Vitor Pereira precisa encher o tanque
Por conta do calendário para lá de específico do futebol em 2023, o Flamengo vive dividido entre o mundo ideal e o mundo real. Seu treinador, Vítor Pereira, está apenas começando um trabalho que, se tudo der certo para ele, trocará uma cultura consolidada no Rubro-Negro desde 2023 (jogo ofensivo, construído pelo meio, com toques mágicos de Arrascaeta e Éverton Ribeiro, e na frente a letalidade de Gabigol e, antes, Bruno Henrique, agora Pedro), para outra com jogo pelas pontas, marcação alta, perde e pressiona e, principalmente, solidez defensiva. VP sabe como fazer, e tem material humano para conseguir - o mais difícil talvez será manter algum ídolo no banco e acalmar a torcida. O problema é o mundo real. Quatro disputas pesadas de título em quatro meses, sendo que duas já aconteceram e foram perdidas. As próximas, Recopa e Estadual, são mais acessíveis e viraram "obrigação". As perdas de Supercopa e da semifinal do Mundial, deixaram o tanque do carro do português com o combustível na reserva. Se buscar as próximas taças, o tanque enche e ele pode fazer as mudanças que imagina. Se perder, por mais que se contrarie a lógica, VP terá combustível até a segunda derrota no Brasileiro ou na Libertadores.
Em geral, técnicos portugueses gostam de jogar com dois jogadores pelo lado. Imagino (será que imagino mesmo?) que, quando a diretoria do Flamengo convidou Vitor Pereira para mudar o trabalho de Dorival Júnior, soubesse que havia uma mudança radical para ser feita no time principal - e com consequências num vestiário até aqui intocável. A dúvida entre parêntesis é porque, há um ano, essa mesma diretoria prometeu a um também português Paulo Souza que ele poderia mudar o que quisesse que teria respaldo - e na perda do Estadual para o Fluminense tudo mudou radicalmente. Vitor Pereira fez isso no Corinthians com Roger Guedes pela esquerda e Mosquito pela direita - embora, aos poucos, tenha tido que se adaptar às condições do elenco do Corinthians. Alías, o início de trabalho de VP no Timão também teve maus resultados (derrota para o São Paulo no Estadual, derrota pela Libertadores na altitude com um time de média de idade altíssima).
Agora, sempre que pode ele escala Cebolinha, pela esquerda ou, como contra o Al-Ahly, pela direita. Está insistindo com a diretoria para que traga o santista Ângelo para ter mais uma opção de lado. E ainda terá, ainda não sabemos exatamente em que condições, a volta de Bruno Henrique. Ele entende que, além de espaçar a marcação adversária, dois pontas jovens poderão recompor o sistema defensivo pelo lado, e facilitar a vida de Thiago Maia e Gérson, se um marcador mais intenso não for contratado. A questão é: esse esquema é bom e pode funcionar, mas aí vai sobrar para algum gigante o banco de reservas. Neste momento, o alvo claro é Arrascaeta, sempre substituído, às vezes às voltas com lesões - mas Everton Ribeiro também tem sido substituído.
O futuro é um copo meio cheio e meio vazio. Para VP, o copo meio cheio é a certeza que a torcida precisa entender - aquele quarteto mágico de 2023 (hoje com Pedro no lugar de BH), um dia, vai acabar, não é eterno, hoje todos são quatro anos mais velhos, apenas Gabigol e Pedro parecem intocáveis. O meio vazio: com Arrasca ou Ribeiro no banco, nos jogos do Maracanã, se o Flamengo ficar 15 minutos sem fazer gol, a arquibancada vai urrar no ouvido de Vitor Pereira os nomes de Arrascaeta ou Éverton Ribeiro até o técnico não mais suportar.
Aliás, o fator Maracanã, sempre citado como decisivo a favor do Flamengo, desta vez pode também virar um copo meio vazio. O segundo e decisivo jogo diante do Independiente del Valle, além de todos os clássico que o Flamengo disputará no Estadual serão ao lado da torcida. Se vencer, a energia rubro-negra esquecerá as perdas recentes e levará o tanque do carro de VP a ficar cheio. Mas derrotas, fracassos, perspectiva de ver ídolos fora do time titular farão a torcida transformar o Maracanã numa panela de pressão que pode mudar o futuro de mais um técnico português no Rubro-Negro.
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