Como é o plano nuclear do Bill Gates pra energia elétrica

Bill Gates, cofundador da Microsoft, aposta em energia nuclear para enfrentamento da emergência climática

Bill Gates, cofundador da Microsoft, aposta em energia nuclear para enfrentamento da emergência climática Imagem: Justin Tallis/Pool via Reuters

O empresário Bill Gates esteve em Kemmerer, nos Estados Unidos, na segunda-feira (10), para inaugurar a usina nuclear Natruium. Ela deve produzir eletricidade sem emitir dióxido de carbono, gás de efeito estufa que contribui para o aquecimento global. A empresa responsável pelo projeto é a TerraPower, da qual Gates é presidente.

Apesar de os trabalhadores já estarem preparando o terreno nesta semana, o projeto ainda não foi aprovado pela Comissão Reguladora Nuclear. Além disso, a matéria-prima utilizada pela usina traz risco armamentista, segundo especialistas.

O que aconteceu

A usina foi projetada de forma que as principais peças, como as turbinas a vapor e a bateria, fiquem fisicamente separadas do reator. Para a montagem delas, segundo a empresa, não é necessário aprovação regulatória e, por isso, as obras já poderiam começar. No entanto, a aprovação do projeto pode levar até mais de dois anos.

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A TerraPower recebeu financiamento do Departamento de Energia do país e espera construir a usina até 2030, utilizando Haleu, um sódio líquido que teoricamente poderia baratear os custos da construção do reator nuclear.

Além disso, o reator também conta com uma bateria de sal fundido que permite que a usina controle a potência conforme necessário, auxiliando também na economia da energia.

Em 2022, a empresa estimou que o reator Kemmerer custaria US$ 4 bilhões, segundo o The New York Times. No entanto, os custos podem ser ainda mais altos.

Gates investiu mais de US$ 1 bilhão de sua fortuna na TerraPower. A empresa tem um projeto de criar reatores pequenos para abastecer diversas cidades no país, cuja matriz de energia elétrica é principalmente o carvão.

O que é Haleu?

O combustível chamado urânio de alto teor e baixo enriquecimento, ou Haleu, na sigla em inglês, é enriquecido a até 20%, comparado com os cerca de 5% para o combustível que é usado na maioria dos reatores.

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O urânio é um elemento radioativo encontrado na natureza. Para se tornar combustível nuclear, ele passa por um processo que resulta em um material com uma maior concentração do isótopo urânio-235.

Até recentemente, o Haleu era fabricado em quantidades comerciais apenas na Rússia, mas os EUA pretendem produzi-lo para abastecer uma nova leva de reatores.

O presidente dos EUA Joe Biden, por meio do Ato de Redução da Inflação, separou 700 milhões de dólares para o programa de disponibilização de Haleu, incluindo a compra do combustível, para criar uma cadeia de suprimentos para alguns pequenos reatores modulares e outros mais tecnológicos.

Um porta-voz da TerraPower afirmou que o projeto utilizará o Haleu porque ele permite uma produção de energia mais eficiente e reduz o volume de resíduos nucleares. "A TerraPower tem feito da redução dos riscos de armamento um princípio fundamental", afirmou o porta-voz, acrescentando que o seu ciclo de combustível elimina o risco de proliferação.

No entanto, um estudo publicado no periódico Science apontou uma preocupação com a forma de utilização do urânio. Segundo Scott Kemp, professor no MIT, ex-conselheiro científico de controle de armas do Departamento de Estado norte-americano e um dos autores do artigo, o urânio é diretamente utilizável para armas nucleares "sem qualquer enriquecimento ou reprocessamento adicional".

Em outras palavras, os novos reatores trazem um risco sem precedentes para a segurança nuclear. Desenhar tal arma não seria uma tarefa simples, mas não há quaisquer razões convincentes para crer que ela não poderia ser feita. 💥️Scott Kemp, autor do artigo à Reuters

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Como é o projeto?

Energia nuclear é produzida quando um combustível radioativo é colocado em um reator para gerar a fissão. Nesse processo, o núcleo de um átomo se divide dentro de um núcleo de um reator. Nas reações com água, o combustível sólido fica dentro do revestimento (metal resistente à corrosão) que impede que peças radioativas contaminem o agente refrigerador. A água ao redor do revestimento ajuda a transformar o calor de uma reação em vapor, para as turbinas gerarem eletricidade.

O projeto da TerraPower com o cloreto líquido coloca o combustível de urânio e o agente refrigerante no mesmo sal fundido. A fissão pode aquecer os sais diretamente à medida que a mistura flui através do núcleo do reator. A mistura passaria pelos trocadores de calor para gerar calor ou eletricidade.

A expectativa é a de que um protótipo possa produzir até 1.100 megawatts de eletricidade. Esse poder seria suficiente para dar energia a 825 mil casas, de acordo com a Comissão de Energia da Califórnia.

Mas há dúvidas se realmente é uma boa aposta. Cientistas da ONG UCS (União de Cientistas Preocupados, em tradução livre) alertaram que a empreitada pode trazer riscos, em um relatório divulgado em 2023.

"As tecnologias desses reatores são, sem dúvidas, diferentes dos reatores atuais. Mas não está nada claro que sejam melhores. Em muitos casos, são piores em termos de segurança, possibilidade de acidentes graves e proliferação nuclear", disse Edwin Lyman, diretor da UCS, à Reuters, conforme reportou a BBC.

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*Com informações da Reuters e de reportagem de Gabriel Francisco Ribeiro

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