Endrick foi proibido de jogar com a perna boa e quase virou lateral-esquerdo no início da carreira

As habilidades consideradas até sobrenaturais por alguns não eram novidade para quem acompanhava os primeiros passos de Endrick no Jardim Céu Azul, em Valparaíso de Goiás.

O jovem que virou assunto no bairro da cidade do interior de Goiás jogava com garotos até seis anos mais velhos do que ele. Sem medo de brigar por cada bola, chamava a atenção pela facilidade de conseguir jogar de igual para igual contra jogadores muito mais fortes fisicamente.

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Endrick (de uniforme branco) jogando futsal na escolinha em Valparaíso de Goiás — Foto: Arquivo Pessoal 1 de 4 Endrick (de uniforme branco) jogando futsal na escolinha em Valparaíso de Goiás — Foto: Arquivo Pessoal

Endrick (de uniforme branco) jogando futsal na escolinha em Valparaíso de Goiás — Foto: Arquivo Pessoal

Desde os quatro anos jogando bola com frequência, mantendo uma pequena rotina de treinos, Endrick começou a se destacar muito quando enfrentava meninos da sua idade. Foram vários os professores no início da trajetória do agora centroavante do Palmeiras, mas apenas um teve o olhar que foi determinante na evolução dele.

– Eu tirei o Endrick dos jogos e ele fazia treinamentos de cone, movimentação e dribles para frente. Quando ele me via chegar na escolinha, ficava agoniado porque queria jogar e eu não deixava nessa etapa. Depois que vi que ele estava rápido nos cones, voltou para os jogos. Com pouco tempo, começou a se destacar. Quando ficou fácil, montei um novo programa para ele – contou Silas Severino, professor de Endrick na época.

Endrick na escolinha de futsal em Valparaíso de Goiás — Foto: Arquivo Pessoal 2 de 4 Endrick na escolinha de futsal em Valparaíso de Goiás — Foto: Arquivo Pessoal

Endrick na escolinha de futsal em Valparaíso de Goiás — Foto: Arquivo Pessoal

Endrick chegava cedo na escolinha para aulas. Lá, passava praticamente metade do dia. Os treinos com os jogadores mais velhos ajudaram na evolução física e técnica. No entanto, isso também acabou deixando o aspirante a jogador muito acima dos colegas de escolinha da mesma faixa etária.

– No treino com os mais velhos, ele podia jogar normal, usando a perna esquerda, que era a boa dele. Ele tinha sete anos e jogava com meninos de 12, 13 anos, então poderia jogar livre, driblando o quanto quisesse. Quando descia para a categoria dele, jogava muito fácil. Driblava todo mundo e fazia o gol, mas com muita facilidade.

– Quando ele treinava com os meninos da idade dele, tive a ideia de deixar treinar apenas com a perna contrária. Se tocasse na bola ou fizesse gol com a perna esquerda, era falta. Nossa, ele tinha ódio de mim. Todo treino ele pedia para jogar livre, mas dizia que um dia ele precisaria jogar com a outra perna também – recordou Silas.

Os treinos que eram vistos como uma atividade chata e sem graça no início se tornaram um diferencial na sequência da carreira de Endrick. Atualmente, o jogador do Palmeiras tem facilidade em jogar tanto com a perna esquerda quanto com a direita. Além disso, não sentiu o peso de sempre estar em uma categoria acima da sua na base do clube. Agora, aos 16 anos, é titular no time profissional.

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Mas o caminho de Endrick poderia ter tomado outro rumo. Um dos primeiros treinadores, ainda quando treinava em Brasília, gostava de colocá-lo para atuar na lateral esquerda.

– Ele não tinha dribles para frente, acabava cortando sempre para o lado não tendo objetividade. Isso acabou de certa forma fazendo ele não potencializar o que tinha de melhor, mas aos poucos conseguimos evoluir isso nos treinos. O Endrick tinha uma ótima finalização desde sempre, além de ser fisicamente mais forte que os outros. Sempre foi um atacante nato – disse Silas.

Campo da escolinha onde Endrick treinou dos cinco anos até ir para o Palmeiras — Foto: Emilio Botta 3 de 4 Campo da escolinha onde Endrick treinou dos cinco anos até ir para o Palmeiras — Foto: Emilio Botta

Campo da escolinha onde Endrick treinou dos cinco anos até ir para o Palmeiras — Foto: Emilio Botta

Silas mora no Rio de Janeiro onde lidera um projeto social em busca de novos talentos na cidade. Apesar da distância e da perda de contato diário, o professor segue dando dicas e ajudando na evolução de Endrick, monitorando os jogos e dando orientações de posicionamento e movimentação para o atacante.

– Fico de uma forma discreta com o Endrick, converso algumas vezes e dou alguns conselhos no que observo de longe. Ele ouve, é humilde e simples, se eu ligar a qualquer momento ele vai ouvir e dar atenção. O Endrick tem sede de conhecimento, é um garoto que sempre quer aprender mais, se é um ensinamento e oportunidade de aprender ele não é arrogante. Por isso ele vai se destacar demais, porque quer e gosta de aprender –disse Silas.

Endrick ao lado de Silas, um dos seus professores no início da carreira — Foto: Arquivo Pessoal 4 de 4 Endrick ao lado de Silas, um dos seus professores no início da carreira — Foto: Arquivo Pessoal

Endrick ao lado de Silas, um dos seus professores no início da carreira — Foto: Arquivo Pessoal

A gratidão de Douglas, pai de Endrick, é visível. O amigo de infância que virou professor do filho no início da carreira ganhou um espaço especial na história do centroavante do Palmeiras que foi vendido para o Real Madrid por R$ 400 milhões.

– O Silas teve importância muito grande na evolução e carreira dele, foi essencial nessa evolução do Endrick, algumas pessoas perguntam se ele é ambidestro, mas não é. O grande responsável por isso é o Silas. Sou muito grato, o Endrick também é e até hoje nós mantemos contato com ele – disse o pai de Endrick.

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