Petrobras: A paridade de preços do diesel não funciona no Brasil (e a culpa não é do Bolsonaro)
O PPI funciona, mas aparentemente foi feito de forma descuidada (e continua assim)
Hoje é 14 de abril de 2023, um pouco menos de um ano após eu escrever aqui, neste mesmo espaço, sobre a crise causada pela greve dos caminhoneiros e acerca da decisão da 💥️Petrobras (💥️PETR3; 💥️PETR4) desistir, pela primeira vez, de seguir à risca a política chamada PPI – Paridade de Preços Internacionais.
E, observando o que se passou de lá para cá, nada mudou. Ok, você pode dizer que temos um novo governo que parecia “mais alinhado ao mercado”. Mas isso não tem absolutamente nada a ver sobre os reais motivos que impedem esta ideia de acompanhar os preços internacionais aqui no Brasil.
Para quem dormiu no ponto nos últimos dias, a estatal anunciou um reajuste do diesel de 5,7% na quinta-feira (11), mas voltou atrás um dia depois por um temor de nova parada generalizada nas estradas. As ações despencaram aproximadamente 8%.
Volto a afirmar: esta política de preços é muito justa! Mas por que ela funciona em todos os países não aqui? Qual é a diferença?
Como em tudo – é preciso olhar os detalhes – que nem são tão pequenos assim no nosso caso. O Brasil, vale lembrar, por ser uma economia muito isolada do mundo sempre vai possuir alguma especificidade, que não é igual ao resto do mundo. O PPI funciona, mas aparentemente foi feito de forma descuidada (e continua assim):
💥️A volatilidade do real é muito grande
O PPI funciona em outros países pois poucas moedas tem a mesma volatilidade do Real. Não é comum em grandes economias, mesmo subdesenvolvidas, terem variações de por exemplo -20% na moeda de uma forma tão frequente como no Brasil. Um dos motivos é o próprio isolamento da economia brasileira, mas isso é outra discussão.
Abaixo, você pode ver a variação implícita em moedas internacionais em um prazo de 52 semanas (1 ano). A volatilidade do real só é menor, basicamente, do que àquela vista pela Lira Turca, um país em extremo estresse financeiro.
Quando o PPI foi definido (2º semestre 2016), passávamos por uma volatilidade dos preços do petróleo (em dólar) e um real razoavelmente estável e até valorizando. Durante 2017 o real ficou extraordinariamente estável, e em níveis valorizados historicamente. Era só uma questão de tempo até o aumento da moeda.
Ou estavam contando com a sorte ou realmente ficaram temporariamente míopes em relação à variação da moeda. O fato é que um aumento de 20% na moeda, combinado com +10% ou 20% no petróleo traria efeitos combinados excessivos. Era só uma questão de tempo.
Agora a equação estourou mais uma vez. Só que a batata quente agora está nas mãos de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. A solução, contudo, também está nas mãos dos dois. A reforma da Previdência. com a consequente melhora das contas públicas, e uma maior abertura da economia seriam dois ótimos estabilizadores cambiais de longo prazo.
💥️A logística alternativa ainda não se desenvolveu
O mercado de combustíveis no Brasil há muito tempo já é liberado, inclusive para importação. Entretanto a 💥️Petrobras ainda é quase monopolista. Até antes do PPI a estatal conseguia controlar os preços, mesmo em um ambiente competitivo, “sufocando” os competidores. E fazendo dumping nas regiões onde competição e importação aparecesse. O resultado foi desestímulo à competição e consequentemente atrofia da logística de competição à Petrobras.
Qual empresário investiria em um porto de importação de combustível e dutos / bases de distribuição se a Petrobras pode controlar os preços? Inclusive agora o subsídio à Petrobrás mais uma vez está desestimulando a competição. Quem contratou um navio de diesel dias atrás para trazer para o Brasil vai precisar devolver ou mudar a rota da carga. Ao chegar aqui o diesel à preços internacionais, terá que competir com o diesel subsidiado da Petrobrás. Será mais um empresário frustrado e desincentivo à competição para a Petro.
💥️O PPI é puro, sem nenhum ajuste
Os países que aplicam o PPI reconhecem os riscos, e aplicam a política com pequenos ajustes. Mesmo que outros preços da economia também sigam naturalmente o PPI pelos seus importadores, em qualquer economia, o combustível é sempre mais sensível. Os consumidores acompanham seus preços na vírgula, compram semanalmente e o consideram como um indicador fundamental do seu bem-estar.
Nada foi feito para evitar esses riscos. Mesmo em países com PPI similares ao Brasil, os reguladores (seja equivalente à ANP ou CADE), tomaram medidas preventivas em relação ao possível aumento súbito de preços. Exemplos são, utilização dos estoques reguladores, hedge de moedas, publicação e publicidade de preços de todos os elos da cadeia para estimular competição e limitação / previsibilidade da frequência do aumento de preços. Lembrando que a limitação é necessária para o aumento pois essa é sempre feita de forma imediata – e a redução, sempre bem mais lenta (rocket feather effect).
A minha maior aposta é de que veremos no ano que vem, em um artigo muito parecido, mas com pequenos ajustes.
O que você está lendo é [Petrobras: A paridade de preços do diesel não funciona no Brasil (e a culpa não é do Bolsonaro)].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
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