“Ovelha ronhosa! Como disse?” 8 palavras e expressões que andamos a tratar mal Lifestyle
Tenha o leitor alguma paciência, este primeiro parágrafo arrisca-se a ser uma ✅salganhada, mas com um objetivo final pois, contas feitas, não queremos ser as ✅ovelhas ranhosas da escrita, tornando este texto um ✅catrapázio de leitura fastidiosa. Pelo contrário, queremos que o leitor tenha uma ✅estadia aprazível nestas linhas, sem se ✅degladiar com palavras aborrecidas. ✅Mea culpa por aquilo que aqui fazemos, mas não somos os únicos responsáveis.
Está feito, ultrapassámos o primeiro parágrafo. Estranhou a prosa? Um tanto rebuscada. Terá o leitor posto os olhos nos itálicos? Em comum a todas as palavras em itálico o facto de não estarem bem escritas, ou estando bem redigidas, encontrarem-se fora do seu real contexto. Vamos perceber o que correu mal.
💥️Não diga ovelha ranhosa, use ovelha ronhosa
Na origem da palavra ronhosa está a ronha, doença contagiosa, semelhante à sarna que ataca alguns animais, nomeadamente ovelhas. Desta forma, os animais contagiados são afastados do restante rebanho por serem indesejáveis. Daí a natural ligação entre a expressão ovelha ronhosa e o animal não desejado no rebanho.
Ranhoso também é termo que pode ser usado como depreciativo – de mau caráter, manhoso - mas não na formulação ovelha ronhosa.
💥️Não diga salganhada, use salgalhada
Diz-nos, a propósito de salgalhada, o ✅Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: “Mistura de coisas heterogéneas, confusão, trapalhada, mixórdia”.
Ainda sobre salgalhada, conta-nos o portal Ciberdúvidas da Língua Portuguesa que “a etimologia que provém de salgar + -alho + -ada”. Sandra Duarte Tavares, mestre em Linguística Portuguesa, acrescenta, no mesmo portal, que “a troca de um lh por um nh, que se deveu — presumo eu — a um maior conforto fónico, deu origem a uma nova palavra”.
💥️Não diga que a sala é solarenga, use soalheira
Não raro ouvimos e lemos a referência a uma sala solarenga para, desta forma, a classificarmos como um espaço luminoso, claro, banhado pelo Sol. Se queremos usar o termo corretamente, que se aplique solarenga à casa, mas enquanto solar, ou seja edifício nobre, de grandes dimensões. Soalheiro, diz-nos o ✅Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, refere “exposto ao sol, quente. Lugar onde dá o sol”. Logo, uma sala soalheira.
Queira o leitor estender a aplicação da palavra soalheiro a outros contextos e pode vê-la como “reunião de pessoas ociosas, geralmente sentadas ao sol para falar da vida alheia”, ainda de acordo com o Dicionário citado.
💥️Não use degladiar, use digladiar
Experimente em contexto de conversa aplicar o termo digladiador. De pronto, alguém presente, irá retorquir e proferir com a certeza das muitas vezes escutada a palavra gladiador. Pode o leitor ripostar. Digladiador tem lugar cativo nos dicionários. “Aquele de digladia. Esgrimista; combatente”. Do exposto percebemos que é correto usar o termo Digladia, nunca degladia.
Digladiar tem origem no latim✅ digladiari.
Eu digladiei, Tu digladiaste, Ele digladiou; querendo dar alguns exemplos deste verbo aplicado no pretérito perfeito do indicativo.
💥️Se vai pernoitar não use estadia, use preferencialmente estada
A este propósito serve-nos de referência o dicionarista Fernando Venâncio Peixoto da Fonseca (1922-2010) citado no portal Ciberdúvidas da Língua Portuguesa: “Estadia […] é mais moderna porque é formada de estada com o sufixo -ia. Mas, como quase todas as palavras sinónimas, há casos em que uma é preferível à outra; estadia, por exemplo, é normalmente a única empregada como termo da marinha mercante (“É de uma semana a estadia do paquete no porto de Lisboa”.), enquanto estada aplica-se ao tempo de permanência de uma pessoa num lugar (´Durante a sua estada no Porto, João ficou alojado em casa de amigos`)”.
“É verdade que o uso indistinto de ambas as palavras diluiu a diferença semântica, mas não se recomenda a quem preze a propriedade vocabular da nossa língua”.
💥️Não use catrapázio, use cartapácio
Quantas vezes ouviu, ou leu, que “o livro é um ´catrapázio´”? Normalmente em tom pejorativo face ao volume em causa, “uma maçada com tantas páginas para ler”. Independentemente de olharmos para o número robusto de páginas com enfado ou entusiamo, saiba o leitor que o termo a usar é cartapácio.
Diz-nos sobre a palavra o ✅Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: “Livro grande a antigo; alfarrábio, calhamaço”. Também pode usar o termo como significado de “carta (´mensagem´) muito grande. Catrapázio não o vai encontrar em nenhum dicionário ou biblioteca.
💥️Não use “mal e porcamente”, use “mal e parcamente”
“Hoje pagaram-me o ordenado. ´Mal e porcamente` como eu esperava”. Não pondo em causa a precariedade (sim, mais correto do que precaridade) laboral expressa na frase, devia o locutor não se socorrer da qualidade suína do pagamento, antes da frugalidade do mesmo. A expressão correta é “mal e parcamente”, com origem em parco, “moderado nas comidas e nas despesas; frugal”, como nos relata o ✅Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora.
Dado parcamente não ser palavra de uso corrente popular, o termo acabou por ter substituição em porcamente, “indecentemente; mal e muito mal, de modo muito imperfeito (de porco + mente).
💥️✅Use mea culpa, mas use-a bem
Não raro alguém faz ✅mea culpa e assume a sua parte no dolo ou prejuízo sobre outros ou coisas. Quem faz a sua ✅mea culpa, terá de assumi-la por inteiro. Não vá o leitor pela fonética. Explica-nos a este propósito Paulo J. S. Barata mestre, em Estudos Portugueses Interdisciplinares, na página Ciberdúvidas da Língua Portuguesa: “✅mea culpa é uma locução latina que significa ´minha culpa` ou ´por minha culpa` e não, obviamente, meia culpa". A expressão provém da ✅Confissão, oração que integra a liturgia da Igreja Católica, através da qual os crentes reconhecem os seus pecados perante Deus e a Igreja, e pedem à Virgem Maria, aos anjos e santos, e aos irmãos de fé, a intercessão divina para o perdão dos mesmos”.
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