A missão do xamã: ameaçados de extinção, saberes peruanos chegam ao Brasil

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Neten Kea conversou por telefone com a reportagem de 💥️Ecoa, enquanto fazia uma dieta de plantas na selva peruana onde vive. É uma preparação necessária antes de sua próxima missão: viajar ao Brasil para difundir o conhecimento tradicional Shipibo-Conibo em uma série de cerimônias de ayahuasca no Rio Grande de Sul e em São Paulo.

O uso ritualístico e religioso da bebida psicodélica ayahuasca é permitido no Brasil, por uma resolução de 2010 do Conad (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas), mas não é recomendado para pessoas que sofrem de doenças psiquiátricas — como esquizofrenia e transtorno bipolar - ou doenças cardíacas.

Proteção do conhecimento tradicional

1 - Arquivo pessoal/ Anelise Pacheco  - Arquivo pessoal/ Anelise Pacheco 2 - Arquivo pessoal/ Anelise Pacheco  - Arquivo pessoal/ Anelise Pacheco

"A ayahuasca mostrou minha vida desde meu nascimento e o que eu teria que fazer para encontrar minha verdade e o meu caminho". Depois da experiência, ele passou por um processo de aprendizado que durou 10 anos. Só depois, Neten começou a atender como curandeiro em sua comunidade.

Hoje, junto com dois irmãos, ele dirige um centro de tratamento com plantas medicinais amazônicas, em Pucallpa, chamado Sanken Mai (Terra da Medicina), na região de Ucayali, na Amazônia peruana. Lá, os irmãos curandeiros oferecem retiros de semanas ou meses. As principais enfermidades tratadas são a depressão, ansiedade, traumas e vícios. "Isso tem que ser feito com muito cuidado, porque trabalhar com a mente humana é muito delicado."

Hiperconectividade

Um estudo conduzido por um grupo de pesquisadores do Imperial College London, no Reino Unido, publicado no último mês de março na revista científica Pnas, investigou os efeitos da DMT (a dimetiltriptamina, presente na bebida) e revelou que a ayahuasca causa hiperconectividade entre diversas regiões do cérebro.

Segundo os cientistas, a pesquisa de neuroimagem controlada por placebo (quando pesquisadores e pacientes desconhecem quem tomou a substância testada), oferece a visão mais abrangente da ação cerebral aguda dos psicodélicos até o momento.

As imagens revelaram um impacto profundo da substância em todo o cérebro, principalmente em áreas como planejamento, linguagem, memória, tomada de decisões complexas e imaginação.

De acordo com os pesquisadores, as regiões por onde entendemos a realidade tornam-se hiperconectadas, com uma comunicação mais caótica, fluida e flexível.

"Na dose que usamos, é incrivelmente potente", disse ao The Guardian, o cientista Robin Carhart-Harris, da Universidade da Califórnia, em São Francisco. "As pessoas descrevem deixar este mundo e entrar em outro que é incrivelmente envolvente e ricamente complexo."

"A capacidade dos psicodélicos de mudar a qualidade neurobiológica da consciência de maneira fundamental e muitas vezes transformadora, preservando a vigília, é indiscutivelmente incomparável na farmacologia", concluem os pesquisadores no artigo da Pnas.

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