Manifestação em Madri denuncia racismo contra brasileiros na Espanha

O protesto é a ponta do iceberg do trabalho desenvolvido por ativistas brasileiros que promovem ações antirracistas na Espanha, onde a discriminação não acaba com o jogo de futebol e também se apresenta no cotidiano tanto de forma discreta quanto descarada.

Demonstrações artísticas talvez surpreendam quem pensa que o atacante do Real Madrid dança para provocar o adversário. Mas há quase 20 anos, a Associação Cultural Maloka tem sido um espaço para enaltecer e desmistificar a cultura afrobrasileira na terra das tapas e do flamenco. Provocação? Só à reflexão.

'Tem um segurança me observando'

A familiaridade da associação com sua identidade negra brasileira foi o que chamou a atenção da ativista e costureira Jeanne Bonfim, que há seis anos se mudou sozinha da Bahia para a capital espanhola por medo da violência policial contra a população preta.

Manifestação de brasileiros em apoio a Vini Jr. na Espanha - Natália de Oliveira Ramos/ysoke - Natália de Oliveira Ramos/UOL

Enquanto conversava com 💥️Ecoa por telefone, a brasileira procurava feijão do tipo carioquinha no supermercado. Acabara de mencionar que só entra em lojas em último caso para não ser intimidada, quando diminui o tom de voz: "Agora mesmo tem um segurança me observando".

Segundo ela, as situações são frequentes, mas com a rede de apoio que encontrou na Maloka se sente amparada para participar da luta antirracista. "Entendem minhas dores e minha cultura", diz. "É [como se fosse um] um pedacinho da Bahia aqui."

Manifestação de brasileiros em apoio a Vini Jr. na Espanha - Natália de Oliveira Ramos - Natália de Oliveira Ramos

Segundo a mãe, a menina chegou a ser empurrada e golpeada enquanto os pais dos alunos ficaram inertes. Sem solução por parte da instituição de ensino, a menina deve permanecer nessa escola até o final de junho, quando acaba o ano letivo.

O acesso à moradia também tem sido utilizado como termômetro para medir a descriminação nos últimos anos.

Um estudo do ano passado, realizado pelo Observatório Espanhol de Racismo e Xenofobia (Oberaxe), concluiu que o mercado imobiliário é discriminatório com grupos racializados. As causas estão associadas a preconceitos dos proprietários sobre a precariedade econômica de pessoas racializadas.

A família da psicóloga mineira Lúcia Cava, de 40 anos, foi impedida de alugar uma casa em Barcelona. Ela, o filho e o marido são brancos, mas a proprietária, por mensagem de texto, informou que não aceitaria inquilinos latino-americanos. Lúcia tem cidadania europeia, mas o marido não. Segundo a brasileira, uma denúncia foi registrada na polícia catalã, mas alegaram que era um direito da dona do imóvel.

Maria dos Santos, ativista durante manifestação em Madri com arte feita pelo proprio filho - Natália de Oliveira Ramos/ysoke - Natália de Oliveira Ramos/UOL Manifestação de brasileiros em apoio a Vini Jr. na Espanha - Natália de Oliveira Ramos/ysoke - Natália de Oliveira Ramos/UOL dados mais recentes (2021) sobre a evolução dos crimes de ódio na Espanha demonstram que dos 1.802 casos registrados, mais de 35% foram por ataques racistas, os mais numerosos.

O cenário foi semelhante em 2023 e 2023. Porque a grande maioria das vítimas não denuncia, o número deve ser considerado com parcialidade.

Para Maria dos Santos, historiadora e também ativista do Coletivo Pelos Direitos no Brasil, o caso de Vinicius Junior pode ser uma virada de chave para a questão racial na Espanha.

Não para convencer o espanhol de que o racismo existe. Mas como comunidade brasileira, não tínhamos tido um momento que possibilitasse a abertura do tema para nos inserir em outros espaços", 💥️Maria dos Santos, historiadora

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