Polipose nasal e anosmia: tudo o que precisa de saber - Fitness e bem-estar Lifestyle

O que é a anosmia e o que é polipose nasal?

A palavra anosmia designa uma perda total do olfato. Esta perda tem um grande impacto na qualidade de vida, nas nossas atividades diárias e até nas nossas relações interpessoais, já que o olfato tem uma função importantíssima na distinção dos sabores dos alimentos e é fundamental para a nossa proteção individual, para a memória e no prazer.

O que seria de nós se não conseguíssemos identificar perigos como o cheiro a gás ou a fumo? Com muita frequência, associamos cheiros a sentimentos e a emoções. Há cheiros que nos recordam pessoas queridas, sítios onde já estivemos, a gastronomia da nossa infância…

São várias as causas para a ocorrência de anosmia. A anosmia pode resultar de lesões neurológicas que lesem a via olfativa, de desvios do septo nasal, de tumores benignos ou malignos e vários medicamentos têm, como efeito secundário, alterações no olfato.

Na rinossinusite crónica podem, também, existir alteração do olfato, sendo a anosmia muito característica da rinossinusite crónica com pólipos nasais (ou polipose nasal). 

No caso da Polipose Nasal, quais os principais sintomas/sinais de alerta a que devemos estar atentos?

A rinossinusite associa-se a uma inflamação do nariz e dos seios peri nasais. Estes seios são cavidades aéreas, vizinhas das nossas fossas nasais, localizadas no esqueleto da face, revestidas por uma mucosa idêntica à do restante aparelho respiratório, e que comunicam com o nariz.

A rinossinusite carateriza-se pela presença de dois ou mais dos seguintes sintomas: obstrução/congestão nasal, presença de secreções no nariz (designada de rinorreia), dor/pressão facial ou redução/ausência de olfato, sendo que um dos sintomas deve ser a rinorreia ou a obstrução nasal. Nas crianças, a tosse é também um sintoma frequente. A rinossinusite designa-se de crónica quando os sintomas têm uma duração igual ou superior a 12 semanas.

A rinossinusite crónica subdivide-se em rinossinusite crónica sem pólipos nasais e em rinossinusite crónica com polipose nasal.

Geralmente, a dor/pressão facial é mais característica da rinossinusite sem polipose nasal enquanto a anosmia é mais característica da polipose nasal.

Ao contrário da rinossinusite aguda, em que os sintomas têm uma duração inferior a 12 semanas, e são geralmente causadas por uma infeção; a rinossinusite crónica tem causas mais complexas. As infeções podem contribuir ou piorar a rinossinusite crónica, mas a inflamação de longa data não pode ser explicada apenas pela infeção.

Acredita-se que a rinossinusite crónica resulte de uma reação exagerada do sistema imunológico a algo, ao nível dos seios perinasais.

A exposição a alergénios do meio ambientes (ácaros, pólenes, fungos…), a irritantes como o fumo do tabaco ou a alguns medicamentos, algumas alterações do sistema imunitário e alterações hormonais podem estar na base desta condição. A causa da polipose nasal não é totalmente conhecida. Em alguns casos, pode associar-se a asma e a sensibilidade à aspirina ou outros anti-inflamatórios.

Como podemos prevenir o aparecimento de pólipos?

Um diagnóstico e um tratamento precoce são fundamentais para a prevenção da doença. É fundamental ficar alerta para os sintomas da polipose nasal e procurar um acompanhamento precoce na Otorrinolaringologia e na Imunoalergologia.

Medidas de evicção, como evitar a exposição ao fumo de tabaco, a produtos irritantes ou o uso excessivo de vasodilatadores nasais, é essencial. O tratamento das alergias e da asma e, ainda, a adoção de medidas de prevenção de exposição a alergénios do meio ambiente e prevenção das infeções respiratórias são fundamentais para a melhoria desta patologia.

Qual o impacto que esta doença pode ter?

A polipose nasal tem um impacto considerável na qualidade de vida. Por um lado, pela carga associada aos sintomas incomodativos (obstrução nasal, perda de olfato, rinorreia e pressão na face), e por outro, pelo impacto que os mesmos têm na audição, no sono, associando-se, muitas vezes, a limitações sociais e ocupacionais, absentismo laboral ou escolar.

Pode dizer-se que a polipose nasal afeta a vitalidade e a saúde mental e física do doente. Alguns estudos demonstram que a polipose nasal apresenta pior impacto na qualidade de vida dos doentes, quando comparada a outras doenças crónicas como, por exemplo, a artrite reumatoide, a diabetes ou a doença pulmonar obstrutiva crónica.

