“Há trabalhos que não queremos ter um robot a fazer, mesmo que seja muito inteligente”

A Inteligência Artificial pode aumentar a nossa capacidade para sermos superhumanos? Mas então seremos todos iguais? Entre as promessas e os riscos, Kay Firth-Butterfield alerta para a necessidade de controlar as entidades que têm acesso à “chave” da IA e defende que a Europa está no caminho certo ao regular “Há trabalhos que não queremos ter um robot a fazer, mesmo que seja muito inteligente” IDC

💥️Kay Firth-Butterfield fez carreira como juíza mas no últimos anos assumiu responsabilidades na avaliação e aconselhamento na implementação de projetos de Inteligência Artificial, sendo uma das figuras de destaque na plataforma de IA e Machine Learning do World Economic Forum, e reconhecida como a primeira Chief AI Ethics Officer.

É sobre 💥️a utilização ética da Inteligência Artificial, e a forma como a tecnologia pode e deve ser desenvolvida para criar um impacto positivo duradouro, desde o momento da definição das soluções, que tem centrado a sua participação em muitas conferências, um pouco por todo o mundo, e em outubro esteve no IDC Directions, onde tivemos a oportunidade de a entrevistar.

💥️Dos empregos que se perdem, e se ganham, até à forma como o poder económico está a moldar a evolução da tecnologia, num mundo onde a geopolítica fala mais alto do que a inovação, a conversa realçou alguns dos tópicos já abordados no keynote, ficando bem sublinhado a necessidade de manter o humano no circuito, mesmo com todos os benefícios da Inteligência Artificial.

💥️“Há tarefas que a Inteligência Artificial pode fazer, mas há trabalhos que não queremos ter um robot a fazer, mesmo que seja muito inteligente”, sublinha Kay Firth-Butterfield, indicando o caso de um médico oncologista. Depois de ter passado por uma doença cancerígena, a juíza diz que esta é uma área onde precisamos de interação humana, mesmo que algumas coisas possam ser automatizadas, e o mesmo se passa com o ensino das crianças, por exemplo, ou o cuidado dos idosos.

💥️A visão terá de ser de dar aos humanos poderes adicionais. “Estamos a falar de aumentar a capacidade dos humanos. De tornar os humanos melhores”, sublinha.

Para Kay Firth-Butterfield,💥️ a questão que temos de colocar é que se todos formos superhumanos o que nos diferencia? “Se todos usarem IA todas as criações de publicidade ou moda vão ser parecidas. Temos de ter humanos para criar novas ideias e soluções e deixar a IA a tratar das tarefas rotineiras no backoffice”, destaca, lembrando que para isso é preciso que as empresas desenvolvam os seus projetos de forma ética e consciente, usando uma boa base de dados trabalhados de forma adequada, e com uma visão estratégica.

As parcerias são também um dos pilares mais relevantes para uma boa implementação de IA nas organizações.💥️ “É importante que as empresas saibam quais os modelos de IA que estão a usar e os dados que lhes estão a fornecer, porque não querem que a sua informação acabe por se tornar pública”.

Questionada sobre a possibilidade da IA gerar desemprego, a juíza admite que isso pode acontecer em algumas áreas, e que terá um impacto inicial, mas diz que vão ser criados novos empregos. 💥️“Se olharmos para a pirâmide etária na Europa e nos EUA vemos uma população envelhecida e vamos precisar de encorajar a entrada de migrantes mas há tarefas que a IA pode fazer”. Mesmo que não seja na agricultura e nas fábricas, pelo menos num momento inicial, a robótica e automação vão ter impacto nestes trabalhos, como terão nos empregos de conhecimento intensivo.

💥️A necessidade de um enquadramento ético e o AI Act na Europa

Numa análise à forma como as organizações estão a abordar a Inteligência Artificial de um ponto de vista estratégico, olhando para as questões éticas, 💥️Kay Firth-Butterfield elogia a forma como a Europa está a garantir as bases com o AI Act, mas também os Estados Unidos com a regulamentação aprovada pela administração Biden.

💥️“Acho que a Europa deve celebrar o facto de estar a colocar regras e a liderar um movimento de IA responsável no mundo”.

O mesmo não acontece noutras áreas geográficas, como a Ásia, onde a IA está a ser desenvolvida sem as regras e controles éticos. 💥️“Francamente, acho que não gostaria de viver na China”, afirma, lembrando a forma como são combinados os dados dos cidadãos e a videovigilância, mas também acesso a serviços e até financiamento e empregos.

E a Rússia é uma preocupação? “Também não sabemos o que a Rússia está a fazer. Aliás, sabemos que estão a criar muito conteúdo falso mas não sabemos se estão a fazer mais coisas”, afirma.

A questão da ética tem de ser colocada acima de todas as outras, mas neste momento o desenvolvimento também tem estado centrado nas mãos de quem tem dinheiro para investir em investigação e poder computacional.💥️ “Se ‘atirarmos’ milhares de milhões de dólares aos projetos de IA podemos ter diferentes resultados”, avisa, dizendo que temos de estar vigilantes para avaliar os investimentos nestas áreas e a forma como podem mudar radicalmente os equilíbrios geoestratégicos.

Regulação como o AI Act vai ajudar a tornar mais claro o que os sistemas fazem, com transparência e responsabilidade, e💥️ Kay Firth-Butterfield defende também a utilização de modelos abertos, open source, como o LLaMA  

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