Felipe Miranda: Pra que proteção?

Vamos um pouco diferente hoje. Antes da instituição Angela Bittencourt e de mim, Felipe, faço um convite para conhecer a Empiricus. Clicando neste link, você fará um tour virtual de cinco minutos pelo nosso escritório. É uma das nossas iniciativas no projeto “Transparência Radical – Empiricus de Portas Abertas”. Não tem nada de mais também. É só pra gente se conhecer mesmo. Não paga o ingresso.

Agora, retomamos a rota tradicional das quintas-feiras. Primeiro, a Angela; depois, eu.

💥️Estratégia Luiz Barsi: Veja a nova ação que entrou no radar

GUEDES PODERIA TER FEITO DIFERENTE?

Tem dias em que o estômago dói. Às vezes, porque cometemos excessos, outros porque decidimos levar a sério a dieta na quarta-feira porque a segunda já foi e feijoada é um prato (saborosíssimo) mas pesado. Você comete esses pecados? Não? Nem teve aborrecimento ou raiva maldigerida? Claro que já, tenha a profissão que tiver. Lembra que eu sou jornalista? Nesta minha profissão não se almoça todos os dias. Dois meses atrás, não deu outra. Corre para cá, corre para lá, e muito antes da hora já havia disputa por cadeira em frente à TV. E almoço? Nada!

Transmissão direta internacional… até quem votou contra embalou a contagem regressiva, tentando esconder uma ponta de orgulho. Plaquinhas de um azul profundo enfileiradas no fundo branco inspiravam a torcida (disfarçada ou não) pelo sucesso. Bolsonaro, Moro, Guedes, Araújo não davam margem à dúvida. O Brasil mudou.

Os ponteiros engoliram a precisão suíça e a hora marcada: 13, de Brasília.

E cadê o Brasil? O Brasil faltou!

A entrevista da comitiva liderada pelo presidente Jair Bolsonaro, que representava o Brasil no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, foi cancelada. Sem aviso prévio. Inicialmente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, falaria sozinho com a imprensa, e os jornalistas estrangeiros estavam muito interessados. Mas, em poucas horas, a entrevista de Guedes ganhou ares de convescote e miou. Era quarta-feira. Dois dias depois, na sexta, o feriado pelo aniversário de São Paulo paralisou a B3 e calou o mercado.

A lacuna aberta pelo Brasil na agenda do Fórum Mundial faria um estrago, pensei, mal começou o plantão. Comércio fechado, apelei à farmácia. A barra de cereal enganou o estômago. Voltei para a Redação. Lá, colegas atônitos apontavam a TV. Pensei que era reprise. Mas, não! O rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), seria fatal para centenas de pessoas. Na conversa com um gestor percebi que, na cabeça do investidor estrangeiro, a lama daquela tragédia poderia enterrar a frágil credibilidade de leis e acordos vigentes no Brasil.

Eu, como o Felipe Miranda, acredito que uma imagem vale por mil palavras. Na última terça, a ausência do ministro Paulo Guedes na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara, onde falaria sobre a reforma da Previdência, trouxe à lembrança a frustrada entrevista de Davos, a tragédia de Brumadinho e os compromissos assumidos por corporações e autoridades (públicas e privadas) para que um país siga em marcha.

E se Guedes tivesse falado na terça? Pode ser que o clima entre o Congresso e o governo estivesse em paz e amor e assim o Brasil estaria mais perto da reforma (e os preços dos ativos financeiros não estariam tão estressados). Nunca vamos saber…

Mas ficou evidente, 24 horas depois do bolo de Guedes na CCJ, que não haverá “DR” que alivie a tensão existente entre Congresso e governo, ao menos neste momento.

Explicada a ausência da terça, o ministro da Economia estará na CCJ da Câmara na próxima quarta-feira (3/4). Não pense você que o ministro deixará no seu gabinete a lembrança das ásperas declarações trocadas com os senadores, ontem, durante a audiência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Essa audiência, assim como a da CCJ, estava marcada desde a semana passada. E nela foi remoída uma crise, que se mostrou embrionária no fim de semana com alfinetadas disparadas entre o presidente Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre a “velha” e a “nova” política e práticas que o presidente condena e pontua, como troca de cargos por apoio parlamentar em questões caras ao país.

