Manifestação em Madri denuncia racismo contra brasileiros na Espanha
O protesto é a ponta do iceberg do trabalho desenvolvido por ativistas brasileiros que promovem ações antirracistas na Espanha, onde a discriminação não acaba com o jogo de futebol e também se apresenta no cotidiano tanto de forma discreta quanto descarada.
Demonstrações artísticas talvez surpreendam quem pensa que o atacante do Real Madrid dança para provocar o adversário. Mas há quase 20 anos, a Associação Cultural Maloka tem sido um espaço para enaltecer e desmistificar a cultura afrobrasileira na terra das tapas e do flamenco. Provocação? Só à reflexão.
'Tem um segurança me observando'
A familiaridade da associação com sua identidade negra brasileira foi o que chamou a atenção da ativista e costureira Jeanne Bonfim, que há seis anos se mudou sozinha da Bahia para a capital espanhola por medo da violência policial contra a população preta.
Enquanto conversava com 💥️Ecoa por telefone, a brasileira procurava feijão do tipo carioquinha no supermercado. Acabara de mencionar que só entra em lojas em último caso para não ser intimidada, quando diminui o tom de voz: "Agora mesmo tem um segurança me observando".
Segundo ela, as situações são frequentes, mas com a rede de apoio que encontrou na Maloka se sente amparada para participar da luta antirracista. "Entendem minhas dores e minha cultura", diz. "É [como se fosse um] um pedacinho da Bahia aqui."
Segundo a mãe, a menina chegou a ser empurrada e golpeada enquanto os pais dos alunos ficaram inertes. Sem solução por parte da instituição de ensino, a menina deve permanecer nessa escola até o final de junho, quando acaba o ano letivo.
O acesso à moradia também tem sido utilizado como termômetro para medir a descriminação nos últimos anos.
Um estudo do ano passado, realizado pelo Observatório Espanhol de Racismo e Xenofobia (Oberaxe), concluiu que o mercado imobiliário é discriminatório com grupos racializados. As causas estão associadas a preconceitos dos proprietários sobre a precariedade econômica de pessoas racializadas.
A família da psicóloga mineira Lúcia Cava, de 40 anos, foi impedida de alugar uma casa em Barcelona. Ela, o filho e o marido são brancos, mas a proprietária, por mensagem de texto, informou que não aceitaria inquilinos latino-americanos. Lúcia tem cidadania europeia, mas o marido não. Segundo a brasileira, uma denúncia foi registrada na polícia catalã, mas alegaram que era um direito da dona do imóvel.
dados mais recentes (2021) sobre a evolução dos crimes de ódio na Espanha demonstram que dos 1.802 casos registrados, mais de 35% foram por ataques racistas, os mais numerosos.O cenário foi semelhante em 2023 e 2023. Porque a grande maioria das vítimas não denuncia, o número deve ser considerado com parcialidade.
Para Maria dos Santos, historiadora e também ativista do Coletivo Pelos Direitos no Brasil, o caso de Vinicius Junior pode ser uma virada de chave para a questão racial na Espanha.
✅Não para convencer o espanhol de que o racismo existe. Mas como comunidade brasileira, não tínhamos tido um momento que possibilitasse a abertura do tema para nos inserir em outros espaços", 💥️Maria dos Santos, historiadora
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