Pedro Cerize: Genialidade vs persistência
💥️Por Pedro Cerize, da Newsletter Gritty Investor da Inversa
Sou o filho mais velho de sete irmãos. Antes de mim, minha mãe perdeu dois bebês na gravidez e isso criou nela o medo de não poder ter filhos. Um dia, ela recebeu um bilhete de uma prima dizendo que ela já estava grávida e que a criança que iria nascer seria muito especial.
Ela acreditou piamente na história e, com a confirmação da gravidez e o sucesso na gestação, a convicção dela só aumentou.
Isso seria apenas uma curiosidade se ela guardasse a história para ela. Mas eu cresci ouvindo-a contar essa história para as outras pessoas. As crianças acreditam nos pais e eu sempre acreditei que estava destinado a grandes feitos, que eu era especial.
Isso fez maravilhas para minha autoconfiança.
Olhando em retrospectiva, sou um sobrevivente das loucuras que fiz na adolescência. No interior, era comum adolescente dirigir. Nunca me passou pela cabeça a hipótese de morrer em um acidente. Eu acreditava que estava destinado a algo maior e que não iria morrer jovem e, por isso, quase morri várias vezes.
Sempre tive notas boas estudando o mínimo necessário. Após me formar, comecei a trabalhar em uma corretora onde ninguém fazia análise de empresas. Pelo fato de ser o único ali fazendo, eu acreditei que eu era único no mercado. Eu achava que sabia mais do que todo mundo.
Operando no limite da alavancagem em um mercado de alta, confundi sorte com genialidade e bastou uma pequena crise (México, 1995) para que eu perdesse tudo.
Aquilo foi meu primeiro grande choque. Foi ali que eu percebi que “talvez” eu não fosse tão esperto assim.
Essa perda, e muitas outras ao longo de minha carreira, além de um período no divã, acabaram com minhas ilusões de grandiosidade.
Percebi que o meu sucesso até então não era fruto da genialidade, mas da persistência.
Pelo fato de acreditar em um futuro “especial”, os tombos não foram suficientes pra me fazer desistir. Os esportes deendurance só reforçaram em mim essa convicção.
Só tem sucesso quem persiste, se prepara e nunca desiste.
Cresci assistindo aos Trapalhões e hoje entendo porque gostei tanto na época de um episódio em que, apesar de apanhar muito, Didi não desistia de chamar um valentão de Piolho. Eu me identifiquei com o personagem (link para o vídeo no YouTube: http://bit.ly/2rfVQbr).
Por isso, hoje me sinto extremamente desconfortável quando alguém, mesmo que tentando agradar, se dirige a mim com termos do tipo “mestre” ou “gênio”.
É uma situação em que não é possível desmentir o interlocutor sem parecer um falso modesto ou não desmentir e aceitar ser colocado em uma posição que você não merece.
E, intimamente, eu sinto medo quando, por alguma razão, volta em mim aquele sentimento de ser “especial”. Esse sentimento sempre vem antes de um grande erro.
Lembre-se sempre disso: quando você estiver confiante demais nas suas habilidades no mercado, você está muito próximo de cometer um erro grave.
Se você quiser entender o que realmente se passa na cabeça de um gênio, leia: “O senhor está brincando, Sr. Feynman!”;Richard P. Feynman, Editora Elsevier; Rio de Janeiro; 2006. Prêmio Nobel de Física em 1965, Feynman era o mais jovem físico a participar do Projeto Manhattan.
Nesse livro, ele dá pistas – de forma agradável de ler e sem pedantismo – de como funcionam essas mentes realmente brilhantes.
Foi o livro que mais me marcou em 2018, principalmente no que diz respeito à importância de simplificar ao máximo os conceitos complexos, a ponto de ser possível explicá-los a um leigo. Este é o meu grande desafio ao escrever.
E é dele que vou pedir emprestado as quatro estratégias para aumentar nossa produtividade.
Este ano, durante o 1+100, tive uma experiência realmente enriquecedora. Através das perguntas diárias dos participantes ficou claro para mim que o grande desafio do investidor individual está dividido em dois aspectos principais: vieses cognitivos e dispersão de foco.
As pessoas querem aprender e operar instrumentos complexos muito antes de dominarem os conceitos básicos e, a meu ver, muito mais relevantes. Com isso, o processo de aprendizado é longo e muitas vezes pouco produtivo.
As quatro estratégias de produtividade de Feynman:
1- Pare de tentar saber tudo.
Um grande investidor um dia me disse: Pedro, você só vai ganhar dinheiro o dia que parar de tentar ganhar dinheiro em tudo.
2- Não se preocupe sobre o que os outros estão pensando.
Pensamento independente é extremamente raro e valioso no mundo dos investidores. Muitas vezes o analista para de olhar o que é a realidade e passa a analisar somente o que o mercado vai achar que é a realidade.
3- Não pense sobre o que você quer ser, mas sobre o que você quer fazer.
Não comece a investir sonhando com como vai ser viver uma vida de milionário. Pense em como vai ser o seu dia a dia como investidor. Como vai ser desafiador e prazeroso o processo de investir com sabedoria. Quando isso acontecer, se tornar milionário vai ser uma consequência.
4- Tenha senso de humor e fale honestamente.
Não é vergonha errar. Aprender a rir de nossos erros e falar honestamente sobre eles nos tornam investidores melhores. Mas, principalmente, nos tornam pessoas mais agradáveis.
Lendo essas estratégias simples não deixo de imaginar o que deve se passar na cabeça de um gênio desse calibre. Uma mente capaz de desenvolver teorias inéditas de eletrodinâmica quântica e, ao mesmo tempo, ter a clareza de pensamento para produzir ensinamentos tão básicos e aplicáveis em todos aspectos de nossa vida.
Uma pessoa que no leito de morte brinca: “Eu odiaria morrer duas vezes. É tão tedioso”.
Contei a vocês minha história de que persistência é a característica mais importante do investidor.
Mas você não precisa perder tudo e se reerguer para provar o seu valor. Aprenda com os erros dos outros. Eu odiaria ficar pobre três vezes. É tão tedioso.
O que você está lendo é [Pedro Cerize: Genialidade vs persistência].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
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