É comum que a polipose nasal se acompanhe de outras doenças (comorbilidades) como a asma e a sensibilidade à aspirina. Adicionalmente, a necessidade de terapêuticas médicas a longo prazo, a necessidade de tratamento cirúrgico e as mudanças nos hábitos e no estilo de vida impactam negativamente os aspetos físicos, emocionais e sociais da vida diária.

O diagnóstico baseia-se na presença de sintomas de rinossinusite (obstrução/congestão nasal, secreções nasais, dor/pressão facial, anosmia) por um período mínimo de 12 semanas e, ainda, na identificação de pólipos nasais. Esta identificação é feita através de endoscopia nasal, um exame direto onde, através de um tubo com uma câmara associada, é possível observar o interior do nariz e seios peri nasais ou através da realização de uma tomografia computorizada dos seios peri nasais.

Os pólipos nasais são lesões não-malignas que crescem e se projetam nas fossas nasais. Tipicamente são bilaterais, indolores e apresentam uma forma ovalada, semelhante a uma uva ou lágrima.

Estudos indicam que a Polipose Nasal está relacionada com a inflamação tipo 2. Pode explicar-nos um pouco melhor esta inflamação?

A polipose nasal é uma doença heterogénea que resulta de um processo de inflamação crónica. Decorre de alterações na mucosa epitelial que reveste os seios peri nasais e o nariz, e que resulta de uma interação desajustada entre o hospedeiro e as respostas imunes e/ou inflamatórias. A maioria dos estudos sustentam a existência de uma resposta inflamatória do tipo 2.

Neste tipo de resposta, há uma ativação das células Th2 do sistema imunitário. Esta é uma resposta típica das doenças alérgicas, em que há produção de algumas citocinas como a IL4, a IL5, produção de imunoglobulina E (IgE) e ativação de eosinófilos.

O conhecimento destes mecanismos é essencial para o desenvolvimento de terapêuticas médicas dirigidas aos mesmos.

Exemplos?

O tratamento tem como objetivo eliminar os sintomas e os pólipos, de forma a restabelecer a respiração e o olfato, prevenir a recorrência da doença e melhorar a qualidade de vida dos doentes.

A terapêutica engloba a irrigação nasal com soluções salinas hipertónicas, o tratamento médico e/ou cirúrgico.

A base da terapêutica médica são os corticoides tópicos nasais, sob a forma de spray. Estes apresentam uma boa segurança, contudo a resposta aos mesmos é variável e a sua eficácia na redução dos pólipos e dos sintomas associados, pode ser limitada. Podemos associar outros medicamentos a estes sprays, sobretudo se o doente também tiver queixas rinite ou asma.

A terapêutica cirúrgica deve ser ponderada em caso de polipose grave e/ou ausência de resposta ao tratamento médico.

Recentemente foram aprovados, alguns medicamentos biológicos para o tratamento da polipose nasal. Estes são anticorpos "monoclonais", preparados sinteticamente de forma a bloquear um elemento específico do sistema imunológico (exemplo: uma célula, uma citocina) que esteja envolvido na inflamação subjacente à polipose.

De que forma têm evoluído os tratamentos nesta área?

O desenvolvimento dos medicamentos biológicos representa, sem dúvida, um avanço significativo no tratamento dos pólipos nasais, principalmente para os doentes que tiveram recorrência da sua polipose nasal após uma cirurgia. Está documentado que estes medicamentos biológicos reduzem o tamanho dos pólipos nasais e melhoram os sintomas da rinossinusite crónica, em especial, a anosmia, sobretudo quando usados em conjunto os corticoides nasais em spray.

Normalmente é uma doença difícil de diagnosticar. Qual o seu conselho para as pessoas que acham que podem ter esta patologia?

A polipose nasal impacta e limita a vida de cerca de 12% da população. O seu diagnóstico é muitas vezes demorado e surge apenas depois do recurso a múltiplas terapêuticas.

Assim, na presença de sintomas de polipose nasal, deve consultar o seu médico de Otorrinolaringologia ou de Imunoalergologia. Através de um plano terapêutico dirigido, é possível reduzir sintomas e melhorar a qualidade de vida.

As explicações são de Joana Cosme, médica do Serviço de Imunoalergologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte e Secretária do Grupo de Interesse de Rinite/Rinossinusite da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC).

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