Fotos são histórias: fotógrafa registra bebês que não vão sobreviver

Grupo Colcha surgiu há quase sete anos em Minas Gerais - Paula Beltrão

Camila Corsini

Do YSOKE, em São Paulo

"A gente tenta fazer com que aqueles buracos causados pela perda de um filho, com traumas e mágoas, com uma dor imensurável, não sejam maiores do que já são."

Paula é fotógrafa de família há cerca de dez anos. Para ela, faz parte da rotina clicar gestantes, partos e recém-nascidos.

E foi observando o ambiente da maternidade que ela percebeu que nem todas as mulheres ali estavam felizes e com seus bebês no colo.

Eu via uma placa escrito decesso, uma mãe chorando. E aí eu perguntava para a enfermeira: 'o que aconteceu?'. Ela respondia: 'o bebê morreu'. E isso não acontece necessariamente no momento do parto. Às vezes, a mãe vai fazer um ultrassom de rotina e constata que o bebê está ali sem batimento. São outras realidades mais comuns do que a gente pensa.

Convite para um parto diferente

Toda essa situação começou a gerar um certo incômodo em Paula. "Ao mesmo tempo que eu estava ali registrando a história com muita alegria, a gente via famílias que deveriam ter o mesmo respeito e empatia com o que estava acontecendo com as histórias delas", completa.

Na companhia de uma doula, Paula começou a compartilhar essas histórias nas redes sociais. Em parceria com a psicóloga Daniela Bittar, especialista em luto e em puerpério, elas entenderam a importância de amparar e acolher essas famílias.

Fotos ajudam família a entender e lidar com a perda de um filho - Paula Beltrão - Paula Beltrão Segundo a fotógrafa, as fotografias ajudam no processo de elaboração do luto - Paula Beltrão - Paula Beltrão Parte da caixa de memórias oferecida a mãe que passou pelo luto neonatal - Paula Beltrão - Paula Beltrão

Parte da caixa de memórias oferecida a mãe que passou pelo luto neonatal

Ajuda na elaboração do luto

A fotógrafa explica que, em geral, é procurada por amigos ou familiares das mães. "A gente chega no olho do furacão, no momento de maior emoção. Então a gente fala com as pessoas que estão em volta desse pai e dessa mãe da possibilidade de oferecer algo diferenciado."

A gente sabe que viver um processo de chegada e partida, da despedida de um filho, de forma mais lenta e respeitosa é muito melhor para a vivência dela. Mas existe um tabu, ninguém quer se preparar [para passar por esse momento].

"Para a mãe, é preferível ela ter algo que ela nunca queira ver, como as fotos do filho que partiu, do que querer ter algo que você nunca mais vai conseguir ter. A foto é isso. Ela traz uma memória que vai doer, sim, para sempre, mas materializa o filho", completa.

Ela lembra de um encontro do grupo Colcha em que eu mãe contou que, quando o filho morreu, ela não quis vê-lo e que aconteceu tudo muito rápido. Depois, quando processou que ela tinha um filho, entendeu que não tinha nada de concreto sobre a existência dele.

"Ela foi ao laboratório em que estavam fazendo a análise patológica da placenta e pediu um pedaço. E ela fala: 'eu precisava provar para mim mesma que o que eu vivi não foi só um pesadelo'", finaliza Paula.

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