Não estamos aptos para deduzir o que vai acontecer, diz político europeu no Brasil
Aconteceu nesta última quinta-feira (29) a conferência intitulada “Democracias turbulentas e seus impactos no sistema internacional”, presidida pela Fundação FHC, em parceria com o German Marshall Fund of the United States. O debate, que discutiu sobre as mudanças no cenário político internacional e os possíveis riscos a serem enfrentados pelas democracias representativas, contou com a presença do copresidente do Conselho Europeu de Relações Exteriores, Carl Bildt, do embaixador norte-americano Thomas A. Shannon e do ex-presidente da República do Brasil Fernando Henrique Cardoso.
Bildt e Shannon ressaltaram as transformações democráticas que vêm ocorrendo em diversas partes do mundo, abordando temas como imigração, relações comerciais entre países, crescimento populacional e a crescente adesão às políticas de identidade.
De acordo com Shannon, quatro mudanças principais que caracterizam o mundo atual: o crescimento do indivíduo por parte da classe média, as mudanças demográficas, o conflito comercial entre China e Estados Unidos e a procura por novas maneiras de lidar com a distribuição e o consumo de alimento e água. Essas mudanças, destacou o embaixador, não são meramente políticas. “Elas vêm sendo conduzidas por uma série de fenômenos: globalização, tecnologia, a forma como os indivíduos entendem a si mesmos, o acesso à saúde, o status social, mas principalmente pelo modo como sistemas políticos se comportam. Política sempre traz consigo mudanças econômicas e sociais”.
Para Bildt, três mega tendências marcam o tempo presente. A primeira diz respeito à economia global, em especial às trocas comerciais e aos conflitos decorrentes disso. “Inesperadamente, nós nos encontramos discutindo sobre comércio, taxas, barreiras e guerras comerciais. Sem ser muito pessimista, já estivemos nessa situação antes. Nós vemos com frequência na história mundial que a guerra comercial pode facilmente trazer problemas que podem gerar outros problemas pela frente”, comentou.
O copresidente do Conselho Europeu de Relações Exteriores também se atentou ao aumento do poder das políticas de identidade e ao decréscimo das políticas ideológicas, assim como ao papel da era da indústria e suas consequências não só para os dias atuais, como também para o futuro. Todas as reações provindas dessas tendências, de acordo com Bildt, geram instabilidade e incerteza.
“Normalmente, temos previsões sobre os próximos vinte ou vinte e cinco anos. Agora, pela primeira vez, eles [a Comunidade de Inteligência dos Estados Unidos] dizem ser muito difícil. Há muitas coisas mudando. Não sabemos realmente. Então eles dizem: ‘Estamos preparados para falar duas coisas sobre os próximos cinco anos’. Mas como será depois disso? Estamos menos aptos em tentar deduzir isso do que estando em anos anteriores”. E concluiu: “Não sabemos como será, mas temos razões para pensar sobre isso”.
Fernando Henrique Cardoso teve a palavra final no debate. O ex-presidente discursou sobre as disputas de poder e disse que, no momento, é crucial entender o que vem acontecendo com a China, os Estados Unidos e a Europa, vistas como possíveis novas lideranças internacionais. Ainda assim, questionou: “A nova liderança do mundo será capaz de entender e propor um modelo para unir todos os diferentes aspectos, todos os diferentes interesses que existem? Não temos certeza. Nós nunca estamos certos”.
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