muito diferentes, consegui crescer muito culturalmente e interagir com o que cada cidade tinha para oferecer.

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Joguei em São Paulo pelo Paulistano e em Campina Grande pela Unifacisa, dois polos muito distintos e cada um com peculiaridades que agregaram demais na minha formação como pessoa.

Dentro de quadra, tive mais protagonismo e, depois de muitos anos na estrada, fui chamado para ser um dos líderes do Pinheiros, clube em que jogo há duas temporadas.

Sou capitão do Pinheiros, posso passar um pouco da minha experiência em um clube que sempre focou muito no desenvolvimento de jogadores jovens.

O meu técnico hoje é o Vitor Galvani, ele é de Joinville e eu conheci lá atrás quando eu estava começando. Mas o curioso é que ele é mais novo do que eu, mas tem bastante experiência, já treinou a seleção brasileira de base e também o Capitanes da G League, da NBA. Ele vem me dando muita força para assumir esse papel de liderança na equipe.

Tenho a grande marca de nunca ter faltado em um jogo no NBB, joguei todas as 16 edições e estive disponível para todas as partidas. "Só não joguei quando o técnico não quis, a galera brinca que sou o Wolverine do basquete" (risos).

Sou melhor ser humano pelo que o esporte me proporcionou e todas as portas que o esporte me abriu. Conheci minha esposa, Aline, no período em que atuei em Fortaleza, em 2013. Hoje somos casados e tenho o melhor troféu da minha vida, o Luan, nosso filho de três anos.

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Basquete na minha vida já foi sonho, já foi e continua sendo trabalho, e eu sigo me divertindo. Mas principalmente com a mesma pegada e mesma garra de quando ia para o treino correndo lá em Joinville sem nem saber se ia ter dinheiro para voltar para casa.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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