Quais os impactos da barragem de Belo Monte nos peixes e pescadores?
O pescador abandonou o remo para aprender palavras difíceis como "condicionantes", "verbas de reparação" e "mitigação de impactos". Restou apenas a luta por uma reparação financeira e cansativa, que é a cobrança diária da classe para a Norte Energia, consórcio responsável pelo destino do pescado e dos pescadores. Antes, as articulações eram para conseguir o sustento no rio, mas hoje eles se articulam para garantir o direito de existir.
O represamento da água para a produção de energia nos municípios de Vitória do Xingu, Altamira e Brasil Novo — com impacto em outros municípios e até estados próximos como Mato Grosso — é tema de inúmeros trabalhos de pós-graduação desenvolvidos no Pará e no Brasil. E, mais do que isso, é motivo das principais lutas de classe e processos judiciais envolvendo os povos tradicionais e originários, que tiravam do Rio Xingu seu sustento e, principalmente, que tinham o rio como símbolo de sua existência e identidade.
Antônia Melo, fundadora do Movimento Xingu Vivo para SempreAntônia diz que está disposta a morrer lutando pelos direitos dos seus amigos e irmãos do rio, mas admite que Belo Monte e seus impactos não têm volta. O valor para matar um rio, destruir um ecossistema e apagar a identidade de um povo custou 40 bilhões, com parte desse investimento vindo de dinheiro público através do BNDES para pagamento de propinas e incentivos aos influenciadores políticos que apoiaram sua construção.
💥️Das 18 turbinas da barragem, apenas uma funciona, e o monstro que matou o rio e os peixes trabalha só 4 meses no ano. Já chegou a funcionar com meia turbina apenas. O estrago está feito e, ao contrário do que políticos e empresários prometeram, o empreendimento não trouxe o progresso, a riqueza e o crescimento comercial que a população esperava. A maior prova é que você procura por uma loja de canoas, remos ou motores de embarcação em uma cidade de pescadores e não encontra. Belo Monte queria o rio, mas isso não incluía nem os peixes, nem o pescador.
A Mongabay entrou em contato com a Norte Energia para esclarecimentos, e a empresa respondeu que "tendo em conta o monitoramento socioambiental do Trecho de Vazão Reduzida realizado nos últimos oito anos, cabe esclarecer que os impactos detectados vêm se mostrando de menor magnitude do que a prevista nos Estudos de Impacto Ambiental".
A respeito da escassez de peixes, a Norte Energia alega que "o monitoramento realizado com famílias ribeirinhas do Rio Xingu demonstra que o consumo de alimentos de origem proteica é de, em média 35,5 kg per capita/ano, sendo o peixe o alimento proteico mais consumido. Assim, a taxa anual de consumo de pescado está acima da média mundial e nacional (20 kg e 9 kg, respectivamente). Esses dados, portanto, não indicam falta de peixes na região".
A empresa também respondeu que está "realizando o processo de retorno de 322 famílias ribeirinhas para pontos localizados na Área de Preservação Permanente (APP) do reservatório, com acompanhamento do Ibama e também do Conselho Ribeirinho e seu grupo de apoio. Cerca de 40% dessas famílias já foram reassentadas e 7% estão em andamento".
(Por João Paulo Guimarães)
✅Notícias da Floresta é uma coluna que traz reportagens sobre sustentabilidade e meio ambiente produzidas pela agência de notícias Mongabay, publicadas semanalmente em 💥️Ecoa. Esta reportagem foi originalmente publicada no site da Mongabay Brasil.
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