Óleo de Patauá: conheça a origem do óleo amazônico e quem o produz

Em Anajás, município da Ilha do Marajó (PA), o dia de Enizete dos Santos, 40, começa por volta das 6h da manhã em um trecho de floresta amazônica.

💥️Ela trabalha catando os frutos do patauá, que após fervidos se transformarão no óleo de cor dourada que ganhou fama na área cosmética a partir de 2013, e é natural de uma palmeira do bioma amazônico.

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Nos últimos anos, a busca pelo óleo de patauá, que hidrata pele e cabelos, também trouxe benefícios aos extratores, 💥️aumentando a renda e melhorando as condições de vida na região.

Mas, por outro lado, trouxe preocupações sobre condições de trabalho melhores e uma cadeia de produção mais sustentável.

Parte desse movimento mais sustentável se consolidou após uma união das marcas que usam o óleo de patauá em seus produtos: L'Occitane au Brésil, Beraca Ingredientes Naturais e Simple Organic, que fizeram uma parceria e reuniram um fundo de mais de R$ 150 mil para a reforma das Casas Óleos — unidades onde os extratores fazem a preparação do óleo, que envolve pilar os frutos e depois fervê-los.

"O óleo do patauá tem diversas funções, pode ser usado na indústria alimentícia substituindo azeite e óleo de cozinha e tem esse grande potencial para indústria de cosméticos", afirma Ana Carolina Vieira, diretora executiva do Instituto Beraca.

Patauá garante renda e ajuda manter filho na escola

Com a reforma desses locais de extração, Enizete Santos mais que dobrou a renda com o trabalho. "💥️Antes o lucro era de R$ 1 mil, agora tenho até R$ 4 mil de lucro ao mês e contratei dois ajudantes, que trabalham coando e pilando o patauá. A fervura sou eu mesma quem faço", conta a extratora.

A renda vinda da atividade faz com que os cinco filhos de Santos, que estudou somente até a quarta série do fundamental, tenham uma oportunidade que ela não teve:

"💥️Se não fosse o dinheiro do patauá, acho que eles [os filhos] nem estariam estudando. Sem esse trabalho e esse óleo, não conseguiria mantê-los na escola, pois eles teriam que estar trabalhando já", comenta.

Além da reforma nas casas, a ação das empresas também levou equipamentos que ajudam no armazenamento e ampliam a capacidade de processar o fruto.

O fruto do patauá é exclusivo do bioma amazônico. - Divulgação/L'Occitane au Brésil - Divulgação/L'Occitane au Brésil

"A gente trabalhava na minha casinha e o piso era de madeira e ficava molhado e escorregadio. Agora, com a alvenaria, terminamos de trabalhar e fica tudo enxuto, não nos molhamos quando chove e os materiais como caixas-d'água e bacias deixaram o trabalho mais fácil. Estamos extraindo mais óleo", afirma Enizete.

Mas apesar da melhora, ela reclama que esse é um tipo de serviço bastante cansativo. "Trabalhamos de forma muito braçal, se conseguíssemos uma máquina seria melhor. Batemos com uma madeira dentro dos baldes de patauá até retirar todo o óleo, isso cansa muito. Seria melhor se tivéssemos um maquinário que fizesse isso".

De 'sem valor no mato' a criação de associação

Mas nem sempre foi assim, antes do ✅boom do comércio esse fruto não chamava tanta a atenção para a comercialização.

"Desde 2014 que faço esse trabalho e esse comércio aumentou. Antes, ele nascia e se acabava no mato, ninguém tirava e não fazia nada", conta Enizete.

Antes de o patauá virar "moda", José Maria de Souza Mendonça, fundador e presidente da Associação dos Produtores Rurais do Rio Guajará Natureza é Vida (APRUNAV),💥️ começou a abrir caminho para o óleo no mercado contatando empresas que tinham interesse em comprá-lo.

Entre elas, a L'Occitane au Brésil, que agora acompanha as safras e os fornecimentos realizados pela comunidade e apoiou a construção da sede da associação.

"Também ajudamos na aquisição de equipamentos de proteção individual como luvas, capacetes, botas e o acompanhamento técnico constante da cadeia de fornecimento", diz Sérgio Tafner Martins dos Santos, especialista em cadeias de abastecimento da L'Occitane au Brésil.

Óleo é feito com a fervura do fruto que nasce em palmeira. - Divulgação/L'Occitane au Brésil - Divulgação/L'Occitane au Brésil

A associação de José Maria compra todo o óleo dos produtores locais e faz o atravessamento aos compradores, além de comprar o patauá de extratores que não têm interesse ou experiência para a fabricação de óleo.

💥️Atuando na região desde 2007, ele enxerga que a chegada do patauá tornou o manejo da natureza mais sustentável.

"A economia do município é açaí e patauá, mas antes, cortavam as palmeiras de açaí para extrair o palmito. Hoje, cortamos apenas a parte alta da palmeira que não está mais dando frutos", diz José Maria.

O fundador da associação também trabalha com a extração de óleo e ganha o valor de R$ 60 por dia para fazer a pesagem e venda do produto para os atravessadores.

"Com a venda do óleo que produzo com meu filho ganhamos em média R$ 2 mil reais por mês", conta.

Patauá só existe mantendo a Amazônia em pé

Para a diretora executiva do instituto Beraca, 💥️olhar para a cadeia de valor do patauá é olhar para uma economia florestal de baixo carbono, que mantém a floresta em pé e valoriza o modo tradicional de produção extrativista da amazônia.

"A colheita do fruto acontece no período ideal, existe uma preocupação de manutenção de frutos. Além disso, o cuidado com frutos que podem ser coletados, frutos que devem permanecer no solo da floresta para reprodução da espécie, e frutos que vão servir de alimento para animais silvestres", comenta a diretora.

José Maria de Souza Mendonça coa o óleo que é usado em cosméticos e alimentos. - Divulgação/L'Occitane au Brésil - Divulgação/L'Occitane au Brésil

Para além do aumento da renda, o patauá também mudou o ramo de diversas famílias da região - que migraram do palmito para a produção de óleo.

"💥️Quando trabalhamos só tirando e não plantando estamos gerando fome. Com o trabalho da extração do óleo de patauá estamos garantindo o futuro das pessoas que ainda estão vindo e temos a certeza de que essa atividade ficará para sempre", acredita o presidente da APRUNAV.

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