Será que as desculpas realmente não se pedem, evitam-se? - Fitness e bem-estar Lifestyle
A palavra “desculpa” tem um grande peso e importância na vida social do ser humano. Desde pequenos que somos ensinados a pedir desculpa, quando fazemos algo que pode ter trazido dano a outra pessoa. No fundo, fazemo-lo porque um pedido de desculpas tem potencial para suavizar feridas emocionais e até reparar relacionamentos, compondo um primeiro passo para uma reconciliação.
Quem sabe, talvez tudo aquilo que gostava de ouvir de determinada pessoa fosse um pedido de desculpa genuíno. E assim é, por se tratar de uma forma de demonstrar preocupação e cuidado com a relação e/ou com a pessoa magoada, assim como vontade de resolver a situação. Apesar disso, é verdade que certos pedidos de desculpa podem ser mais, ou menos, satisfatórios. Segundo a psicóloga e investigadora norte-americana Karina Schumann, um bom pedido de desculpa deve incluir diversas características, tais como:
Assim, num pedido de desculpas sincero e genuíno, não devem estar presentes expressões implícitas que culpabilizem a vítima, como por exemplo “Peço desculpa por isto te ter ofendido”. Estas transmitem a mensagem de que a pessoa está afetada não por aquilo que o ofensor fez, mas porque é sensível. Pedidos de desculpa que transmitem uma ausência de consciência sobre aquilo que foi errado são também ineficazes, na medida em que não procuram verdadeiramente assumir responsabilidade, nem reconhecem o dano feito na outra pessoa. Um exemplo disso seria “se aconteceu alguma coisa que te ofendeu, então desculpa”. Estes alertas são importantes para que possa estar atento a eventuais relacionamentos tóxicos, em que o aparente pedido de desculpa mais não é do que uma estratégia para continuar a causar sofrimento ou dependência.
Contudo, existem situações em que pode realmente sentir que a responsabilidade não é sua. Em situações semelhantes, em que percebe simultaneamente que a outra pessoa está efetivamente mal, pode ser importante, em vez de culpabilizar a pessoa ofendida, transmitir que “Queria perceber melhor esta situação e porque é que te magoou tanto… será que podias explicar-me o que estás a sentir para eu compreender melhor?”. Esta é uma forma de ajudar a outra pessoa a sentir que tem interesse e vontade em compreender e resolver a situação, mesmo que não considere ser sua culpa.
Por fim, importa compreender que mesmo em situações em que reconhece a culpa na situação pode não ser fácil pedir desculpa. Segundo a psicóloga Karina Schumann, as barreiras a um pedido de desculpa podem passar por:
- 💥️Falta de preocupação com a outra pessoa, ou com a relação em causa. Em relações que não são suficientemente relevantes ou importantes, pode sentir que não vale a pena assumir o risco de se vulnerabilizar e pedir desculpa.
- 💥️Ameaça percebida à autoimagem. O facto de assumir um erro ao pedir desculpa é ameaçador. Pressupõe enfrentar a sua imperfeição, o que não é agradável. Isso pode dificultar a tarefa de o fazer e levar a que tente desvalorizar a situação (aliviando o desconforto no momento, mas afastando a reconciliação).
- 💥️Antecipação de ineficácia do pedido. Antecipar que as desculpas não vão ter impacto, seja por achar que a outra pessoa não as vai aceitar, ou que aquilo que fez foi demasiado grave para pedir desculpa, pode também dificultar este processo.
Segundo um estudo de Leunissen e colegas, sobre os erros de previsão associados à aversão em pedir desculpa, as pessoas tendem a sobrestimar as consequências negativas de pedir desculpa e subestimar os benefícios de o fazer. É importante compreender que, apesar de não dever partir do pressuposto que será perdoado, um pedido de desculpas genuíno tem um grande potencial e pode ter um impacto muito positivo em si, na outra pessoa, e na relação. Necessário referir ainda que um pedido de desculpa autêntico deve, invariavelmente, ser acompanhado por um esforço genuíno de mudança de comportamento e postura.
As desculpas também se pedem e nem sempre se evitam, sobretudo, se por algum motivo, não atuou como gostaria.
✅Um artigo de Samuel Silva e Mauro Paulino, psicólogos clínicos e forenses da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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