Sidnei Nehme: O BC ofertaria dólar efetivo se o cupom cambial voltar a ficar pressionado?
Colunista faz análise sobre o mercado de câmbio diante das perspectivas atuais (Imagem: Money Times)
Os números do fluxo cambial da semana entre 24-28 trouxeram preocupação ao mercado e ao BC, e, foi um sinal que pode ter sido sinérgico à percepção de piora acerca das perspectivas para o 2º semestre, a partir das manifestações enfatizadas na Ata da mais recente reunião do COPOM e por manifestações subsequentes de membros do governo de que a tendência é de atividade estagnada, e esta ocorrência pode ter exercido decisões de detentores de passivos externos, causando forte pressão sobre o custo do cupom cambial que afetou fortemente o mercado à vista e a sua formação de preço.
Evidentemente, não há como reverter de imediato o eventual “desconforto” dos detentores de passivos externos ou que tenham aplicações no país e/ou estimular a atratividade para os indispensáveis investimentos do setor privado nacional e dos investidores estrangeiros, mas ficou o risco subjacente de que este quadro pudesse voltar a pressionar o custo do cupom cambial e dar sustentabilidade a movimento reversivo na taxa cambial que vinha em tendência de apreciação do real frente ao dólar.
A forma convencional do BC atuar tem sido a de ofertar contratos de swaps cambiais, o que não ocorre a já algum tempo limitando-se a autoridade a rolagem por ausência na demanda nova efetiva, porém este instrumento é clássico para oferta de “hedge” que impacta na taxa cambial formada no mercado futuro de dólar apreciando o real e irradia direta influência na taxa prevalecente no mercado à vista.
O que ocorreu recentemente, ante fluxo cambial insuficiente, o custo do cupom superou o “over Libor” e isto pressionou a taxa cambial do mercado à vista, num momento de baixa liquidez, o que levou o BC a ofertar linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, mas esta ação é atenuante e dá suporte aos bancos que já tem posições vendidas (a descoberto) de US$ 30,0 Bi, mas ocorre que há neste momento efetiva evidência de insuficiência de fluxo cambial positivo para o país e baixa perspectiva de que ocorra recuperação no curtíssimo prazo.
Esta ocorrência evidenciada acabou por dar sustentabilidade ao preço da moeda americana no nosso mercado no entorno de R$ 3,85 com volatilidade, quando o viés antecedente era consistente de depreciação frente ao real tendente a conduzir o preço ao entorno de R$ 3,75.
Então, o mercado, agora, assumiu a percepção de que o BC pode inovar sua atuação, face à carência de fluxo cambial, e desta forma se perceber que o custo do cupom cambial for pressionado ofertará moeda efetiva (dólar) ao mercado à vista, num movimento firme e pontual mitigando a pressão e dando um “tiro certeiro” na pressão e contendo eventual retomada da especulação.
Confirmada esta alternativa, seria uma nova dinâmica na conduta do BC, e que aumenta o arsenal de instrumentos operacionais para conter distorções na formação do preço da moeda americana, já que claramente não há posicionamento contrário das autoridades monetárias à venda ao mercado de efetivas moedas das reservas cambiais.
Nos últimos meses o BC “assistiu” o movimento especulativo que foi promovido a partir do mercado futuro de dólar, sem adotar qualquer atitude já que tinha a clara percepção de que não havia demanda efetiva de “hedge” acima da provida pelas rolagens, mas agora notou um ponto efetivo de estrangulamento no mercado, queda da liquidez no mercado à vista afetando o mercado de cupom e provocando atipicidade na formação do preço.
Com a possibilidade, por enquanto imaginada pelo mercado, o BC contingencia a expectativa de alta do preço da moeda americana, assim como desestimula que movimento especulativo venha a ser retomado.
O efeito a partir desta ainda percepção foi imediato, e a formação do preço da moeda americana repercutiu de forma abrupta assumindo o viés de depreciação frente ao real.
Este é um fato pontual, que ordena o mercado cambial, mas pode não ter qualquer efeito de estímulo aos investidores nacionais e estrangeiros face às repercussões das projeções pouco estimulantes para o 2º semestre.
Ao investidor nacional ou estrangeiro o fator determinante e motivador é a perspectiva da retomada da atividade econômica, e como já salientado pelos membros do governo, depende de investimentos privados, já que o poder público não tem condições de prover investimentos. Como já salientado as projeções para este ano e, em especial, o 2º semestre pelo próprio governo não são estimulantes a investimentos.
Também, a despeito da concomitância que pode supor sinergia, o movimento de apreciação do real, neste momento, frente ao dólar no nosso entendimento pouco tem a ver com a tramitação da Reforma da Previdência, que como salientamos anteriormente é considerado como fato dado, e sabidamente melhora a sufocante crise fiscal do país, mas não restabelece sua capacidade de investimentos públicos.
Este novo contexto, se procedente, mitiga o risco de retomada de especulação na formação do preço da moeda americana, e sustenta o viés de depreciação frente ao real.
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