Conheci o sexo e o amor no Carnaval e garanto que a vida pode mudar
Num Carnaval, há sete anos, fiquei com aquele que viria a ser meu companheiro e pai do meu segundo filho. Nosso aniversário de primeiro beijo nem sempre cai no carnaval.
Num Carnaval, entre um e outro bloco, meio de ressaca, terminei a dissertação que se transformaria no meu primeiro livro. Que me transformaria na pessoa que pode dizer: sou escritora.
No mesmo Carnaval, eu procurava em cada multidão alguém que havia sumido proposital e repentinamente da minha vida. Não o encontrei. Isso também virou um livro muitos anos depois.
Num outro, gritei "fora Temer". Em muitos outros, "fora Bolsonaro". E continuarei gritando, como um eco, como um trauma, como um jeito de que jamais se repita.
Fiz muitos amigos duradouros nos fugazes dias de carnaval. Experimentei momentos memoráveis e outros que o álcool escondeu de mim para sempre, existentes ainda, quem sabe, na lembrança de alguém.
✅Até que, num sábado de Carnaval, meu pai morreu. Fiquei alguns anos sem conseguir me jogar na festa de novo.
Este ano eu volto, Carnaval. Volto para o seu riso, sua dança, sua culpa, para sua celebração, sua máscara e sua nudez. Volto para o seu remédio e sua dor, para o seu desperdício e sua síntese.
Talvez o Carnaval seja um pouco como Deus, um pouco como o que dissemos ao nosso filho no Natal do ano passado diante de sua frustração com o presente equivocado do Papai Noel: ele não te dá o que você quer, mas ele sabe do que você precisa.
Ou talvez não. Talvez o Carnaval seja mesmo a festa da aleatoriedade que é a vida, e resta a nós construir nossa história com as fantasias, as peças, os dias. Os Carnavais.
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