Carta para Sandra, minha vizinha racista de São Conrado
Trago-lhe más notícias: não abaixarei a cabeça ao ouvir seus gritos e sua voz esganiçada ao dizer que paga IPTU e que aqui "não é a favela". Usarei da educação de minha mãe e da legislação como escudo para enfrentá-la com seu ataque.
Ataque que também é violência e só existe pelo fato de não achar que pessoas como eu (e com características iguais as minhas) possam estar neste bairro. Por entender que negros e negras estão condicionados a morar em uma favela - neste caso, a Rocinha - ou mesmo a não existir.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Edu Carvalho (@educarvalhol)
Ao ver as imagens da violência racista que poderia ter acontecido comigo, penso nas vezes que cruzei com você e sua cachorra, nas ruas de São Conrado, afinal, só uma travessa nos separa.
Pois assim, te mando a real: não acataria sua ordem, nem daqueles que como você insistem em querer nossas existências impossíveis.
Para seu desprazer, continuarei aqui, na São Conrado oriental; sendo um filho com orgulho da Rocinha Ocidental. Este espaço em que só cheguei por merecimento individual e coletivo.
Estar aqui me faz existir reexistindo, numa resistência dupla, no bairro que num curto espaço de tempo teve, dois dias antes, um caso de racismo dentro de um supermercado. E que durante a infância, tornou-se pra mim o cenário da desigualdade.
Às autoridades, peço que o ato de racismo de Sandra, minha vizinha, seja de fato nomeado como tal, não sendo apagado apenas pelo crime de injúria, que "amacia" o contexto e relevância dos atos.
É preciso dar nome ao que acontece, algo que está longe de ser uma doença mental, carente do conveniente amparo médico. Isso não é loucura, cara vizinha, o nome do seu ato já existe: é racismo. E é crime.
Para minha cara vizinha racista, deixo um um conselho: talvez seja urgente despedir-se do bairro que com tanta veemência "defendeu". Despeça-se também do cachorro, o mesmo de quem você pegou a coleira para atacar os entregadores de aplicativo - todos negros.. Dê tchau ao grupo de sua empresa, que desvia energia elétrica na praia.
Pessoas que cometem crimes como o que você cometeu só merecem um lugar: a cadeia.
Boa estadia, minha futura ex-vizinha.
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