ChatGPT, DALL-E e mais: como a IA impacta o futuro da criatividade

Até bem pouco tempo, produzir trabalhos criativos era considerada uma capacidade exclusivamente humana. Com o lançamento de ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa como ChatGPT, robô virtual capaz de realizar diferentes tarefas por escrito, e DALL-E 2, gerador de imagens a partir de descrições textuais, essa percepção mudou. No que parece ser um passe de mágica – mas é aprendizado de máquina –, os softwares geram desde poemas a releituras de obras de arte famosas, impressionando milhões de usuários. Mas não são todos que recebem as "proezas artísticas" da IA com entusiasmo: os avanços na tecnologia preocupam profissionais da indústria criativa.

Dados da empresa de capital de risco Sequoia Capital preveem que até 2023 a IA generativa será capaz de escrever, projetar e codificar melhor do que os profissionais humanos das mesmas áreas. No entanto, para além do debate a respeito da possível substituição do homem pela máquina, os investimentos das grandes empresas de tecnologia em Inteligência Artificial e a rápida adesão do mercado a essas novas plataformas levantam outras questões. Que impactos a IA traz para a indústria criativa? A quem pertencem as obras criadas pelos softwares inteligentes? E, afinal, a IA pode "matar" a criatividade humana?

🔎 Seis coisas perigosas que o ChatGPT é capaz de fazer

Plataformas como DALL-E 2 prometem mudar os rumos da indústria criativa; entenda — Foto: Getty Images/Bloomberg 1 de 9 Plataformas como DALL-E 2 prometem mudar os rumos da indústria criativa; entenda — Foto: Getty Images/Bloomberg

Plataformas como DALL-E 2 prometem mudar os rumos da indústria criativa; entenda — Foto: Getty Images/Bloomberg

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Para responder essas e outras perguntas, o 💥️TechTudo conversou com pesquisadores em Inteligência Artificial, especialistas em Direito e com artistas. Nas linhas a seguir, entenda em detalhes o que é e como funciona a inteligência artificial generativa, as controvérsias que a envolvem e como ela pode mudar o cenário da indústria criativa.

O que é inteligência artificial generativa?

A inteligência artificial generativa, como o próprio nome indica, é capaz de gerar novos conteúdos a partir de comandos dos usuários. Basta fornecer uma instrução para que o software retorne, em poucos segundos, com o resultado – seja ele a resposta para uma pergunta, uma piada, um poema ou uma ilustração.

O trabalho, no entanto, não é fruto de criatividade, e sim do treinamento extensivo com modelos complexos de aprendizado de máquina. Após digerirem centenas de bilhões de dados, os modelos são capazes de prever a próxima palavra com base em sequências de palavras anteriores, ou a próxima imagem com base em palavras que descrevem imagens anteriores.

Uma foto da escultura de David, de Michelangelo, usando fones de ouvido — Foto: Reprodução/Dall-E 2 1 de 11
Uma foto da escultura de David, de Michelangelo, usando fones de ouvido — Foto: Reprodução/Dall-E 2 Uma tigela de sopa que também é um portal para outra dimensão; arte digital — Foto: Reprodução/Dall-E 2 2 de 11
Uma tigela de sopa que também é um portal para outra dimensão; arte digital — Foto: Reprodução/Dall-E 2 ✅Pular X de 11
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Dall-E 2 foi usado para recriar Mona Lisa, de Da Vinci, com cenário apocalíptico — Foto: Reprodução/tonidl1989 4 de 11
Uma lontra marinha com um brinco de pérola, por Johannes Vermeer — Foto: Reprodução/Dall-E 2 ✅Pular X de 11
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Uma pintura de estilo van Gogh de um jogador de futebol americano — Foto: Reprodução/Dall-E 2 6 de 11
Foto em alta definição de um macaco astronauta — Foto: Reprodução/Dall-E 2 ✅Pular X de 11
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Uma pintura a óleo expressiva de um jogador de basquete mergulhando, retratada como uma explosão de uma nebulosa — Foto: Reprodução/Dall-E 2 8 de 11
Uma palma da mão com uma árvore crescendo em cima dela — Foto: Reprodução/Dall-E 2 ✅Pular X de 11
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Campeonato Mundial de Mario Kart por Jacques-Louis David — Foto: Reprodução/Dall-E 2 10 de 11
Coala fazendo mágica — Foto: Reprodução/Dall-E 2 ✅Pular X de 11
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Hipopótamo praticando karatê de kimono — Foto: Reprodução/Dall-E 2 Site usa inteligência artificial para gerar imagens realistas a partir de descrições textuais

O massivo volume de dados usado no treinamento permite a geração de vários conteúdos diferentes, dependendo das nuances do comando fornecido pelo usuário – que também pode refazer o mesmo pedido diversas vezes. Assim, se você pedir a um chatbot inteligente “escreva um poema sobre amor” três vezes, o primeiro resultado será diferente do segundo, que será diferente do terceiro, e por aí vai.

