Foi relacionamento tóxico? Talvez. Mas gosto de Marlene e de Xuxa
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Maria Ribeiro
No documentário do Pedro Bial, as duas contam que trabalharam juntas por 19 anos. E percebem que estavam separadas havia 19 anos. Não sei se dá para dizer que, com aquelas poucas horas —produzidas para consumo público— mágoas e dores de quatro décadas tenham sido resolvidas. Provavelmente, não. Mas elas toparam o encontro. E só isso já é enorme. Ponto para elas.
No último final de semana, fui ver a peça "Bárbara". Inspirada no livro "A Saideira", escrito por Bárbara Gancia, o texto, adaptado por Michelle Ferreira, fala de dependência química, e é utilidade pública disfarçada de teatro. No espetáculo, a jornalista é interpretada —brilhantemente, a propósito— pela atriz Marisa Orth. E vê-las juntas me causou enorme emoção.
De 2023 a 2022, fiz a peça "Pós-F", inspirada no livro da Fernanda Young. Para isso, além da imensa admiração que tinha —que tenho— por ela, vi tudo o que pude a respeito da minha amiga/personagem, de quem, por opção, nunca me despedi. Fernanda mora na minha trajetória, e tem dias em que aparece mais do que outros.
Sexta-feira foi um deles. Explico. Ela e Marisa compuseram, com Rita Lee e Mônica Waldvogel, a primeira formação do programa "Saia Justa". Metade desse quarteto, que me ajudou tanto expondo suas vidas —o que era então raro— não está mais aqui. O que só me dei conta cinco dias atrás.
Bárbara e eu também fomos "Saias", numa combinação que, pelo menos para nós, foi marcante e bonita. Quando saímos, no entanto, as notas na internet se resumiram ao script que vende: brigaram.
Verdade. Em quatro anos de convivência, tivemos duas discussões. E centenas de fechamentos. Mas por que ainda gostamos tanto de comprar essa fake news ultrapassada de que a rivalidade feminina é maior do que a masculina? A quem serve a madrasta da Branca de Neve?
Xuxa e Marlene fizeram o que puderam. Com os instrumentos que tinham na época, elas encontraram, uma na outra, algo que as fez ficar juntas.
Foi um relacionamento tóxico? Provavelmente. Mas, quer saber? Até o relacionamento com a minha mãe, com quem não tenho mais muito tempo, foi tóxico. E certamente já fui abusiva em alguma relação.
Os tempos mudaram. Para melhor, sob muitos pontos de vista. Que bom poder rever, remendar, consertar, não desistir, não deixar de olhar. Eu gostava da Xuxa, não gostava da Marlene. Agora gosto das duas (e amei a ex-paquita Tatiana Maranhão!).
Nem todos os rompimentos têm solução. Mas só tentar eu já acho revolucionário. Mulheres não brigam mais do que homens. A gente briga igual. Nossa luta é pela igualdade. Até nisso. Da para acreditar?
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