Setor do vestuário em segunda mão é um dos principais motores da criação de emprego e de crescimento económico em África
Um novo relatório encomendado pela rede internacional de desenvolvimento Humana People to People revela o impacto positivo do sector do vestuário em segunda mão no emprego e no desenvolvimento económico em África.
Intitulado “Criação de emprego no sector do vestuário em segunda mão em África: os casos de Angola, Guiné-Bissau, Malawi, Moçambique e Zâmbia, o estudo evidencia o papel central do sector na promoção de emprego, no reforço dos meios de subsistência e na geração de receitas vitais para os governos africanos.
Estes impactos são particularmente notórios nos países em que a agricultura não mecanizada ainda absorve a maior parte da força de trabalho. Com base em cinco estudos de caso, o relatório revela que Angola, Guiné-Bissau, Malawi, Moçambique e Zâmbia empregam mais de 1,28 milhões de pessoas no setor do vestuário usado, sendo que cada tonelada de roupa importada equivale a 6,5 empregos. Em média, o setor do vestuário usado é responsável por 11% do emprego total no sector dos serviços nestes países.
Segundo o relatório, o trabalho no setor do vestuário usado sustenta mais de 2,5 milhões de pessoas (tendo em conta os dependentes) nestes 5 países, oferecendo oportunidades de diversificação de rendimentos a famílias que vivem quase exclusivamente da agricultura de subsistência.
Ao nível das contribuições fiscais, o sector gera anualmente mais de 73,5 milhões de dólares (67,8 milhões de euros) em receitas fiscais para os governos de Angola, Guiné-Bissau, Malawi, Moçambique e Zâmbia, financiando serviços públicos e infraestruturas.
No que diz respeito ao consumo, o acesso a roupa barata e de qualidade é fator de empoderamento para cidadãos com rendimentos modestos, permitindo-lhes escolher e adquirir peças de vestuário essenciais.
O relatório sublinha que o aumento das importações de roupa usada não constitui a causa principal do declínio da indústria têxtil africana. Outros fatores, como dificuldades de acesso a matérias-primas e falta de investimento em instalações e maquinaria, “terão sido determinantes”. O setor do vestuário em segunda mão “não é inibidor de desenvolvimento económico; pelo contrário, tem potencial para crescer e proporcionar empregos e rendimentos adicionais”.
A mesma fonte revela ainda que o setor do vestuário em segunda mão “incorpora os princípios de uma economia circular, prolongando o ciclo de vida dos têxteis e promovendo a sustentabilidade”. Apoiar o seu crescimento “significa criar mais empregos verdes e atenuar os impactos ambientais da indústria têxtil”.
Patrick Diamond, professor de Políticas Públicas na Queen Mary University of London, afirma: “Este estudo fornece provas claras de que o sector do vestuário em segunda mão é uma grande força económica em África, desmentindo a ideia comum de que compete com as indústrias têxteis do continente. Na verdade, complementa-os, dinamizando a economia local e fornecendo vestuário essencial a preços acessíveis. Com as políticas certas, o setor poderá proporcionar ainda mais benefícios económicos e sociais”.
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