Eu falo português, e não é Portugal que vai me dizer o contrário!

Volta e meia, entra nos círculos de estudantes de Letras alguma reportagem de algum jornal português falando que a língua portuguesa está agonizando: seja por influência dos anglicismos, ou porque as crianças veem muitos vídeos de influenciadores do Brasil e copiam seu modo de falar, ou porque as novelas brasileiras, tão assistidas por lá, ensinam um português considerado "errado".

É muito comum nessas reportagens que as pessoas de Portugal assumam que nós do Brasil falemos mal o português, ou que sequer o falemos. Inúmeros debates já foram realizados, aqui e além-mar, sobre se o português falado no Brasil é realmente português ou outra língua, a língua brasileira. Patético!

É óbvio que as variantes lusitana e brasileira são bem diferentes; afinal, a distância geográfica e cultural depois de duzentos anos livres do jugo da colonização iriam levar esses dois dialetos para desenvolvimentos bastante próprios. Mas continuamos falando português, entendendo-nos como pessoas que falam português, e minimamente compreendendo-nos com o falar lusitano, ainda que às vezes pareça difícil.

Ninguém do Reino Unido diz que alguém dos Estados Unidos não fala inglês. Por que temos essa discussão estúpida quanto à "última flor do Lácio"? O português é uma língua que nos foi imposta, claro. Mas isso não quer dizer que não devamos nos apropriar dela. Eu adoro falar português, e não é ninguém de além-mar com preconceitos que vai me dizer que o que falo não é português.

Fico sempre na cabeça com o "Poema de Helena Lanari", da escritora Sophia de Mello Breyner Andersen, que ecoa nas apresentações do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo:

Gosto de ouvir o português do Brasil
Onde as palavras recuperam sua substância total
Concretas como fruto nítidas como pássaros
Gosto de ouvir a palavra com suas sílabas todas
Sem perder sequer um quinto de vogal

Quando Helena Lanari dizia o "coqueiro"
O coqueiro ficava muito mais vegetal.

Vida longa ao português do Brasil, com suas vogais e suas aberturas a mentalidades de integração!

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