Na melhor universidade do país, faltam professores: isso é excelência?
Todo mundo concorda que a Universidade de São Paulo, a famosa USP, é a de maior prestígio no Brasil e na América Latina. Com seus quase 100 mil alunos, é responsável por mais de 20% da produção científica realizada no país. Toda essa excelência dos seus quadros acadêmicos deveria ser reconhecida pelo poder público, certo? Não é bem isso que acontece.
Desde 2014, a contratação de professores e servidores técnico-administrativos foi severamente restringida, no contexto da crise que a universidade alegava enfrentar à época. O que, por um lado, saneou a situação deficitária da universidade, por outro, sucateou a universidade como um todo.
A nova gestão da reitoria comprometeu-se em, nos próximos quatro anos, supostamente retomar as contratações de professores efetivos para que o número volte ao patamar de 2014. Mas aí vem a pegadinha: nem todos os institutos terão reposições garantidas e precisarão competir entre si para conseguir contratações, pelo critério de quem é "mais excelente" (porque, convenhamos, numa universidade como a USP, todo mundo parece ser excelente).
Como mensurar um fator tão subjetivo como a excelência? Seja na formação de professores, de linguistas, de profissionais da saúde, do direito, da engenharia, em cada instituto há um fator de excelência. Juram mesmo que sentem tanto gabarito para definir o que é "mais excelente"?
Como estudante de Letras, o maior curso da universidade, sinto o sucateamento na pele: salas superlotadas com manutenção precária, dificuldades para conseguir matérias num geral, cancelamento de disciplinas obrigatórias, pouca oferta de disciplinas optativas, professores sobrecarregados à beira de um colapso...
Não acredito que isso seja condizente com uma política de internacionalização da universidade, pois se a área responsável pela formação de especialistas em línguas estrangeiras (em especial de línguas que no Brasil só são estudadas aqui) está sufocada, fica difícil pensar que a universidade se importa com esse tema.
Além disso, problemas como o cancelamento de disciplinas por absoluta falta de professores prejudicam quem mais precisa de apoio: estudantes pobres que dependem de auxílios ou que trabalham e que também têm direito à universidade, direito este cerceado pela pouca oferta de disciplinas e pelo clima de competição que ela gera.
Falando nisso, como justificar toda a confusão que se deu na concessão dos benefícios este ano, que prejudicou tanto ingressantes quanto quem já está na universidade e depende desses auxílios para não evadir, o que em si já pressupõe um prejuízo à universidade e, em última instância, à sociedade, que perde uma cabeça pensante.
Em um ano, a nova gestão da reitoria não conseguiu cumprir boa parte de suas promessas; por onde passo, parece que a situação está ficando cada vez pior. Será que a melhor universidade do país precisará parar para não mais respirar por aparelhos?
O espaço fica aberto para considerações, se houver.
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