De escadas ou elevador? Em Santa Luzia, um visitante teve tempo para pensar várias vezes - Bilhete-postal Viagens

Quem chega a Viana do Castelo pela primeira vez depois de já ter visitado Paris tem boas possibilidades de receber um eco da capital francesa ao avistar o imponente Santuário de Santa Luzia. A semelhança com a Basílica do Sacre Coeur (iniciada quase 30 anos antes que o santuário) e a mesma devoção ao Sagrado Coração de Jesus podem ser apenas felizes coincidências, mas colocam as duas cidades em contacto nas memórias dos visitantes.

A semelhança não desvanece ao subir o monte de Santa Luzia. Os dois templos oferecem uma vista panorâmica das respectivas regiões a que é difícil resistir, mesmo quando já somos visitantes repetentes.

Foi o meu caso ao regressar a Viana em junho. A ideia era passear simplesmente pela cidade, junto ao rio Lima, entre a ponte Eiffel (Paris, tu outra vez?) e o Forte Santiago da Barra, mas onde quer que estejamos, é difícil escapar ao olhar de coruja das grandes rosáceas do Santuário e ao impulso de subir o monte de Santa Luzia.

Na primeira vez, há alguns anos, fui pelas escadas, que não foram tão cansativas quanto os 659 degraus possam sugerir. Nesta segunda visita, o cansaço acumulado da viagem parecia pedir um meio mais fácil de chegar ao topo: o elevador de Santa Luzia só precisa de seis a sete minutos para fazer a viagem de 650 metros (a mais longa de todos os funiculares do país, gaba a página oficial).

Basílica de Santa Luzia, Viana do Castelo A Basílica de Santa Luzia, em Viana do Castelo

Tomar o elevador, porém, mostrou-se mais demorado. Poucos momentos depois de pagarmos os nossos bilhetes (vale a pena notar que não havia referência visível ao desconto proporcionado aos visitantes seniores, o que fica mal a uma infraestrutura que assinala este ano o seu centenário), chegou à base do elevador uma das viaturas usadas para levar e trazer passageiros. Preparámo-nos para entrar a bordo, só que, para surpresa geral, passados 5 minutos, esta iniciou a sua viagem sem ninguém no interior. O elevador é controlado a partir do topo do monte e, ao que parece, ninguém notou que o veículo partiu sem levar passageiros. Não restava senão voltar a esperar pelo próximo e conjeturar sobre o que acabara de acontecer.

Depois de 15 minutos, chega um elevador cheio de passageiros e voltamos a formar fila para embarcar. Mais uma vez, as portas não abrem e receamos o impensável: que não haveria ninguém a controlar a entrada e saída dos passageiros pelo circuito fechado de televisão. Já no limiar da exasperação, sugerimos na bilheteira que entrem em contacto telefónico com o centro de controlo, mas a única resposta que recebemos é um encolher de ombros de quem já parece habituado aos desmandos da engrenagem.

O absurdo da situação dá lugar ao alívio geral quando, qual sésamo, as portas se abrem e ocupamos os nossos lugares no elevador. A história podia ter ficado por aqui, se não fosse um novo compasso de espera de alguns minutos à chegada ao topo do monte. Sem ar condicionado ligado nem qualquer informação exterior, a sensação foi a de termos sido, mais uma vez, e agora literalmente, deixados pendurados. 

É tarde demais para dizer que esta era a nossa segunda tentativa nesse dia para subirmos de elevador a Santa Luzia? Horas antes, ainda de manhã, a infraestrutura encontrava-se encerrada devido a uma “avaria técnica” não especificada. A ideia de ficar "esquecido" no interior de uma cabine abafada com mais 10 pessoas veio-me subitamente à mente, enquanto esperávamos, num silêncio expectante, que alguém no exterior reparasse em nós.

A súbita abertura das portas proporcionou a todos o segundo momento de alívio dessa tarde. À saída, um dos passageiros portugueses chegou a confrontar o funcionário de serviço nessa área com os sucessivos desencontros e a falta de ar condicionado, mas não foi possível perceber que justificações, se algumas, foram dadas.

A subida foi mais demorada e atribulada do que seria de esperar, é certo, mas a vista do alto de Santa Luzia fez reset à irritação e incredulidade com o sucedido. A única questão agora que faltava decidir, estando já munido de um bilhete de ida e volta (3€), era como descer novamente ao centro da cidade...

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