Mudança climática expõe a sociedade a mais riscos de novas pandemias VivaBem
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Gustavo Cabral
Naturalmente, pensamos nos desgastes físicos imediatos, principalmente para regiões com maior vulnerabilidade social, onde as pessoas não têm como se proteger, e isso é trágico. Mas isso pode ser ainda pior, como a exposição da sociedade a mais riscos de surtos a agentes causadores de doenças infecciosas, como a covid-19, que causou a pandemia que paralisou o mundo nos últimos três anos.
Quando falamos em aquecimento global, não temos como fugir do desmatamento. Com isso, precisamos pensar que essa junção de altas temperaturas, queimadas e diversas formas de devastação da natureza leva à destruição de habitats naturais de diversas espécies de animais. Isso induz a migração desses bichos para diversos locais, e consequentemente haverá contato com diversas espécies, inclusive o ser humano, que pode favorecer ao compartilhamento de microrganismos causadores de doenças, o que favorece mutações e adaptações dos patógenos, gerando um enorme problema.
Por exemplo, ocorreu com o Chikungunya mutações que permitiram a adaptação a um vetor, ✅Aedes albopictus, que está presente em regiões temperadas, favorecendo surtos de Chikungunya na Itália e na França. O Chikungunya é transmitido pelo mosquito ✅Aedes aegypt, mas como esses mosquitos não existem nesses países citados, o vírus se adaptou e foi transmitido por outro vetor, o ✅A. albopictus.
Com essa linha de raciocínio, temos que tomar medidas cada vez mais radicais para evitar as mudanças climáticas como estratégia, inclusive, para prevenir a próxima pandemia. E volto a repetir, não tem como pensar em estratégias sem levar em consideração as ações cada vez mais duras para prevenir o desmatamento, pois essa é uma causa central da mudança climática.
Com isso, contribuímos para conter a perda de biodiversidade, diminuir ou retardar as migrações de animais, para que ocorram de forma natural, com adaptações que sigam o ritmo da vida e, naturalmente, diminuímos o risco de propagação e surtos de doenças infecciosas que muitas vezes não conhecemos. Ou até mesmo aquelas que temos ciência e que são tenebrosas, como é o caso do ebola.
Basta lembrarmos que a recente epidemia de ebola na África Ocidental foi associada a morcegos, que são portadores do vírus e que foram forçados a migrar em busca de novos habitats, pois o ambiente em que viviam foi destruído, ou parcialmente devastado para fins de interesse humano. O resultado foi que os morcegos podem ter sido a fonte da epidemia de ebola que matou mais de 11 mil pessoas na África Ocidental.
Vamos nos aprofundar um pouco mais nas influências dos efeitos climáticos sobre a saúde humana, pois como é alertado pelo CDC, Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, os efeitos climáticos geram o "aumento de doenças respiratórias e cardiovasculares, lesões e mortes prematuras relacionadas a eventos climáticos extremos, mudanças na prevalência e distribuição geográfica de doenças transmitidas por alimentos e água e outras doenças infecciosas e ameaças à saúde mental".
Como falei, não temos como dissociar as mudanças climáticas da devastação ambiental e poluição, por exemplo. Inclusive, um grupo de pesquisadores de Havard fez uma publicação na revista científica Science mostrando dados que relacionam a poluição do ar com as taxas mais altas de mortalidade provocada pelo coronavírus, agente causador da covid-19. Mas isso vinha sendo dito bem antes da pandemia da covid-19. Como exemplo, outro trabalho científico publicado em 2016 sobre as mudanças climáticas e doenças respiratórias (como é o caso da covid-19) mostra que as mudanças na temperatura influencia a atividade viral e a sua transmissão, citando vários exemplos que podem ser vistos no artigo.
Além disso, há diversos artigos científicos que mostram a influência da temperatura elevada sobre a ocorrência de novas mutações extremamente prejudiciais. Ou seja, nesses pontos relacionados às mudanças climáticas, devastação da natureza etc. nós devemos ser realmente radicais com as ações pró-vida muito além da humana, pois o egoísmo só nos faz mais suscetíveis à destruição.
Temos que investir pesado e com inteligência para evitar outros surtos, outras pandemias. Por exemplo, apoiar cada vez mais o desenvolvimento científico e sustentável, na ciência da saúde pública, através de investimentos nas pesquisas que tenham retorno social e ambiental, como uma estratégia para antecipar outros surtos, como aconteceu com a covid-19 e diversas outras doenças infecciosas. E concluo com as seguintes perguntas: quando que a ciência e nós cientistas somos ouvidos de verdade? Apenas quando ocorrem tragédias?
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