Bastidores: Vítor Pereira balança no Flamengo, e condução do futebol volta a sofrer questionamentos

Vítor Pereira já não tem mais a mesma estabilidade como treinador do Flamengo. O vice da Recopa Sul-Americana, as derrotas em clássicos para Vasco e Fluminense e a dificuldade de apresentar evolução consistente fizeram a pressão pela demissão do português, especialmente vinda da Gávea, crescer bastante. Há semanas tida como uma certeza, a sequência de VP está de fato ameaçada.

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A surpreendente escalação utilizada para o Fla-Flu, com a saída de seis peças, e mais as questionáveis substituições no segundo tempo puseram mais gasolina na fogueira em que Vítor se encontra no momento.

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Vitor Pereira é apresentado como técnico do Flamengo — Foto: Fred Gomes 1 de 2 Vitor Pereira é apresentado como técnico do Flamengo — Foto: Fred Gomes

Vitor Pereira é apresentado como técnico do Flamengo — Foto: Fred Gomes

Correntes políticas que cobram a demissão de VP entendem o discurso de que o time estaria no "caminho certo", adotado pelo treinador especialmente após os jogos contra o Independiente Del Valle e Vasco, não cola e nem tampouco se justificou em campo.

Fez bons primeiros tempos nessas duas partidas e mais o de quarta, diante do Fluminense, contudo em todos caiu demais na etapa final. Perdeu bastante ofensivamente também. Nos últimos cinco jogos, perdeu três e fez apenas três gols. Por isso, figuras importantes da Gávea não aceitam o argumento de que o Flamengo teria evoluído.

O comando do futebol sabe que é preciso de resultados para segurar VP, mas defende a continuidade. Quer quebrar o paradigma de constantes mudanças de treinadores, confia em Vítor e deseja mantê-lo por convicção. Marcos Braz tem a convicção de que Vítor Pereira não vai cair. Acredita no trabalho, nos treinos e num cenário de reviravolta rápido. Bruno Spindel faz coro à firmeza de Braz, e esse respaldo ganha eco no elenco.

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Os jogadores se surpreenderam ao serem informados, em vídeo, da mudança radical de escalação do jogo com o Vasco para o contra o Fluminense. Alguns não entenderam, mas as primeiras reações não apontaram insatisfação. Gabigol é um exemplo disso. Ao ser substituído, contestou vaias a VP e pediu aplausos. Realmente não há problema de relacionamento.

Gabigol em Flamengo x Fluminense — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF 2 de 2 Gabigol em Flamengo x Fluminense — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Gabigol em Flamengo x Fluminense — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF

Membro de corrente que defende Vítor Pereira lembra que o técnico colocou em prática o que planejara com a mudança em massa no primeiro tempo. Disse que ia marcar alto o Fluminense e o fez, mas não sustentou fisicamente. Há também o entendimento de que os jogadores escolhidos para o segundo tempo não mantiveram o nível.

Pessoas do dia a dia no Ninho do Urubu garantem que o panorama é totalmente diferente do observado nos tempos de Paulo Sousa. PS fechava-se muito com as próprias ideias e de sua comissão. Vítor é visto como um profissional que escuta mais os membros da comissão técnica que já estavam no clube e é menos teimoso do que o compatriota.

Com a sequência de insucessos, o presidente Rodolfo Landim vê cobranças pela "profissionalização" do departamento de futebol voltarem à tona e com bastante força. E essa pressão vem especialmente de importantes correntes políticas na Gávea.

Na internet, associados e torcedores vêm repostando um vídeo de Rodolfo Landim nos últimos dias. Nele, o presidente diz que o futebol passaria a ter mais "cobrança" e que eventualmente "mudaria pessoas ou processos" em caso de os resultados não aparecerem.

Usam as palavras do presidente para cobrar providências. Figuras que pressionam Rodolfo Landim por mudanças não personificam suas críticas na pessoa física de Marcos Braz, mas sim no fato de um vice-presidente amador, que não é remunerado, ser o principal responsável pelo futebol.

Os mesmos também pedem mais pulso firme com os atletas e identificam cenário de acomodação especialmente após as conquistas do ano passado, apontando as longas férias como um reflexo de tal comportamento.

Outra crítica feita por esses grupos políticos que cobram mudanças estruturais é em relação a contratação de jogadores. Acreditam que o Flamengo não equilibra o elenco e que dificilmente mira no meio-termo. Na visão deles, a aposta é feita majoritariamente em jogadores de nível europeu, e o elenco acaba composto por duas categorias: medalhões e jovens promissores. O entendimento é de que o não vem sendo feito com a mesma eficiência do que em outras temporadas.

O organograma do futebol do Flamengo no momento tem Marcos Braz, o vice da pasta, como líder. Com ele estão Bruno Spindel, diretor executivo, Juan, gerente técnico, e Fabinho Soldado, gerente de futebol e ex-gerente de scout - o departamento agora tem Renan Bloise como coordenador. Esses estão no dia a dia do Ninho.

Há também o Conselho de Futebol, formado por Braz, o CEO Reinaldo Belotti, e Diogo Lemos, Bernardo Amaral do Amaral e Felipe Bueno.

O organograma do Fluminense, que venceu o Flamengo na quarta-feira, tem diferenças. O futebol do Flu é dividido da seguinte forma: Mário Bittencourt (presidente), Matheus Montenegro (vice-geral), Paulo Angioni (diretor de futebol), Fred (diretor de planejamento esportivo) e Ricardo Correia (chefe do scout).

O exemplo tricolor é citado por correntes políticas como um exemplo de que é possível ser eficiente também contratar com orçamento mais baixo. Em contrapartida, entendem também que não se trata de uma ruptura total com o atual modelo, até porque o trabalho liderado por Braz e Spindel soma duas Libertadores, dois Brasileiros, Copa do Brasil, duas Supercopas do Brasil, Recopa Sul-Americana e três estaduais.

Mais uma prova de que as críticas não se restringem a Vítor Pereira é o protesto que torcedores marcaram para o próximo sábado. Desta vez não será no Ninho do Urubu, como aconteceu na última terça-feira, mas sim na Gávea, coração do clube e onde acontecem as decisões políticas. Vale lembrar que a próxima eleição já começou a ser discutida com 21 meses de antecedência.

Que Vítor Pereira balança é fato. Os resultados são ruins, a esperada evolução não aconteceu, e o Flamengo não sai do lugar no momento. Mas a insatisfação ultrapassa o limite das quatro linhas.

O Flamengo que, mesmo com mudanças aos montes desde a saída de Jorge Jesus conseguiu muitos títulos, tenta uma nova reconstrução dentro de uma temporada. O futebol luta por continuidade e contra o fim de uma rotina de mudanças de treinador - foram oito técnicos na atual gestão. Já outros atores políticos pedem alterações mais abrangentes.

A decisão, mais uma vez, ficará para o campo, e o primeiro adversário é o Vasco, que tem a vantagem do empate em pontos ganhos e saldo de gols. Somente vitórias com futebol convincente na semifinal do Carioca e numa eventual decisão darão paz para Vítor Pereira e o comando do futebol planejarem a sequência da temporada.

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