100 dias de governo: Lula fortalece mulher negra, mas falta orçamento

100 dias de governo: Lula fortaleceu mulheres negras, mas falta orçamento
Lula (PT) e a ministra da Cultura, Margareth Menezes: mais mulheres negras em cargos altos da administração pública - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mas entre os avanços promovidos pelos governos do PT no passado —aos quais podemos adicionar agora os pacotes de políticas para mulheres, negros e negras, indígenas, povos originários e povos de terreiros— lógica da guetificação, que se provou errônea e insuficiente há 20 anos, parece persistir.

A simples observação de que raça, gênero, território e classe são marcadores sociais determinantes para as políticas públicas setoriais não resolve a questão fundamental do isolamento das pastas que cuidam exclusivamente desses temas. Em consequência disso, as limitações orçamentárias condenam o desenvolvimento da população negra e de outros grupos minorizados.

Os pobres, os indígenas, as mulheres e os pretos não podem ser apenas objetos (leia-se, público-alvo) de políticas públicas, mas precisam figurar como sujeitos com condições de participar e incidir nos processos de tomada de decisão em todos os espaços. E o que não faltam são profissionais aptos e dispostos para tanto.

Mas como reivindicar a presença de mais mulheres negras no poder sem a solução definitiva do caso Marielle Franco? O feminicídio político da vereadora completou cinco anos sem respostas. Cinco anos é mais do que um mandato de vereança e quase três vezes mais tempo do que Marielle esteve como parlamentar na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Em total contraposição à reação da sociedade, que cobra por respostas porque entende que é um crime que projeta terror e desesperança sobre outras lideranças femininas e negras, de esquerda, LGBTs, de favelas e periferias, as autoridades brasileiras parecem ter dificuldade em conectar a interrupção brutal da vida de uma parlamentar eleita com mais de 46 mil votos aos direitos de todas, todos e todes de exercer em plenitude a sua cidadania.

No que diz respeito às pautas que consideramos urgentes, acreditamos que os conhecimentos, experiências e inspiração política de mulheres negras podem ajudar a vislumbrar respostas para questões novas e antigas. Não restam dúvidas de que, nos últimos anos, houve um avanço sem precedentes do autoritarismo em detrimento do pluralismo e da participação cidadã na política nacional e internacional. Para nós, é importante registrar a natureza particularmente militarista e supremacista branca das formas de reorganização e ascensão da extrema direita —um fenômeno global— com notas acentuadas de ódio contra mulheres e pessoas negras, principalmente no Brasil.

Somos um movimento de mulheres negras jovens sensíveis às delicadezas da atual conjuntura e conscientes das enormes tarefas históricas que se apresentam para a nação brasileira. Com serenidade, afirmamos que a conciliação e o apaziguamento não devem ser sinônimos de inércia e interdição. De forma pragmática, trabalhamos pela politização da população por outros motivos que não o ressentimento e a raiva, dobramos nossas apostas nos processos coletivos e estimulamos o aumento da consciência popular sobre a necessidade de defender a democracia.

Esperamos que os esforços do Mulheres Negras Decidem e de tantos outros coletivos, organizações e movimentos sejam acompanhados de uma postura responsável do novo governo, para o reordenamento das forças políticas (inclusive de oposição) e o empoderamento daqueles setores que estão verdadeiramente comprometidos com o cumprimento do pacto democrático firmado em 1988.

Como mulheres negras, somos mais de 28% da população; mobilizadoras, entre o pensar e o sentir, prontas para contribuir com o desenho e a implementação desse novo projeto de nação.

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