Após 12 anos, Pedro Henrique volta à cidade natal com o Inter e mantém laços; veja histórias
O garoto que vivia com uma bola a tiracolo, aprontava e chorava não só alcançou o sonho como orgulhou parentes e amigos. Pedro Henrique voltará a atuar em Santa Cruz após 12 anos e terá a emoção como companheira nos Eucaliptos. Os parceiros de longa data prometem estar na arquibancada do estádio para empurrá-lo a ajudar o Inter a derrotar o Avenida, às 19h desta quarta, e conquistar a primeira vitória no ano.
- Voltar para minha terra é um grande prazer. Estar perto da família, de todo mundo, mas uma responsabilidade muito grande, que é representar o Inter – disse após o empate em 2 a 2 com o Juventude.
Autor do gol que evitou a derrota no Beira-Rio, o ponta divide com Wanderson a incumbência de ser o atacante pelo lado que desmonta a marcação com dribles e arrancadas. A qualidade que desfila pelo clube do coração chamava atenção desde pequeno.
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Pedro Henrique com a camisa do Inter ainda pequeno — Foto: Arquivo pessoal
Em Linha Pinheiral, distrito de Santa Cruz, a 13 km do palco do duelo na noite desta quarta-feira, vivia com uma bola para cima e para baixo. Jogava em casa, no vizinho, no intervalo no colégio.
- O Pedro sempre foi ligado no futebol. Eu brincava que jogava melhor que ele. Chutávamos aqui no pátio e minha mãe o xingava porque estragava as flores. Ele chorava e ganhou apelido de Kiko. Sempre foi muito bom, mas se o Neca não apostasse nele, não chegaria ao Inter – diz Camila Froemming, amiga de infância.
O Neca, referido pela consultora ótica, é Edgard Konzen, tio, padrinho e pai de criação de Pedro Henrique. A infância do atacante não foi fácil. A mãe, Dulce Maria, faleceu quando tinha seis anos, vítima de um aneurisma cerebral. O pai biológico, Pedro, não esteve presente. O lado paterno diz que há muito orgulho do atacante, mas que não era permitido o contato.
O tutor de PH chegou a jogar na várzea. E, ao acompanhá-lo, o hoje camisa 28 se apaixonou pela bola. Neca o levava para ver os jogos do Santa Cruz. Em uma destas ocasiões, encontrou um amigo, Gilberto Coutinho, responsável por uma escolinha. Pediu para que desse uma oportunidade.
- Desde o colégio, quando o Pedro sumia, era fácil de achar. Bastava ver no campo. O Gilberto disse que o Pedro não tinha tamanho, mas falei para levá-lo. Foi para o salão, depois realizou o contato para atuar no Santa Cruz e deu no que deu hoje. Vivemos este sonho dele – vibra Neca.
2 de 5 Neca é o tio e pai de criação de Pedro Henrique — Foto: Arquivo pessoalNeca é o tio e pai de criação de Pedro Henrique — Foto: Arquivo pessoal
Aliás, enquanto trilhava o sonho, o tio precisou doutrinar Pedro Henrique. Afinal, colorado fanático, Neca desejava que o sobrinho seguisse esse rumo. Entretanto, existia um duro adversário a superar. Nascido em 1990, o atacante teve a infância marcada pelos títulos do Grêmio.
- Insisti para que fosse colorado. Brincava e dizia para ser feliz, mas o Grêmio dominava. Foi uma época complicada. Sou Pedro Futebol Clube. É meu sangue. Mas do jeito que aconteceu, não poderia ser melhor – completa.
Para trilhar a trajetória e encher o tio de orgulho, Pedro Henrique iniciou na base do Santa Cruz. No Galo, foi comandado por Deive Bandeira, atual gerente de mercado e líder do Centro de Análise e Prospecção de Atletas (Capa) do Inter, e mentor da contratação no ano passado.
Quando ainda carregava o status de promessa, o drible já o acompanhava. Porém, a posição... Pedro Henrique atuava na zaga.
- Jogávamos no 3-5-2 e o Pedro era o zagueiro da sobra. Já dava para ver que ele era diferente. Era difícil passar por ele. Tinha uma condição incrível, uma ótima impulsão e lançava com as duas – recorda Cassiano Ferreira, companheiro na base.
3 de 5 Pedro Henrique (sexto agachado) na base do Santa Cruz — Foto: Arquivo pessoalPedro Henrique (sexto agachado) na base do Santa Cruz — Foto: Arquivo pessoal
Do Santa Cruz, Pedro Henrique foi para o Cianorte, do Paraná, antes de passar pela base do Grêmio. Passou pelo Avenida, rival desta quarta, e Caxias nos primeiros passos como profissional antes de ganhar a Europa. Zurich, da Suíça, Rennes, da França, PAOK, da Grécia, Qarabag, do Azerbaijão, Astana, Cazaquistão e Kayserispor e Sivasspor, da Turquia, conheceram o talento do atacante.
Apesar da jornada no Velho Continente, o jogador de 32 anos manteve os laços. Enviava camisas aos amigos dos times que defendia. A passagem em Santa Cruz não falha. É dividida sempre com períodos em Caxias, terra da esposa Rafaela.
Mesmo quando está à distância, mata a saudade dos amigos e se diverte no “Since 1990”, grupo de WhatsApp onde arma os costelões quando volta à cidade, sempre assados por Neca. Os churrascos são acompanhados por música, uma de suas paixões.
- Ele fica um período em Caxias porque a família da esposa é de lá, mas depois vem para cá. Adora o costelão. O Pedro avisa o dia que vem e fazemos. Come e canta. Sempre gostou de música. A banda que apareceu nas comemorações dele... Já escrevia cartinha para o pessoal do bailão. Agora pega o microfone e faz duelo - brinca Neca.
4 de 5 Pedro Henrique com a amiga Camila — Foto: Arquivo pessoalPedro Henrique com a amiga Camila — Foto: Arquivo pessoal
A cantoria e o churrasco são acompanhados pelas bergamotas (ou tangerinas). A fruta é colhida religiosamente por Áurea Regina, tia de Pedro Henrique e esposa de Neca. O atacante do Inter a popularizou ao postar nas redes sociais caixas das remessas da tia, que viralizou entre torcedores e o clube.
Esta relação o faz ser admirado pelos amigos. Bolívar Schuck, com quem também atuou no início do Santa Cruz, se derrete ao falar sobre o atacante. Não pelo talento, mas o carinho que nutre pelos entes.
- Desde os tempos de sair com dinheiro contado até hoje, nunca perdemos o contato. Quando ele vem, marcamos de jogar e comer uma carne. Ele não mudou em nada. Quando contei a ele que minha mãe descobriu que estava com câncer de mama, ele fez um vídeo para ela. Me marcou muito por termos vencido esta batalha – valoriza.
5 de 5 Pedro Henrique com o parceiro Bolívar — Foto: Arquivo pessoalPedro Henrique com o parceiro Bolívar — Foto: Arquivo pessoal
Os amigos têm presença marcada na noite desta quarta nos Eucaliptos. Reviverão histórias e gritarão com orgulho para Pedro Henrique levar o Inter a vencer o primeiro jogo do ano. De preferência, com gol.
Quem não estará no estádio é Neca. Com embolia pulmonar, foi vetado pelo médico de sair de casa, apesar da vontade. Ficará em frente à televisão com a camisa do Inter e na expectativa da próxima folga do sobrinho para um churrasco e boas risadas.
Inter e Avenida se enfrentam nesta quarta-feira, às 19h, nos Eucaliptos, em Santa Cruz do Sul. Ambos empataram na primeira rodada do Gauchão.
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