Após coma e falência, ele caminha por praias de 12 estados recolhendo lixo

💥️✅"Percorri praias de dois estados, saindo de Balneário Camboriú (SC), caminhando a maior parte do tempo pela faixa de areia até chegar ao Uruguai. A máscara de gás passa uma mensagem forte, o plástico e nosso lixo é tóxico para nós mesmos e para a Terra",💥️ diz Ferreira.

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Entre idas e vindas, o jovem está há sete anos no Brasil, e a sua primeira chegada se deu depois de um acidente de trânsito que o deixou em coma por 30 dias em sua cidade natal Cerro Largo, Uruguai, que faz fronteira com o estado do Rio Grande do Sul.

"Estava saindo de uma balada alcoolizado e bati a moto em um caminhão. Fiquei 30 dias sem nenhum de meus sentidos, internado. Após acordar, decidi dar outro rumo à minha vida", lembra Mathias.

Um mascarado contra o "lixo"

Usando uma máscara de gás, ele recolheu mais de 5 toneladas de lixo das praias. - Arquivo pessoal/Mathias Ferreira - Arquivo pessoal/Mathias Ferreira

Entre os rumos de sua mudança de vida esteve a vinda ao Brasil, onde 💥️Mathias trabalhou como garçom por algum tempo em Balneário Camboriú em um restaurante que ficava em uma praia de nudismo, momento em que se aproximou de temas ambientais, e cursou gestão ambiental em uma disciplina EAD pela Universidade Católica de Brasília.

Com a chegada da pandemia de covid-19, ele 💥️perdeu seu posto de trabalho e viu sua renda ruir, tendo como única alternativa retornar ao Uruguai. "Mas eu queria fazer algo diferente com esse retorno, então 💥️decidi voltar caminhando e fazendo essa limpeza nas praias vestindo essa máscara", conta.

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Documentando a jornada pelas redes sociais, ele comeu e dormiu com a ajuda de pessoas que se sentiram tocadas por sua história. A peregrinação levou dois meses para chegar ao seu país de origem e foi ovacionado com algumas reportagens na imprensa uruguaia e na brasileira.

Surf com tampinhas de garrafa, 5 toneladas de lixo e romance

6 - Arquivo pessoal/Mathias Ferreira - Arquivo pessoal/Mathias Ferreira Pranchas de hand surf são feitas com tampinhas de garrafa pet. - Arquivo pessoal/Mathias Ferreira - Arquivo pessoal/Mathias Ferreira

"A ideia sempre foi transformar esses resíduos que terminam em lixões e aterros sanitários. Esse material tem um valor muito importante e pode ser reutilizado gerando dinheiro a partir de sua transformação e reutilização", diz Ferreira.

Ao todo, Mathias atravessou mais de 12 estados do litoral brasileiro. Agora, há cerca de um ano, está vivendo em Imbassaí (BA), onde conta com a ajuda e companhia da enfermeira sanitarista, Luzane, 39, que conheceu durante suas caminhadas.

"Conheci ela em Itacaré em uma dessas caminhadas e segui meu caminho, mas prometi que voltaria. Namoramos há cerca de um ano, ela embarcou nessa junto comigo por amor, mostrei para ela a importância do trabalho e de cuidar da natureza", conta Mathias.

"Desde o primeiro momento senti em Mathias a energia de querer fazer o bem, nunca conheci alguém tão persistente, batalhador e defensor da natureza, e foi isso que me encantou e encanta até hoje. Nossa conexão foi instantânea e tenho aprendido muito com ele", diz Luzane.

Mapeamento de lixo internacional russo e chinês

No trabalho diário de recolher resíduos, Ferreira tem encontrado outros materiais poluidores, como vidro, papelão e redes de pesca, mas o que mais tem chamado a sua atenção nos últimos tempos foi o lixo internacional.

"Encontrei embalagens de vários países, como uma produzida na Rússia em 2001 e mais de 200 garrafas da china", conta o jovem.

Embalagem de shampoo russa encontrada na praia. - Arquivo pessoal/Mathias Ferreira - Arquivo pessoal/Mathias Ferreira

Agora, Mathias está negociando um projeto ambiental em parceria com a UFBA (Universidade Federal da Bahia), em que traz uma proposta de educação ambiental para a comunidade local e levantamento de dados sobre o tipo de resíduo que está retirando das praias - além do seu reuso.

"Atualmente ele produz pranchas de surf de mão, mas a intenção é transformar os resíduos de plástico em móveis, e iremos fazer um levantamento com estudo ciêntífico e mapeamento desse lixo internacional que está encontrando na praia de Imbassaí", explica Suzana Más Rosa, pesquisadora do Núcleo de Pós Graduação em Administração da Universidade Federal da Bahia e Coordenadora da Câmara de Resíduos do Painel Salvador Mudança do Clima.

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