Sidnei Nehme: Apreciação do “dólar vs real” não tem sustentabilidade
Temos salientado que o contexto atual é binário, ou dá tudo certo ou dá tudo errado
💥️Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
No nosso entender ocorre no momento uma mixagem confusa e difusa de fatos e ilações que resultam em improcedentes fundamentos, que “acreditados” estrategicamente pela propagação como efetivos e verdadeiros se prestam a justificar movimentos atípicos no comportamento do preço do dólar no mercado de câmbio brasileiro.
Se observarmos o comportamento das moedas latino americanas na última sexta feira, vemos que países em linha com o Brasil e até sem a nossa expressão tiveram valorização das suas moedas, e isto demonstra a irracionalidade e insustentabilidade da apreciação verificada do preço do dólar frente ao real nos últimos dias.
Há uma destemperada propagação do caos como perspectiva sobre a Reforma da Previdência, mas para tanto não há absolutamente fundamentos, visto que o governo, no tempo certo, apresentou abrangente proposta da Reforma da Previdência, objetivo maior e imediato para o restabelecimento da ordem nas finanças do país e, ponto central para o destravamento das atividades econômicas e a retomada do direcionamento ao desenvolvimento.
Temos salientado que o contexto atual é binário, ou dá tudo certo ou dá tudo errado, mas não há como se formular perspectiva sustentável neste momento, embora haja um viés de otimismo, porém não se conhece efetivamente a postura do novo Congresso Nacional, onde deverão ocorrer os embates e debates em torno da matéria, e, se questiona muito sobre a capacidade de articulação política do novo governo.
Naturalmente é inquietante o tempo previsto para a definição final em torno da matéria, estima-se que para o 2º semestre, visto que o país tem pressa e a morosidade tem seus impactos negativos.
Em nossa visão, como o país tem uma posição em contas externas e déficit em transações correntes confortável, soberbamente melhor que os demais países latino americanos, não há por que ocorrer especulação sobre o preço da moeda americana no nosso mercado, visto que há liquidez suficiente que o BC poderá suprir com seus instrumentos clássicos ancorados nas reservas cambiais e, por outro lado, não há fuga de capitais estrangeiros do país.
Então, o que acontece é pura especulação no mercado de dólar futuro orquestrada pelos investidores estrangeiros e fundos, extremamente ancoradas na propagação de inúmeros vetores não sustentáveis neste momento e com grande intensidade de ilações, que disseminadas passam a ter caráter de verdades, e assim criam os movimentos atípicos.
Os estrangeiros já agiram assim num passado recente e não lograram sucesso, tendo o preço da moeda americana atingido R$ 4,20 mas longe dos R$ 5,00 que eram prognosticados. Perderam. Posteriormente mudaram as apostas para a Bovespa formando posições adversas a sua tendência de alta, recentemente passaram a diminuir suas apostas e agora focam o dólar frente ao real.
A formação de preços no mercado futuro de dólar, que na realidade tem intensa influência sobre o mercado à vista, neste momento opera não com a sensatez recomendada para o contexto atual, mas comporta-se como um “verdadeiro cassino”, já que não há fundamentos concretos que lastreiem os movimentos.
Ocorre uma intencional mixagem de fatores em torno do governo atual, que na maioria das vezes não tem a menor sinergia entre si, que são alavancados para o desgaste do mesmo, embora só tenha 60 dias, e que estão tornando oportuna propagação de movimento desestimulante ao otimismo predominante.
Adicionalmente, são agregados fatores externos de menor relevância neste momento para o país tornando-os expressivos e influentes por aqui e criando temores.
Há intencional estresse na análise dos fatos externos, como no embate entre USA-China, que se dá exponencial importância para o Brasil, quando na realidade é importantíssimo para a economia global, mas pontualmente para o Brasil pode acarretar perdas na área de exportação e ter reflexos na nossa balança comercial e, como consequência, elevar o nosso déficit em transações correntes.
Há os ruídos em torno do Brexit, em torno dos problemas da União Europeia, enfim o mundo global seccionado convive com problemas pontuais.
E o Brasil tem os seus conhecidos e transparentes nas medidas que o governo está intentando implementar, mas é importante destacar que a participação do Brasil no comércio exterior é de pouco mais de 1%.
Daí entender que tudo afeta o dólar no país é visão de especulador, que na realidade é insensato e subsiste da criação de visão imaginária de crises e assemelhados.
O Brasil, neste momento, deve ter foco efetivo nas suas questões “intestinas”, e para estas as medidas estão sendo implementadas e evitar que ruídos nefastos em torno do governo pelo primarismo, sejam agregados a parte pontual e séria que está sendo desenvolvida.
Separando o joio do trigo a especulação se fragiliza e não se torna sustentável, e o ambiente deve retomar a sensatez requerida no momento.
Como temos salientado, o comportamento do mercado de câmbio sugere estabilidade com preço do dólar em torno de R$ 3,70 a R$ 3,75, quase inelástico com discreta volatilidade e a Bovespa mantendo-se nas proximidades dos 100 mil pontos, provavelmente até o próximo mês de maio, quando já será possível uma visão mais concreta acerca do teor final da Reforma da Previdência.
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