Gabriel Casonato: Dez anos depois, o novo alerta do Dr. Doom
💥️Por Gabriel Casonato, Editor da Agora Brasil
Caro leitor,
Quem está no mercado há mais tempo provavelmente já ouviu falar em Nouriel Roubini.
Famoso por ser o primeiro a chamar a atenção para a crise do subprime, quase dois anos antes dela estourar…
O economista e professor da Universidade de Nova York se notabilizou justamente por suas previsões catastróficas.
Apelidado de Dr. Doom, acabou virando referência em debates sobre a economia global, em especial a americana.
Hoje, passados dez anos do colapso que levou a maior economia do planeta a mergulhar em uma profunda recessão, Noubini faz um novo alerta.
Ele tem a ver com muito do que temos falado aqui nas últimas semanas…
Claro que com uma dose muito maior de pessimismo, caso contrário não seria o “Dr. Desgraça” falando.
O aviso veio na forma de um artigo escrito há cerca de três meses em conjunto com seu sócio, o economista italiano Brunello Rosa.
Não teve tanta repercussão na época pois o sentimento dos investidores, de um modo geral, ainda era bastante positivo.
Mas de lá para cá o cenário mudou, com sucessivos sinais de desaceleração da economia global e um bear market como há muito não se via em Wall Street.
O que, segundo Roubini, pode ser o início de algo muito maior. E pior…
Em setembro, ele escreveu que, embora a economia global estivesse passando por um período sustentado de crescimento sincronizado…
Ela inevitavelmente perderia força à medida que as políticas fiscais insustentáveis nos Estados Unidos começassem a desaparecer.
Isso, como sabemos, já está acontecendo…
O problema é o que pode vir depois, de acordo com a previsão do Dr. Doom.
Para ele, 2023 pode ser o ano da próxima crise financeira mundial…
Mas ao contrário de 2008, os governos não terão as ferramentas políticas para gerenciá-la.
Você pode estar pensando em desistir de prosseguir a leitura por conta do caráter demasiadamente pessimista do texto de hoje.
O investidor sensato e diligente, no entanto, sempre tem um tempo também para aquilo que ele não gostaria de ouvir.
Sendo assim, existem dez razões que fazem Roubini e Rosa apostarem no pior…
Em primeiro lugar, afirmam que as políticas de estímulo fiscal que ainda impulsionam a atividade dos EUA são insustentáveis.
Para eles, até 2023 este estímulo se esgotará, e um modesto arrastão fiscal puxará o crescimento dos atuais 3 por cento para um pouco abaixo de 2.
Em segundo lugar, porque o estímulo foi mal cronometrado, a economia americana está agora superaquecida, com a inflação subindo acima da meta.
O Federal Reserve continuará assim a subir os juros para pelo menos 3,50 por cento até 2023…
O que provavelmente aumentará as taxas de juros de curto e longo prazo, bem como o dólar frente às demais moedas.
Além disso, é bem provável que outros bancos centrais sigam o Fed em direção à normalização da política monetária, o que reduzirá a liquidez global.
Terceiro, as disputas comerciais do governo Trump com a China e outros países devem aumentar, levando a um crescimento mais lento e a uma inflação mais alta.
Quarto, outras políticas dos EUA continuarão a adicionar pressão estagflacionária, podendo levar o Fed a elevar ainda mais as taxas de juros.
Dentre elas, o governo americano está restringindo o investimento interno e externo e as transferências de tecnologia, o que interromperá as cadeias de suprimento.
Está restringindo também os imigrantes, que são necessários para manter o crescimento à medida que a população nativa envelhece…
Além de desencorajar investimentos na economia verde, e de não possuir política de infraestrutura para lidar com gargalos no lado da oferta.
Em quinto lugar, o crescimento no resto do mundo desacelerará mais ainda na medida em que outros países acharem adequado retaliar o protecionismo americano.
A China deve desacelerar seu crescimento para lidar com excesso de capacidade e alavancagem excessiva; caso contrário, um pouso forçado será acionado.
E os mercados emergentes, já frágeis, continuarão a sentir o aperto das barreiras tarifárias e das condições monetárias nos EUA.
Em sexto, políticas populistas em países como a Itália podem causar uma dinâmica de dívida insustentável dentro da zona do euro, levando outras nações a deixar o bloco.
Sétimo, boa parte dos ativos globais está com valuations exageradamente esticados.
Os índices de Preço sobre Lucro em Wall Street, por exemplo, estão 50 por cento acima da média histórica.
Além disso, a alavancagem em muitas economias emergentes e algumas avançadas é claramente excessiva, com imóveis caros demais na maior parte do mundo.
Sendo assim, a correção nos mercados de ações, commodities e renda fixa continuará à medida que as nuvens da tempestade forem se reunindo.
Em oitavo lugar, uma vez que a correção nos mercados seja mantida, o risco de falta de liquidez no mundo se tornará mais severo.
Principalmente porque, em um eventual risk-off num cenário de maior inflação e taxas de juros mais altas…
Os principais bancos centrais do mundo não teriam mais capacidade de socorrer os países em apuros, como vinha sendo feito nos anos pós-crise.
Em nono lugar, Roubini e Rosa elucubram sobre como Trump irá se comportar em 2023, quando os EUA estarão muito perto da recessão e as perdas de emprego surgirão.
Será ano eleitoral no país, de modo que a tentação do presidente em fabricar uma crise de política externa para desviar o foco será alta.
Como ele já iniciou uma guerra comercial com a China e não ousaria atacar a Coréia do Norte com armas nucleares, seu último alvo seria o Irã…
Provocar um confronto militar com um dos maiores produtores de petróleo do planeta tornaria ainda mais grave a recessão global que se aproxima.
Finalmente, uma vez que a tempestade perfeita descrita acima ocorra, as ferramentas políticas para lidar com isso serão insuficientes – para não dizer inúteis.
Especificamente nos EUA, os legisladores restringiram a capacidade do Fed de fornecer liquidez a instituições financeiras não bancárias e estrangeiras com passivos denominados em dólar.
E na Europa, a ascensão de partidos populistas está dificultando a implementação de reformas no nível da UE e a criação das instituições necessárias para combater a próxima crise financeira e a recessão.
Ao contrário de 2008, quando os governos tinham as ferramentas políticas necessárias para evitar uma queda livre…
Os formuladores de políticas que devem enfrentar a próxima crise terão suas mãos atadas, enquanto os níveis gerais da dívida estão mais altos do que durante a crise anterior.
Quando chegar, a próxima crise e recessão pode ser ainda mais grave e prolongada do que a última.
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