Cepea: Negócio da China?
O faturamento em dólar com as vendas aos chineses, no mesmo comparativo, cresceu 13% para a carne suína, expressivos 32% para a de frango, e 19% para a bovina (Imagem: Divulgação Governo Federal)
💥️Por Maristela Martins para o Cepea
Em 2023, a China, que há anos se destaca como importante parceira comercial do Brasil para carnes, ganhou ainda mais preponderância. Com a menor produção de produtos suinícolas no mercado local, devido aos casos de Peste Suína Africana (PSA), os chineses estão ampliando suas importações de proteína animal, e o Brasil, que é um dos maiores produtores e exportadores de carne, tem se beneficiado deste contexto.
Dados da Secex apontam que, de janeiro a maio de 2023, o volume de carne suína brasileira escoado para a China aumentou 12% se comparado àquele do mesmo período de 2018. Para as carnes de frango e bovina, as altas nas quantidades foram de respectivos 15% e 16%.
O faturamento em dólar com as vendas aos chineses, no mesmo comparativo, cresceu 13% para a carne suína, expressivos 32% para a de frango, e 19% para a bovina.
À medida que a China aumenta o volume comprado e o valor pago pelas carnes brasileiras, amplia-se também a relevância e a atratividade que esse destino tem para o escoamento da produção brasileira. Segundo dados da Secex, nos cinco primeiros meses deste ano, 25% da quantidade de carne suína exportada pelo Brasil teve como destino a China.
Para a carne bovina, esse percentual é de 18% e, para a de frango, 13%. Se considerados os embarques feitos a Hong Kong – dado que existe uma triangulação de comércio envolvendo a região, a China e o Brasil –, os percentuais sobem para 48% para a carne suína, 39% para a bovina e 17% para a de frango.
É evidente que, com as vendas concentradas no mercado asiático, o desempenho dos exportadores fica, em partes, condicionado ao mesmo. Dessa forma, o anúncio feito recentemente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sobre a suspensão temporária das exportações de carne bovina à China, devido à ocorrência de um caso atípico de “vaca louca” em Mato Grosso, acendeu um sinal de alerta ao setor.
A Rússia é um exemplo recente de como as exportações concentradas em um único destino podem ser prejudiciais quando o comércio entre o país importador e o exportador é suspenso face a algum evento sanitário ou político-econômico. Em novembro de 2017, o serviço veterinário e fitossanitário da Rússia anunciou a suspensão das importações de carnes suína e bovina oriundas do Brasil.
Na época, o mercado brasileiro ficou receoso, mas tinha a expectativa de que a situação seria rapidamente revertida, dada a forte relação existente entre os dois países. Em 2017, até novembro (último mês antes da suspensão começar a ser válida), a Rússia era o maior destino da carne suína brasileira, respondendo por 40% das exportações nacionais, e o terceiro maior destino de carne bovina, com participação de 11% nas vendas feitas pelo Brasil.
Além disso, os exportadores nacionais eram os responsáveis por grande parte do abastecimento do mercado russo. Em 2017, do total adquirido de carne bovina pela Rússia, 51% eram de origem brasileira; para a carne suína, esse percentual alcançava expressivos 91%.
Apesar de os dados indicarem que essa relação comercial tinha importância mútua para ambos os países, o embargo às carnes do Brasil durou quase um ano, surpreendendo agentes e gerando perdas significativas, principalmente aos suinocultores e às agroindústrias.
E, mesmo com a reabertura do mercado apenas no final de 2018, o volume importado pela Rússia diminuiu significativamente em relação ao que era antes do embargo.
Atualmente, a China figura como o principal destino das carnes suína e de frango e é a segunda maior importadora da carne bovina brasileira, pouco atrás, justamente, de Hong Kong. Quanto ao abastecimento do mercado chinês, dados de 2017 indicam que o Brasil era responsável por grande parte da disponibilidade de carne naquele país.
Naquele ano, do total de carne de frango importado pela China, 84% eram de origem brasileira; para a proteína bovina, esse percentual era de 30%; e para a suína, de 4,7%.
O contexto comercial envolvendo os chineses (problema de sanidade com o rebanho suinícola e as tensões comerciais com os Estados Unidos) é favorável para que o Brasil estreite relações com o país asiático.
Ainda que esses fatores sanitários e políticos tenham caráter temporário, a gigantesca população do país faz deste um mercado estratégico para as indústrias que exportam alimentos, tornando atrativo o estabelecimento de relações visando ao longo prazo.
No entanto, os agentes brasileiros devem atentar-se ao fato de as exportações, principalmente as de carne bovina e suína, estarem concentradas no mercado asiático. Quanto mais diversificadas as vendas, menores são as chances de o Brasil sofrer grandes impactos com diminuições/interrupções dos embarques para um único destino.
Além disso, o governo chinês anunciou recentemente que fomentará a produção de carnes no país, bem como que incentivará a recomposição dos rebanhos de suínos. Assim, à medida que a oferta local de carne for se normalizando, a tendência é que esse impulso nas exportações brasileiras, decorrente da Peste Suína Africana (PSA), se dissipe.
Dessa forma, é necessário o delineamento de estratégias para que o País mantenha uma relação comercial de longo prazo com a China e para que, ao mesmo tempo, seja ampliada a sua inserção em outros países.
Os negócios entre o Brasil e a China são, de fato, atrativos – e estão ainda mais atualmente –, mas a visão daqueles que atuam nas cadeias de carnes deve ser mais ampla, mirando na busca de um maior número de mercados consumidores.
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