Marink Martins: perspectivas para as ações da Vale
💥️Por Marink Martins, do blog MyVol e autor da newsletter Global Pass
Não vou aqui entrar em questões de ética e moral no que diz respeito ao ocorrido. Isso eu deixo para o meu perfil no facebook.
Quero aqui especular a respeito do comportamento do preço das ações da empresa diante de um evento reincidente, como este ocorrido em Brumadinho, três anos após um outro, aparentemente semelhante, ocorrido em Mariana, MG.
💥️Justiça mineira bloqueia R$ 5 bilhões da Vale
Observe que nestas horas é importante fazer uma análise comparativa com eventos globais para que não fiquemos sujeitos a sentimentos demasiadamente humanos como aqueles associados ao desejo de uma reversão à média.
Tem gente que não pode ver uma ação caindo mais do que 10% que já passa a considerar o ativo uma pechincha!
Por isso, busco através desta análise mostrar a reação dos mercados em dois eventos que tiveram ampla cobertura da mídia internacional. Em ambos os casos, as empresas foram acusadas de negligência. No primeiro caso, o da VW, ocorreu um caso de fraude.
💥️✅Volkswagen & manipulação da injeção eletrônica de carros a diesel nos EUA. (Setembro de 2015)
No gráfico acima temos o comportamento das ações da VW (linha azul escura) junto com o mesmo para as ações da BMW (linha azul claro). Observe que em setembro de 2015, quando o evento veio a tona, o preço das ações da VW caiu aproximadamente 30%.
O caso da VW foi um caso de manipulação; um caso de fraude. Os consumidores se sentiram lesados e a empresa vem sendo punida severamente por sua negligência. Estima-se que o custo total supere o patamar de US$35 bi, ou um pouco menos do que metade de sua capitalização de mercado.
💥️✅British Petroleum & Explosão da plataforma Deep-Water Horizon no campo de Macondo, próximo ao estado da Louisiana, EUA.
Aqui temos um dos escândalos de maior notoriedade da história. O mundo parou para assistir o estrago provocado pelo vazamento resultante da explosão da já mencionada plataforma.
No gráfico acima temos o preço das ações da BP (linha azul) em comparação com o índice de Oil & Services da Philadelphia (OSX). A ideia aqui é ajudar a discernir o quanto da queda no preço da ação da BP foi provocada pelo acidente. Observe que em 2010, o setor petrolífero performou bem, enquanto as ações da BP foram duramente punidas.
O custo para a BP e para a operadora da plataforma, Transocean, foi elevadíssimo. Especula-se que custo total para a BP ficou na casa de US$65 bi, ou quase a metade de seu valor de mercado.
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Embora seja necessário mais informações para entendermos melhor a dimensão do acidente em Brumadinho, aquele que detém ações da Vale em carteira precisa tomar uma decisão importante na segunda-feira. Ficar comprado e esperar a poeira baixar como o ocorreu no caso do acidente de Mariana? Ou correr e se desfazer rapidamente deste ativo? Eis aí uma dúvida cruel!
A decisão naturalmente envolve diversos fatores; dentre eles, o horizonte de tempo de investimento em questão. Uns dirão que o preço de abertura é o dado mais relevante. Eu, particularmente, já acho que o preço não deve ter tanto peso assim, assumindo que a queda inicial esteja entre (5 e 20%).
Julgo que quem está com o papel por razões especulativas de curto prazo deva se desfazer o mais rápido possível e arcar com o prejuízo. Não se torne um torcedor. Encerre a operação. Outras oportunidades surgirão.
Já quem carrega as ações da Vale com um viés de long prazo deve levar em consideração que a empresa está (ou estava) para entrar em um longo ciclo de distribuição de dividendos. Sabe-se que a economia chinesa está em desaceleração e que as perspectivas de crescimento da produção não são tão boas como em outrora. Mesmo assim, as ações da Vale se mantinham atraentes pelas perspectivas de um excelente “dividend yield”.
E agora? Será que a multa a ser imposta pelo governo de MG irá afetar o fluxo de caixa de forma significativa a provocar uma mudança de rumo?
Isso eu não sei. Mas a minha intuição me diz que vai ficar muito mal para seus gestores e principais acionistas (Bradesco, Mitsui) caso a empresa considere a distribuição de dividendos em um ano que será marcado pela perda de diversas vidas.
Sendo assim, ao avaliar o grau de atratividade das ações da empresa, considere que a empresa vem negociado com uma relação de Preço/Lucro de 14,5x (2018) e de 8,1x quando considerado o lucro projetado para 2023.
Tais múltiplos quando comparados com as médias históricas e com os múltiplos de concorrentes como BHP e Rio Tinto não representam uma pechincha.
Em tempos de crise é concebível ter as ações da Vale negociando a um múltiplo inferior a 6x o lucro projetado para este ano. Tal múltiplo representa um preço de 6 x US$1,65 ou US$9,9 por ADR, ou aproximadamente R$37,00 utilizando um câmbio de 3,75. Isso representaria uma queda de 35% & algo que neste momento pode até parecer uma aberração, mas que julgo que deva ser considerado.
Não estou aqui torcendo contra a Vale, mas sim desenhando cenários com o intuito de ajudar o assinante a tomar uma decisão na segunda-feira.
A grande questão é a seguinte: será que este é mais um evento em que o regulador aplica uma multa e a empresa simplesmente provisiona, parcela, e vida que segue…? Ou será que a reincidência irá provocar uma mudança estrutural na forma de atuação da empresa?
A crise de 2008 trouxe diversos efeitos danosos aos bancos envolvidos do ponto de vista regulatório. Observe que diversas instituições famosas como o Citigroup e o Goldman Sachs hoje tem suas ações sendo negociadas a um múltiplo de valor patrimonial tangível que, além de ser bem inferior a média histórica, é inferior a de bancos como Itaú e Bradesco.
Por tudo isso, CAVEAT EMPTOR (Cuidado Comprador!)
Marink Martins
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