O tombo do Ibovespa de 4 por cento, a esticada do dólar acima de 3,96 reais e colando em 4 reais em compras e vendas que serão liquidadas daqui a um mês, além da arrancada das taxas de juros, atordoaram o início da noite de muita gente. Eu inclusive! E olha que eu nem tenho dívida em dólar e nem vou viajar para lugar nenhum…

Essa virada dos ativos financeiros, que pode ser agravada hoje, foi produzida por ruídos políticos elevados em muitos decibéis e desânimo com a perspectiva da reforma da Previdência, sem mudança de fundamentos.

Na volta para casa, lembrei da sabedoria da minha avó Ophelia que, em seus quase 100 anos, dizia que não havia certeza maior do que o tempo para apaziguar corações ou apagar rusgas. Ela dizia: “Nada como um dia depois do outro, com uma noite no meio”.

A reação violenta dos mercados financeiros ontem foi precedida de uma terça-feira de acontecimentos incomuns que ajudaram (em muito) a tornar a quarta-feira um inferno. Na terça, o presidente da República abriu sua agenda mais tarde, às 11h30, depois de acompanhar (cedinho) a primeira-dama na pré-estreia de um filme religioso num shopping em Brasília. Na terça à noite, numa votação relâmpago, em primeiro e segundo turno, a Câmara engessou 97 por cento do Orçamento.

Para atrapalhar o sono do presidente e de todo o governo, essa decisão, que ainda deve ser aprovada pelo Senado — e contraria tudo o que defende o ministro Paulo Guedes — obriga o governo a realizar todos os investimentos previstos no Orçamento e ainda dobra o montante de recursos destinados ao cumprimento de emendas obrigatórias pelos deputados.

Nesse clima de poucos amigos (ou nenhum), Paulo Guedes falou aos senadores ontem. Ouviu o que não quis e disse o que devia e o que não poderia.

Na audiência com senadores teve bate-boca, acusações, frases de efeito. Paulo Guedes avisou que o principal opositor do governo no Congresso é ele mesmo. A tentativa de conter exageros verbais do ministro minou o ambiente de vez na comissão do Senado.

Com paciência zero para (novamente) ter que convencer parlamentares da importância da reforma das aposentadorias, o ministro lembrou que pode ir embora se os seus serviços não interessarem a ninguém.

O trabalho de Paulo Guedes interessa, sim, aos brasileiros e ao presidente da República. Ainda que não exatamente nessa ordem, o ministro da Economia é o grande fiador do governo. E o ponto nevrálgico de tanta discussão entre governo e Congresso está em vaidades feridas e não no diagnóstico do que o Brasil precisa para sair do pântano em que sua economia foi parar.

Prefiro pensar que minha avó ensinou a coisa certa: que depois da quarta-feira vem a quinta, mas antes do Sol reinar tem uma noite inteira para “apaziguar corações ou apagar rusgas”.

Espero que todos tenham dormido em paz. O presidente, o ministro, deputados e senadores.

Nesta manhã, o Relatório Trimestral de Inflação, a primeira edição do governo Bolsonaro e o segundo documento do Banco Central assinado pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto, é avaliado por operadores e analistas. Dele não sairá, porém, poção mágica que venha a atenuar a crise instalada em Brasília. O dia promete e no foco estará, antes de mais nada, o Ibovespa, que chegou ao céu outro dia, ultrapassando os 100 mil pontos, e agora desce ao inferno. Hoje, 90 mil pontos é a linha d’água.  💥️Escrito por Angela Bittencourt

Outro dia, almocei com um grande gestor brasileiro. Entre a entrada e o prato principal, ele disse assim:

“Proteção para quê? Se eu não estiver convicto de uma determinada posição, eu monto pequeno.”

Em qualquer conversa, minha primeira motivação é sempre no sentido da concordância. É difícil encontrar gente mais chata do que aquela pessoa sempre pronta a discordar. Você nem terminou de falar e o camarada já rebate: “Ah, discordo”. “Você tem que ver também que…” “Você não considerou que…”

Até mesmo quando penso diferente, costumo começar a resposta com: “Concordo. Só talvez valesse a pena considerar também que…”

Nos encontros com gente mais rica e inteligente do que eu (só 99 por cento da população), fico ainda mais constrangido em discordar. Eu, que sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco e sem parentes importantes, procuro mesmo é aprender com essa gente. Entro (quase) mudo e saio (quase) calado. Ele é o bilionário; já eu estou apenas tentando comprar uma janta. E nesse nosso negócio, me desculpe, é “money talks, BS walks”. Se é certo ou errado, sei lá… É o que é.

