Adeus à crônica: sobre o fim silencioso e tímido de um gênero literário
Mesmo esta crônica, esta pobre e frágil e nauseada crônica, repare como é feita de ideia. Onde está o homem a vagar pelas ruas e a vislumbrar a improvável cena que tudo ilumina, onde a mulher em seu mistério, onde o pássaro, o cavalo, o menino? Repare que já não disponho de personagens, já não disponho de sujeitos apenas entrevistos e então analisados até o limite, já não procuro examinar a estranheza dos estranhos e a comunidade dos comuns. Saiba, leitor, leitora, não se trata de falta de ideias, o problema é o excesso. Existo apenas na austeridade destes meus pensamentos, nos confins desta mente que não cessa, incessantemente abastecida de juízos.
Leitor, leitora, me perdoe por isso. Me perdoe por eu já não lhe oferecer anedota nenhuma, não lhe providenciar nenhum riso. Me perdoe, mas a culpa é sua. Eu não sei se lhe perdoo a pressa, a impaciência, a gravidade que você tenta compensar com uma busca obsessiva por uma distração fácil, um prazer mais imediato, mais garantido. A crônica já não lhe importa, eu entendo, só não perdoo. Não perdoo este abandono em que você me deixa, num mar de palavras inúteis que nada dizem, que só lamentam e se remoem de nostalgia por um tempo que nunca existiu.
Eu sei, o ressentimento que estou declarando é por um leitor que já não está aí. Restamos agora só nós, os ociosos, os folgazões, os vagais. Não sei se é nosso fim ou nosso triunfo definitivo: a entrega dos ociosos ao ócio, dos folgazões à folga, dos vagais ao vácuo. A crônica se aproxima do fim, em todo caso, e não quero que você que durou até aqui acabe saindo de mãos vazias. A você e a mim deixo um pequeno consolo, na forma de uma certeza especulativa. Que tudo aquilo que definha encontra sua estranha maneira de permanecer. Que todas as formas que morrem, o soneto, a pintura, o romance, ainda podem ser praticadas com liberdade e leveza, em absoluta paz, pelos sonhadores e os distraídos.
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