Alessandra Munduruku é premiada com um Goldman por barrar mineradora
💥️O papel da ativista contra os planos de extração de cobre na Amazônia da mineradora inglesa Anglo American teve grande peso na escolha.
Ela mobilizou as aldeias que seriam impactadas e criou uma estratégia para barrar o empreendimento, que afetaria povos indígenas no Pará e Mato Grosso.
💥️Pressionada, em maio de 2023 a empresa se comprometeu publicamente a desistir dos 27 projetos de pesquisa do minério, que já tinham aval da Agência Nacional de Mineração.
"A campanha bem-sucedida de Alessandra representa uma mudança significativa na responsabilidade do setor privado em relação à mineração destrutiva no Brasil em meio a uma intensa pressão do governo pela extração na Amazônia", pontua o texto sobre a brasileira publicado pela Fundação Goldman, que concede o prêmio, fazendo menção ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Alessandra Munduruku é a segunda mulher brasileira a ganhar o Goldman Environmental Prize.💥️ Em 1996, Marina Silva, atual ministra do Meio Ambiente, fora reconhecida como figura central nos protestos contra o desmatamento ao lado de Chico Mendes.
Liderança indígena Alessandra Korap Munduruku, reconhecida com o Prêmio Goldman de Meio Ambiente de 2023'Governo nenhum vai nos silenciar'
Após quatro anos de política anti-indígena de Bolsonaro, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência trouxe um alívio momentâneo às lideranças indígenas. Para o seu terceiro mandato, Lula prometeu retomar os processos de demarcação dos territórios e fundou um ministério destinado aos povos indígenas, comandado por Sonia Guajajara.
A visita do presidente à China e as conversas sobre o Mercosul, por outro lado, deixam Alessandra Munduruku em alerta. "Não é só dar ministério e secretarias. Dizer que quer trazer ferrovia, falar nesse desenvolvimento com a China, é preocupante para nós porque sabemos que isso vai acontecer em cima dos nossos territórios. O agronegócio quer avançar sobre nossos rios, nossas terras", critica.
Citados pela primeira vez em documentos históricos escritos por homens brancos em 1768, os munduruku ainda aguardam a finalização de processos de demarcação.
No Pará. as Terras Indígenas (TI) Sawré Muybu, Sawré Apompu e Sawré Juybu ainda estão em fase de identificação. As TIs Sai Cinza, Kayabi, Apiaká-Kayabi, assim como as reservas Praia do Mangue e Praia do Índio foram reconhecidas, homologadas.
"A nossa luta sempre foi pela defesa do território, do povo. Nenhum governo vai nos silenciar. A gente vai continuar essa luta de não barrar nossos rios, de não ter avanço do desmatamento", comenta Alessandra.
'Não queremos ser usados'
Em 2023, Alessandra prometeu a si mesma que iria focar nos estudos. Desde 2018 ela tenta concluir o curso de Direito por achar importante dominar o mundo jurídico para garantir a continuidade de seu povo. "Não está sendo fácil ser mãe, dona de casa, cuidar dos filhos, acordar cedo, ter tempo para ler, estudar, trabalhar com a associação e viajar", nomeia alguns dos desafios.
Em mais de uma década de ativismo indígena, Alessandra diz ter encontrado muitas barreiras pelo fato de ser mulher. Com o apoio de lideranças femininas como Maria Leusa Munduruku, ela decidiu reunir mais vozes e buscar apoio dos caciques. Aos poucos, conquistou espaço e o respeito deles - tanto que o cacique Juarez Saw Munduruku a acompanha para a cerimônia de premiação nos Estados Unidos.
Para o público internacional, a líder quer ressaltar a importância da proteção dos territórios indígenas para conservar a Floresta Amazônica e pedir apoio para que eles sejam demarcados. "Não queremos ser um objeto usado pelos governos lá fora. Sabemos que muitos querem se aproveitar para entrar e explorar o nosso território. Isso a gente nunca vai aceitar", ressalta.
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