Agora que podem, jovens com menos de 25 anos se preparam para laqueadura

Agora que podem, jovens com menos de 25 anos se preparam para laqueadura Carolina Bernardes, 22, quer fazer laqueadura - Acervo pessoal

Não me vejo como mãe. Não é uma responsabilidade que quero carregar. 💥️Carolina

A lei 14.443/22, que permitiu a ela antecipar os planos de ligar as trompas, entrou em vigor no dia 2 de março. Antes, a cirurgia só era autorizada para pacientes com 25 anos ou mais que tivessem, pelo menos, dois filhos vivos. As regras são as mesmas para vasectomia - a esterilização permanente em pessoas com testículos.

A jovem optou por usar, provisoriamente, o DIU (dispositivo intrauterino), um pequeno objeto em formato de T inserido no útero. "Apesar de achar um método seguro, quem nunca ouviu a história da amiga da fulana que engravidou com DIU?", afirma.

Ideias machistas

Para realizar a laqueadura ou a vasectomia, a lei continua a exigir que os interessados tenham "capacidade civil plena" —três palavras que abrem uma brecha para que suspeitas a respeito da sanidade mental ou poder decisório dos candidatos à esterilização sejam levantadas.

Carolina Bernardes, por exemplo, já ouviu de conhecidos que a decisão de não ser mãe é inconsistente. "Dizem que vou mudar de ideia, que só preciso encontrar a pessoa certa", afirma. Ela já escutou a previsão de que, uma vez apaixonada, será incapaz de dizer "não" caso o desejo do cônjuge seja ter filhos.

"Relacionam uma decisão importante da minha vida a um homem", queixa-se a coreógrafa. "É uma ideia machista".

O cansaço da maternidade

Mãe de uma bebê de quatro meses, a profissional de gastronomia Débora Marinho, 22 anos, não pretende engravidar novamente. Apesar da discordância dos pais, faz planos para, em breve, procurar atendimento médico e realizar a laqueadura. Até antes de março, teria que esperar mais três anos para isso.

Já tenho uma filha, não quero passar por uma gravidez e um pós-parto novamente. 💥️Débora

"Não tenho condições psicológicas e nem vontade de ter mais filhos", justifica. "A lei é importante para a liberdade de escolha da mulher. A maternidade não é fácil e nem todo mundo está preparado para viver algo tão intenso e cansativo", avalia.

Joseane Sá, 22, está em um trabalho informal e pretende focar nos estudos e na busca por melhores oportunidades profissionais. Nesse roteiro, não há espaço para a maternidade.

"Muita gente se espanta quando digo não querer ter filhos", ela afirma, reforçando que a decisão é definitiva. Por isso, quer se valer da lei para realizar a laqueadura.

Um bebê exige um preparo psicológico enorme dos pais, sem falar nas condições financeiras. 💥️✅Joseane

Ela considera a lei um avanço para que as mulheres possam decidir sobre o próprio corpo, sem a interferência do Estado ou da igreja. "Precisamos ter autonomia", diz

Esterilização higienista

No Brasil, a técnica de esterilização foi aperfeiçoada e difundida a partir dos anos 1960. Entre as décadas de 1970 e 1980, durante a ditadura militar brasileira, o número de realizações do procedimento cresceu. Na época, discursos higienistas de controle populacional disseminavam a ideia de que os mais pobres deveriam evitar filhos.

No início dos anos 1990, uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito averiguou a laqueadura em massa no país. A partir do resultado das investigações, que constatou práticas indiscriminadas de esterilização, novas regras para o procedimento foram criadas.

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