Banco Central reduz a Selic para a mínima histórica de 6% ao ano

A nova taxa básica de juros foi decidida baseada em um cenário-base com indicadores recentes de atividade econômica apontando para um gradual processo de recuperação econômica (Imagem: Raphael Ribeiro/ BCB)

💥️Por ysoke.com

O Comitê de Política Monetária decidiu, sem unanimidade, a redução da Selic em 50 pontos-base na reunião de política monetária de dois dias encerrada nesta quarta-feira. A retomada de afrouxamento monetário coloca a Selic em seu patamar mais baixo da história, a 6,00%. A decisão não surpreende o mercado, que precificou os juros DI para um corte de quase 50 pontos-base.

O principal evento que proporciona ao colegiado à queda dos juros foi o avanço da tramitação da reforma da Previdência no início. Mesmo considerando risco relevante quanto à frustração de o texto não ser aprovado no prosseguimento da tramitação após o recesso parlamentar, com o corte o Copom sinaliza que amplo parlamentar com quase 380 deputados votando favoravelmente à matéria com uma economia fiscal estimada em R$ 900 bilhões em 10 anos contribui para o reequilíbrio das contas públicas.

O Copom, contudo, ressalva a importância da continuação da agenda de ajuste na economia brasileira para que a trajetória inflacionária continue favorável e os juros sigam caindo.

Além disso, a nova taxa básica de juros foi decidida baseada em um cenário-base com indicadores recentes de atividade econômica apontando para um gradual processo de recuperação econômica, após a interrupção ocorrida nos últimos trimestres. Apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro ter contraído, dados econômicos referentes ao segundo trimestre indicam um retorno à recuperação gradual da economia. Mesmo assim, o nível de ociosidade continua elevado e pode proporcionar a construção de expectativa de queda inflacionária.

Em relação ao cenário externo, o Copom novamente aborda um ambiente menos adverso com a perspectiva de afrouxamento monetário, já realizado hoje pelo Federal Reserve, que cortou em 25 pontos-base a taxa dos Fed Funds, a taxa referência da economia americana. Outros bancos centrais de países desenvolvidos e emergentes também começaram o seu processo de flexibilização monetária.

Por outro lado, a principal condicionante para os estímulos monetários são a desaceleração econômica global em curso, que se transforma em risco para impulsionar a alta da inflação.

💥️Confira o comunicado oficial do Banco Central: 

Em sua 224ª reunião, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 6,00% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

Indicadores recentes da atividade econômica sugerem possibilidade de retomada do processo de recuperação da economia brasileira. O cenário do Copom supõe que essa retomada ocorrerá em ritmo gradual;

O cenário externo mostra-se benigno, em decorrência das mudanças de política monetária nas principais economias. Entretanto, os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem;

O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;

As expectativas de inflação para 2023, 2023, 2023 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8%, 3,9%, 3,75% e 3,50%, respectivamente; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,6% para 2023 e 3,9% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2023 em 5,50% e permanece nesse patamar até o final de 2023. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2023 em R$/US$ 3,75 e 2023 em R$/US$ 3,80. No cenário com juros constantes a 6,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$/US$ 3,75*, as projeções situam-se em torno de 3,6% para 2023 e 2023.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma eventual frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (ii) se intensifica no caso de (iii) reversão do cenário externo benigno para economias emergentes.  O Comitê reconhece que o balanço de riscos para a inflação evoluiu de maneira favorável, mas avalia que o risco (ii) ainda é preponderante.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 6,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2023.

O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Copom reconhece que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que a continuidade desse processo é essencial para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia.  O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes. Em particular, o Comitê julga que avanços concretos nessa agenda são fundamentais para consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva.

Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e, em especial, do balanço de riscos prescreve ajuste no grau de estímulo monetário, com redução da taxa Selic em 0,50 ponto percentual. O Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo. O Copom enfatiza que a comunicação dessa avaliação não restringe sua próxima decisão e reitera que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente), Bruno Serra Fernandes, Carlos Viana de Carvalho, Carolina de Assis Barros, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

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