Felipe Miranda: Quanto você deve ter em previdência?
O problema não está nas pessoas que não sabem. Mas, sim, naquelas que não sabem o suficiente. É Taleb, sempre ele.
Se o sujeito apenas não sabe, reconhece a própria ignorância e não espalha sua opinião por aí. Agora, se ele acha que sabe, olha, sai de baixo, porque provavelmente vem bomba. Não ter mapa é sempre melhor do que dispor de um mapa errado.
A audição das expressões “deixa comigo” ou “eu resolvo” é a melhor previsora de crises. Desabafo rápido: tenho calafrios ao ouvir o presidente afirmar estar “numa missão de Deus”; ora, se é assim, foram-lhe concedidos poderes absolutos, não é mesmo?
O aconselhamento financeiro no Brasil costuma ser um mapa errado. Pra mim, ele não somente não ajuda o investidor. É pior do que isso. Ele, em geral, tem efeito negativo, destruindo valor. Era melhor não ter.
Isso porque normalmente é feito por alguém sob claro conflito de interesses (delegamos nossas decisões pessoais à raposa no galinheiro), que não estudou finanças com profundidade e que não é um praticante — conselhos de finanças dados por quem sequer tem as próprias finanças em dia.
Precisava haver alguma coisa parecida com uma filosofia da ética no mercado financeiro, numa proposta de vida mais empática, em que os consultores, gerentes e agentes autônomos efetivamente se colocassem no lugar de seus clientes. Um dos maiores expoentes da filosofia da ética, Simone Weil, se tornou operária da Renault para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas. Você precisa viver aquilo que escreve. Ok, ok, talvez ela tenha exagerado e ficar sem um alimentação básica pode passar do ponto (ela faleceu em estado de desnutrição), mas há um espírito ali a servir de exemplo. Uma vida dedicada ao bom tratamento e à justiça com os outros.
Um dos nichos em que o aconselhamento ou mesmo a alocação patrimonial concreta são mais terríveis é o de previdência. Se o assunto surge numa roda de conversa de cinco pessoas, há ao menos um a prontamente se posicionar: “Previdência não presta”. Ou outro espertinho: “A maior parte dos fundos não bate o CDI nesse mercado”.
Gostaria de combater essa visão estereotipada e, mais do que isso, apresentar um argumento bastante simples para embasar a proposta de se ter algo em torno de 10 por cento de seu patrimônio em previdência.
Ah, sim, é verdade que a maior parte dos fundos de previdência não supera o CDI — só esqueceram de dizer que a maior parte de toda a indústria de fundos também não supera o benchmark. Você está certo. A coisa é um pouco pior no nicho de previdência. A distância para o CDI aqui é maior, temos ainda menos fundos superando essa referência do que a média consolidada de toda a indústria e existe uma alocação muito além do razoável em renda fixa. Verdade. Mas a média ser ruim não significa que não haja produtos e gestores excelentes. O ponto é saber escolher.
Os benefícios ligados à classe são substanciais e trazem impacto relevante no longo prazo. Só pra lembrar os mais gerais: não incidência do come-cotas, facilidade da migração entre fundos (somente os fundos de previdência gozam da prerrogativa da portabilidade; ou seja, se estiver insatisfeito com o gestor, o camarada pode apertar um botão e migrar na hora), menor alíquota de imposto de renda no longo prazo (10 por cento acima de dez anos), não aplicação de ITCMD, disponibilidade imediata para o sucessor e, no caso do VGBL, IR se aplica somente sobre a rentabilidade do valor de resgate.
Até aí, beleza, meio jargão. Mas eu queria falar um pouco mais da questão sucessória, porque por vezes não se dá a devida atenção a ela. O que, aliás, é bem compreensível. A difícil questão de Narciso encarar a própria finitude e efemeridade.
Podemos tentar jogar xadrez com a morte como faz o cavaleiro Jöns em “O Sétimo Selo”. Ou torcer para o amigo José Cordeiro estar certo, de modo a termos a morte da morte lá por 2045, quando encontraremos uma cura para o envelhecimento, que seria uma doença como outra qualquer. Ou tratar a questão com a ironia de Woody Allen: “Não tenho medo da morte, só não quero estar lá quando acontecer”. No meu mundo, porém, ao menos por enquanto, ainda parece que vamos acabar indo para o mesmo lugar, inexoravelmente.
Então, se temos alguma responsabilidade com nossos herdeiros, precisamos pensar a questão sucessória com diligência e pragmatismo. Imagino que você concorde comigo sobre isso. É — ou pretende ser — um bom pai, uma boa mãe, um bom cônjuge, o que for. Acumulou um patrimônio razoável e entende ter resolvido qualquer problema sucessório. Se você vier a faltar, terá deixado algo bacana.
Mas há uma questão curiosa aqui, até aparentemente paradoxal. Mesmo que você tenha deixado um patrimônio enorme, como acessá-lo? Para fazê-lo, precisaríamos pagar 4 por cento de ITCMD, mais alguma coisa entre 5 e 6 por cento de advogado e inventário. Só assim a herança é liberada.
Ou seja, quanto maior a bolada que for deixada, maior precisará ser o gasto para chegar até ele (cerca de 10 por cento do todo). Então, como a grana da previdência é liberada de maneira instantânea, diferentemente de todo o resto da burocracia, faz sentido que você deixe esses 10 por cento do patrimônio justamente num fundo de previdência. Essa é uma decisão estritamente racional e pragmática para quem tem reais preocupações com patrimônio e sucessão.
Definido o percentual de quanto, onde investir?
Não é à toa que trago o assunto de fundos de previdência justamente hoje. Minha sugestão nesse escopo é o Vitreo FoF SuperPrevidência e ele está prestes a fechar por conta de restrições de capacity. De acordo com informações do gestor, o fundo será fechado para novas captações com 1 bilhão de reais sob gestão, sendo que agora já dispõe de 950 milhões. A julgar pelo ritmo de captação, portanto, nos próximos dias já não mais será possível investir nesse veículo.
O FoF SuperPrevidência se baseia numa carteira idealizada pela Luciana Seabra, com os melhores gestores de previdência, em sua devida diversificação e balanceamento. Posteriormente à seleção da Lu, há uma segunda chancela da equipe da própria Vitreo, validando as ideias originais.
Ah, esclarecimento antecipado: se você for pedir portabilidade ou comentar com seu gerente ou assessor sobre o FoF da Vitreo, esteja preparado para ouvir que há um fundo de previdência com melhor performance do que o FoF. Óbvio que tem. Sempre vai ter. FoF é um fundo de fundos, ou seja, uma média ponderada do comportamento dos fundos selecionados, de tal forma que, mesmo dentro do FoF, vai sempre haver fundos com desempenho superior ao próprio FoF. Sempre vai haver alguém acima da média; afinal, é uma média. O nível de risco é completamente outro. Maçãs devem ser comparadas a maçãs; FoFs devem ser comparados a FoFs. Uma carteira de fundos é pensada para performance melhor no longo prazo; um fundo vai bem num período, vai mal em outro. Se você tem uma carteira diversificada, consegue reduzir dramaticamente seu risco sem abrir mão de retorno. Cuidado com janelas temporais selecionadas ex-post para forçar uma pseudovantagem do fundo vendido pelo banco ou pela corretora. E corretora falando mal da taxa do FoF sendo que seu próprio (o que seria o concorrente mais imediato) é mais caro também pega bem mal.
Por que será que essa turma está tão incomodada?
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