Um clássico bom para todo mundo

Observei atentamente o clássico de domingo entre São Paulo e Corinthians e, entre outras, uma conclusão era óbvia: se desse para juntar os dois times e elencos, teríamos um timaço. Porque os dois têm o que o outro necessita. O vencedor Corinthians tem experiência, mais rodagem coletiva, mais talento a partir do meio... mas falta-lhe intensidade, recomposição, atacantes rápidos de lado. O São Paulo tem intensidade, recomposição, atacantes rápidos de lado... mas começa mais uma temporada quase do zero no coletivo, um elenco desequilibrado (incluindo a quantidade de estrangeiros) e não tem Renato Augusto. Esses ingredientes marcaram o segundo clássico do melhor dos Estaduais. Um grande jogo que o Corinthians venceu, mas que num sentido figurado não dá para dizer que o São Paulo perdeu. O Timão somou, sim, três pontos e o Tricolor nenhum, mas todos ficaram de algum modo satisfeitos. O Corinthians porque precisa mais de resultados, o São Paulo que jogou muito bem, que criou muito, porque agora precisa mostrar rendimento.

Depois de surpreender até a muitos corintianos chegando ao G-4 do Brasileiro (e portanto à fase de grupos da Liberta 2023), às quartas da Libertadores e à final da Copa do Brasil em 2022, o passo seguinte seria Vitor Pereira dar a sequência que Abel Ferreira deu ao Palmeiras e sonhar mais alto. VP, como se sabe, seguiu outro rumo, e chegou o jovem Fernando Lázaro. Mesmo com respaldo do grupo de jogadores, o treinador conhece suficiente o Corinthians para saber que o torcedor tem paciência limitada, especialmente com comandantes jovens - lembremo-nos de Sylvinho. Assim, por mais que o Corinthians venha tendo algumas boas atuações - fora de casa nem tanto - a vitória no clássico era fundamental. Talvez por isso, embora ele tivesse um momento psicológico muito melhor e uma avenida aberta em cima de Orejuela depois do 2 a 0, o Corinthians instintivamente passou a jogar pelo resultado - e poderia tê-lo perdido no segundo tempo. Havia ainda um jejum de vitórias sobre o Tricolor no Morumbi que chegava a 11 jogos desde 2017 - e que Lázaro e seus comandados mandaram para o lixo.

Como qualquer torcedor tem certeza de que o São Paulo estará nos mata-matas do Estadual, muito mais do que vencer um jogo importavam outras questões para Rogério Ceni. Uma era escolher no cardápio de estrangeiros os cinco mais relevantes - Arboleda, Alan Franco, Mendez e Calleri unanimidades, a torcida queria Gallopo, Ceni escolheu Orejuela. Outra era testar, diante de um rival que controla o meio, um setor mais marcador para tentar parar Renato Augusto. Colocou Pablo Maia, Mendez e Rodrigo Nestor, que jogaram bem, conseguiram criar e que tiveram uma única falha defensiva: ninguém entendeu o balanço de Renato Augusto e sua colocação para servir Fágner no lance do primeiro gol. O segundo gol do Corinthians foi uma pane defensiva, nada a ver com o meio: Arboleda desistiu de marcar Roger Guedes, Alan Franco saiu vendido na cobertura e o goleiro não cortou a assistência para Adson.

Ceni precisava ainda de mais um teste para Luciano como "10". Alguém para jogar por trás de Calleri, mesmo sem ser a especialidade de Luciano - um homem de conclusão, mas capaz de quebrar bem um galho numa função que só tem Gallopo no elenco (que não conta com a plena confiança no treinador). Até funcionou, Luciano fez um gol e poderia ter feito outro. Além de tudo isso, David e Wellington Rato voltaram a render bem atuando pelos lados.

Ou seja, foi um domingo bom para todo mundo. Mas é preciso entender que o tempo não para, como alertou um dia Cazuza. O Corinthians precisa correr com a consolidação das propostas de Fernando Lázaro, Yuri Alberto precisa ser mais constante na artilharia (embora esteja brilhando no desempenho de outras funções de recomposição e até de armação) e, mais do que tudo, o time precisa vencer e conquistar coisas. E o São Paulo precisa levar para o placar dos jogos as boas estratégias de Ceni e sua capacidade de encontrar soluções com um elenco menos rico do que o dos concorrentes - porque o sofrido torcedor tricolor está vendo esta fase como um trampolim para conquistas. Se elas não vierem...

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