Dessa vez, porém, eu não me contive. Com fome, meu mau humor é um perigo. Então, emendei:

“Mas e se der errado?”

Ao que ele respondeu:

“Ué, se der errado, deu errado.”

Havia uma certa ironia nessa frase, como se a pergunta anterior tivesse sido mal formulada. Como se a materialização a posteriori de um cenário distinto daquele pensado pelo gestor ex-ante condenasse necessariamente o fundo a uma performance ruim.

A comida estava boa e não queria torná-la indigesta, de tal modo que mandei só um “entendi” e perguntei se a vida estava muito corrida. Confesso que aquilo ficou na minha cabeça.

Aqui não quero estar certo ou errado. De novo: o bilionário é ele. Portanto, as chances maiores são mesmo de que, ao entrar numa discussão sobre finanças com o sujeito, o errado seja eu mesmo. Feliz ou infelizmente, ainda não encontrei, porém, uma forma de discordar de mim mesmo.

Minha visão é de que há um problema com a abordagem acima. Para mim, você precisa considerar a hipótese de que as coisas podem dar errado. Porque, sejamos sinceros aqui, muitas vezes elas dão errado. E você precisa estar preparado para essa possibilidade, não condenando a si mesmo (ou a seus cotistas) porque o cenário final não convergiu para aquele pensado a priori.

Também é preciso dizer que montar uma posição pequena é bem diferente de montar uma posição significativa com proteções/seguros contra ela. Essa conclusão, inclusive, pode ser encontrada mesmo nas abordagens mais ortodoxas e canonizadas da academia.

Sim, eu sei que as finanças pertencem aos praticantes e que Sextus Empiricus é contra os professores — confesso uma curiosidade infinita sobre as carteiras de investimento deles e dos comentaristas de mercado financeiro. Porém, também sei que os embates dialéticos na teoria econômica não foram definidos por superação positiva, mas, sim, pelo emprego das melhores regras de retórica, como muito bem demonstraram Pérsio Arida (aquele artigo é de tirar o fôlego!) e Deirdre McCloskey.

Então, vamos lá apelar para um instrumento de persuasão recorrendo a Harry Markowitz, prêmio Nobel de Economia, para tentar provar o ponto — uma das regras mais rasteiras numa discussão é recorrer a um argumento de autoridade, para tentar diminuir seu interlocutor. Nesses tempos, melhor explicar: estou sendo irônico; realmente acredito no que vou falar.

Markowitz provou como, a partir dos ganhos da diversificação (convivência num portfólio com ativos de correlação negativa), você pode reduzir o nível de risco de sua carteira, preservando um dado retorno potencial. Assim se forma a chamada Fronteira Eficiente (ou Ótima) de Markowitz. Em outras palavras, ter um portfólio diversificado e balanceado, com ativos que se movem em direções opostas, é melhor do que ter uma carteira concentrada, mesmo que as posições sejam menores.

Fora da argumentação clássica das chamadas Finanças Modernas, existe outro ponto importante. E confesso ser este o meu favorito: o argumento contra o uso das proteções e seguros, além de um pouco arrogante porque, no fundo, parte da premissa de que estar errado não é uma possibilidade concreta e ameaçadora a ser evitada, desconsidera o fato de que os ativos não têm retornos lineares. Alguns deles são convexos. Isso muda tudo. Insisto na sugestão de ver o vídeo de Mark Spitznagel no YouTube, simples e didático, de nome “The Paradox of Higher Returns with Lower Risk”.

Pegue o exemplo mais simples possível.

O investidor A compra 1.000 ações da empresa ABCD, pagando 10 reais por ação. Ou seja, gasto inicial de 10 mil reais. Ao mesmo tempo, ele compra 1.000 opções de venda com preço de exercício de 9 reais, pagando por cada opção 50 centavos. Ou seja, ele agora tem o direito de vender suas 1.000 ações por 9 reais. Total do gasto: 10,5 mil reais, certo?

O investidor B compra 300 ações da empresa ABCD pagando os mesmos 10 reais por ação. Total do gasto: 3 mil reais.

