Seca: Transvases é solução pouco prudente e excessiva
O secretário de Estado do Ambiente disse ontem, em Viana do Castelo, que a solução de transvases entre bacias hidrográficas para a gestão nacional da água é uma solução “pouco prudente e excessiva”.
Questionado pela Lusa no final da sua intervenção na abertura de um colóquio promovido pela Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA), Emídio Sousa adiantou que a questão dos transvases “é uma matéria muito delicada” que não pode ser tratada com “ligeireza”.
“Tem-se falado muito de levar a água do norte para o sul, de transvases. Julgo que isso é uma matéria muito delicada, porque estamos a falar de investimentos que ninguém sabe exatamente de que números é que estamos a falar, e às vezes falamos destas coisas com alguma ligeireza e sem a profundidade que um assunto desta dimensão merece”, afirmou.
O governante, que falava a propósito das reuniões regionais do grupo de trabalho “Água que Une”, criado pelo Governo em julho para elaborar uma nova estratégia nacional para a gestão da água, considerou ser “aceitável” o transvase de água entre bacias se for uma curta distância e em situações esporádicas.
“Uma conexão às vezes para suprir esporadicamente, numa pequena distância, é aceitável. Pode acontecer no Guadiana para o Mira, pode acontecer no Algarve, em pequenas distâncias. A ideia de transportar água do rio Douro até ao Algarve parece-me pouco prudente e excessiva”, reforçou.
O secretário de Estado referiu ser necessário aguardar “com serenidade” pelas conclusões do estudo que está a ser elaborado pelo grupo de trabalho designado pelo Governo para depois serem tomadas as medidas necessárias”.
Na terça-feira, o ministro da Agricultura e Pescas anunciou no parlamento que a iniciativa “Água que Une”, que vai construir uma rede interligada de água para a sua distribuição eficiente, vai ser apresentada em janeiro.
Na sua intervenção na abertura do colóquio, onde foi apresentado o estudo “Água e Saneamento em Portugal – O Mercado e os Preços 2024”, desenvolvido pela Comissão Especializada de Legislação e Economia da APDA, Emídio Sousa alertou que o setor deve ter mais preocupações com as perdas do que com o preço da água.
“Perdas de água superiores a 20% é um desperdício. A água que nos chega a casa, canalizada e tratada, obriga a recursos de energia e a todo um investimento significativo. Se perdemos essa água no transporte ou nos ramais estamos a desperdiçar”, alertou.
O secretário de Estado do Ambiente disse que o “ótimo” seria ter os sistemas de distribuição de água em baixa com “perdas inferires a 15%”.
“Focamo-nos muito no preço e bem, porque todos queremos pagar menos, mas o preço poderia ser até mais baixo se não se perdesse mais água. As perdas têm de se pagar. E para quem é que vai isso? Para o consumidor final”, reforçou, lembrando que atualmente “já há soluções técnicas muito boas para diminuir as perdas”.
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