Bruna Linzmeyer relata ter vivido tentativa de cura gay em psicanálise

Bruna Linzmeyer: O medo é um dos piores sentimentos do mundo. Ninguém precisa falar "não saia de casa", "não use essa roupa", "não beije sua namorada em público". Você se autorregula -- e aí está o perigo. Muitas vezes, esse medo autorregulatório me invadiu.

💥️Qual sua relação com a espiritualidade?
Minha tataravó, bisavó, mãe e tias são benzedeiras, trabalham com ervas e eram parteiras. Na família, não tínhamos dinheiro para ir ao médico, íamos na benzedeira. Minha mãe trabalhou na igreja católica, foi coroinha e hoje trabalha num centro espírita. Minha avó vai à missa toda semana, mas também vai ao centro espírita e faz cirurgia espiritual. Frequento religiões, vou a alguns centros e igrejas diferentes.

💥️Quando era mais nova, tentaram impor uma religião a você?
Não. "Medusa" retrata um tipo de gente que pertence a religiões controladoras, que querem atuar na política. Nos últimos anos, vimos isso acontecer na nossa cara. Mas reconheço a importância do papel desempenhado pelas igrejas na sociedade, principalmente em espaços em que o Estado não chega. São locais de acolhimento, onde se aprende a cantar e crianças ficam à tarde para os pais trabalharem.

💥️O filme mostra mulheres cerceando seus desejos em nome da religião e com medo de críticas. Em algum momento você agiu assim?
O corpo das mulheres é visto como público. Pensam que podem dar opinião sobre nossos corpos, acham que sabem mais sobre a gente do que nós próprias. Tive uma experiência traumática em um consultório de psicanálise. A psicanalista era lesbofóbica e foi fazendo com que me cerceasse. Durante anos, vivi o que chamamos de cura gay. Como diz a escritora bell hooks, a liberdade é um exercício constante. Precisamos ter comprometimento com nossos desejos e construir uma rede de afeto que nos dê suporte. Se só convivemos com pessoas e familiares que nos julgam o tempo todo, fica difícil.

💥️Vale a pena dialogar com quem escreve absurdos nas suas redes?
É possível o diálogo com afeto. Quem ama muito essas pessoas vai ter que conversar com elas. Eu não vou. Vou conversar com quem amo. Mas essas situações, como ler comentários sobre meu cabelo, não me afetam mais.

💥️Como chegou a esse entendimento?
Por mais que minha família seja simples, da roça, sempre acreditou na minha estranheza. Do contrário, nunca teria me tornado atriz. Às vezes, a gente acha o estranho ruim, mas vejo como bom. E "estranho" é uma tradução para o português de ✅queer, aquilo que é excêntrico. Precisamos valorizar isso. Sei que é um privilégio, ainda mais sendo uma pessoa LGBT, porque a falta de apoio familiar é comum. Não quer dizer que não tive conflitos e foi fácil o tempo todo, mas tive apoio.

💥️Como se relaciona com o passar do tempo?
Tenho trabalhado para lidar cada vez melhor com a ideia de envelhecimento. Não tenho interesse em fazer procedimentos estéticos. Levei dois anos para encontrar uma dermatologista que não achasse que botox fosse a única forma de prevenção de envelhecimento. Acredito em boa alimentação, exercício físico, boa noite de sono, finais de semana de prazer.

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