Agora suponha que ABCD quebrou. Suas ações passaram a valer zero. O investidor B perdeu 3 mil reais. Já o investidor A exerceu seu direito de vender suas ações a 9 reais, levantando com isso 9 mil reais — seu gasto total inicial fora de 10,5 mil reais, e ele obteve 9 mil reais ao exercer sua opção de venda; logo, seu prejuízo na operação foi de 1.500 reais.

Ou seja, o investidor A, mesmo tendo uma exposição maior à ação da falida ABCD, teve um prejuízo menor do que o investidor B.

O que eu quero mostrar com tudo isso?

Algumas coisas:

• O exemplo mostra como ter uma posição e um seguro contra ela é bem diferente do que simplesmente montar uma posição pequena.

• Como as opções, contrariando um fato estilizado superficial e errado, são, na essência, um instrumento de hedge e proteção; ou seja, se bem usadas e entendidas, são uma forma de reduzir (não de aumentar) o risco da carteira do investidor; e

• A necessidade de o investidor manter um portfólio diversificado e balanceado, com proteções e instrumentos de hedge que vão salvá-lo de momentos de stress e, muitas vezes, de si mesmo, porque, acredite, as coisas podem dar errado.

O último ponto é o mais importante. E não falo isso hoje de maneira oportunista, para aproveitar-me do momento adverso para, depois da obra feita, bancar de engenheiro sabido. Escrevo sobre isso quase todos os dias da minha vida: nada é mais importante ao investidor do que a diversificação e o uso de instrumentos de proteção.

Na Carteira Empiricus, por exemplo, usamos com frequência as puts (opções de venda) como ferramenta de hedge e defesa contra nossas próprias convicções.

Por mais otimista que eu esteja com o ciclo brasileiro (e, sim, eu continuo), sempre carrego lá, sob a brilhante ajuda do João Piccioni e do Fernando Ferrer (na verdade, eu que dou uma pequena ajuda pra eles, os verdadeiros comandantes da performance estelar da Carteira), umas puts (digitei errado um “a” a mais aqui perigosíssimo) fora do dinheiro. São elas inclusive que têm dado uma boa ajuda para o portfólio nesse último stress. Temos lá BOVAR82 e BOVAQ88, que sobem 233 por cento e 286 por cento desde o dia 19 de março, ajudando a proteger bem a Carteira.

Aqui preciso esclarecer o termo “proteger”. Não quero, com isso, dizer que o portfólio sugerido tenha passado incólume a todo esse selloff. Não é o caso, mas tem ajudado muito. Esse é o ponto. No meio da tempestade, você não quer estar pronto pra balada. Você precisa apenas sobreviver, chegar do outro lado.

Por isso é tão importante as proteções. Quando você mais precisa do dinheiro, na hora ruim, quando o mercado estiver em modo pânico, você terá algo à mão para tranquilizá-lo de que o retorno consolidado não vai ser tão negativo, porque os seguros serão acionados. A primeira coisa que o sujeito pensa quando bate o carro, supondo não haver ferimentos graves, é: eu tinha seguro? Se sim, estamos diante de outro nível de tranquilidade.

A Carteira Empiricus oferece mais de 200 por cento do CDI desde sua criação. Esse é o relatório que eu mais indico para as pessoas quando elas me perguntam o que assinar na Empiricus. Ela resolve sua vida, pois se trata de um guia completo para seu dinheiro. Quanto e como investir em cada classe de ativos? E qual ativo comprar em cada classe? As respostas estão ali.

Para que você possa acessar a Carteira numa condição especial e venha também participar do meu projeto “Transparência Radical — Empiricus de Portas Abertas” de maneira mais íntima, todos aqueles que assinarem a Carteira hoje ganham sete dias grátis de open house, ou seja, acesso a TODAS as assinaturas da Casa. E se você já tem o Carteira, tem a possibilidade de fazer sua assinatura Vitalícia e acessar TODOS nossos produtos por 30 dias.

Gostaria muito de sugerir que o comportamento recente sirva como exemplo material da necessidade imperiosa de se manter instrumentos de hedge e proteção na carteira. E, claro, o seguro precisa ser feito antes de bater o carro. Compre essas coisas na hora boa, justamente quando parecer desnecessário. É um exercício difícil emocionalmente, de ir contra si mesmo e desafiar a aparente tranquilidade, mas seu bolso não está nem aí para suas emoções.

O que você está lendo é [Felipe Miranda: Pra que proteção?].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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