Moedas emergentes em 2023: Quem são? Onde vivem? O que comem? Quanto desvalorizam? E por quê?
💥️Por Fernanda Consorte, Estrategista de Câmbio da Ourinvest
Esse ano não foi fácil para os mercados emergentes. Mas antes de discorrer sobre os dissabores desses países, gostaria de dividir o que torna um país emergente: os países emergentes ou “em desenvolvimento” são assim classificados de acordo com a renda per capita dos seus habitantes, padrão de vida entre baixo e médio, e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) variando entre médio e elevado, mas com condições de melhorar seus índices em uma ou duas décadas. Além disso, um país emergente se destaca no crescimento de um setor específico da economia.
Assim, isso o tornaria interessante para investimento estrangeiro. Igualmente se avalia o tamanho do mercado interno do país em questão – maiores chances de expansão de consumo interno.
Dito isso, 2018 foi um ano marcado por aumento na taxa de juros dos países desenvolvidos – leia-se EUA. Motivo que, por si só, já gera uma reversão de fluxo de capital para países mais seguros – o chamado “fly to quality”, tirando a liquidez de países menos seguros, como os emergentes; e, portanto, causa desvalorização da moeda – que o diga a Argentina, que sofre com problemas de financiamento externo, e foi um dos gatilhos do enfraquecimento da moeda portenha e de seus pares (ler mais no relatório
E se em vez de feijoada com samba, tiver empanada com tango? Ao longo de 2018 foram-se agravando as questões comerciais-políticas entre EUA e China, causando expectativa de desaceleração econômica no gigante chinês e contaminando, portanto, todos os outros mercados emergentes. E, mais recentemente, adiciona-se a esse cenário nada auspicioso para os já fragilizados países emergentes, uma sensação geral de aversão ao risco global, com fortes revisões para baixo da expectativa de crescimento mundial, afetando o fluxo cambial.
Além disso, tivemos questões locais importantes como a greve dos caminhoneiros no Brasil, que forçou uma brutal intervenção do Banco Central nos mercados locais, entre maio e junho. Cito também as tensões enfrentadas pela Turquia em agosto, devido às preocupações com a influência do presidente Tayyip Erdogan sobre a economia, suas repetidas solicitações por taxas de juros mais baixas e o agravamento dos laços com os Estados Unidos.
Está bom ou quer mais? A combinação desses fatores explica as fortes desvalorizações enfrentadas pelas moedas de emergentes em 2018 (até 11/dez). Destacamos as 3 maiores desvalorizações:
& Argentina teve a maior desvalorização do ano (102,4%), com as maiores altas nos meses de maio e junho, quando iniciou a percepção mundial de instabilidade global (guerra comercial, problemas de financiamento externo na Argentina e na Turquia, e paralisação dos caminhoneiros no Brasil), e em agosto e setembro, períodos em que a crise Argentina ficou mais evidente. (A Argentina tem IDH de 0,825, ocupando o 47º lugar entre 189 países.)
& O segundo lugar fica para a Turquia (+41%), que, junto com os outros emergentes, mostrou desvalorização da moeda em maio e uma forte depreciação em agosto, quando houve a eclosão da crise local e tensão com os EUA. Contudo, vale mencionar que, dos emergentes com maior liquidez, este tem sido o único com valorização da moeda desde então — por exemplo, desde agosto, a lira turca já valorizou 18%. (A Turquia tem IDH de 0,791, ocupando o 64º lugar entre 189 países.)
& Nós pegamos a medalha de bronze, com uma desvalorização de 18% no ano, até 11/dez. A nossa colocação deveu-se exclusivamente às causas mencionadas acima, ou seja, fundamentos externos com uma pitada da greve dos caminhoneiros, mesmo o Brasil tendo passado por uma eleição bastante desgastante. Acontece que a desvalorização de 8% que abateu o real no início da campanha eleitoral (movimento comum durante eleições) foi devolvida em outubro com a lua-de-mel entre mercado financeiro e o presidente eleito, Jair Bolsonaro. (O Brasil tem IDH de 0,759, ocupando o 79º lugar entre 189 países.)
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