Apesar de múltiplas, as respostas não são infinitas e vão sempre estar limitadas ao conjunto de dados processados, podendo até se esgotar em determinado momento. Isso significa que, embora os softwares de IA generativa pareçam entender o que dizemos, ainda não é algo comparável à compreensão humana.

Uma nova era na Inteligência Artificial

Capaz de analisar grandes volumes de dados para encontrar padrões, a inteligência artificial já se mostrou melhor que os humanos em tarefas repetitivas ou com alta probabilidade de erro. É o caso de atividades que seguem um padrão previsível, como a marcação de horário para atendimento e a realização de cálculos matemáticos, e das que exigem a análise de muitas informações simultaneamente. Mas, até bem pouco tempo, produzir resultados “originais”, especialmente trabalho criativo, era considerada uma capacidade exclusivamente humana.

Os recentes avanços na inteligência artificial generativa mudaram esse cenário. Ferramentas como DALL-E 2 e ChatGPT são capazes de produzir ilustrações, artes digitais, releituras de pinturas famosas, poemas, blog posts, roteiros para vídeo, ensaios, letras de música e muito mais. Tudo que você precisa é inserir um comando em texto e aguardar alguns poucos segundos.

Releitura da obra "Moça com brinco de pérola", do pintor Johannes Vermeer, feita pelo DALL-E 2 — Foto: Divulgação 2 de 9 Releitura da obra "Moça com brinco de pérola", do pintor Johannes Vermeer, feita pelo DALL-E 2 — Foto: Divulgação

Releitura da obra "Moça com brinco de pérola", do pintor Johannes Vermeer, feita pelo DALL-E 2 — Foto: Divulgação

O potencial dessas ferramentas foi prontamente abraçado pelos usuários de Internet. Prova disso é que o ChatGPT atingiu a marca de 100 milhões de usuários ativos apenas dois meses após seu lançamento, batendo record como a plataforma com crescimento mais rápido da história. Mas os internautas não são os únicos entusiasmados.

Em junho do ano passado, a revista americana Cosmopolitan lançou a primeira capa de revista feita com IA generativa. A imagem, que mostra uma astronauta caminhando no espaço, foi produzida em 20 segundos no DALL-E 2 a partir de comandos da artista Karen X. Cheng.

Capa da revista Cosmopolitan produzida com o DALL-E 2 — Foto: Reprodução/Cosmopolitan 3 de 9 Capa da revista Cosmopolitan produzida com o DALL-E 2 — Foto: Reprodução/Cosmopolitan

Capa da revista Cosmopolitan produzida com o DALL-E 2 — Foto: Reprodução/Cosmopolitan

A decisão editorial e artística da Cosmopolitan pode ser o prenúncio de um futuro não muito distante. Informações da Sequoia Capital, empresa focada em investimentos de alto risco, preveem que até 2023 a IA generativa será capaz de escrever, projetar, fotografar e codificar melhor do que os profissionais humanos das mesmas áreas.

Previsões da Sequoia Capital relativas aos avanços da inteligência artificial generativa nos próximos anos — Foto: Reprodução/Sequoia Capital 4 de 9 Previsões da Sequoia Capital relativas aos avanços da inteligência artificial generativa nos próximos anos — Foto: Reprodução/Sequoia Capital

Previsões da Sequoia Capital relativas aos avanços da inteligência artificial generativa nos próximos anos — Foto: Reprodução/Sequoia Capital

Diante dessa projeção, surgem questionamentos: o que isso representa para a indústria criativa? Afinal, a inteligência artificial generativa vai substituir a criatividade humana?

Impactos da inteligência artificial generativa na indústria criativa

Não é provável que a IA generativa substitua completamente a criatividade humana. Embora possa gerar conteúdo autônomo e criativo com base em modelos de aprendizado de máquina, ela ainda carece da capacidade humana de empatia, intuição e julgamento crítico. Além disso, a criatividade é um aspecto único da experiência humana que pode ser difícil de ser replicado pela tecnologia. Em vez disso, é mais provável que a IA trabalhe em conjunto com os profissionais humanos na indústria criativa, complementando suas habilidades e permitindo novos níveis de inovação.

As palavras que você acabou de ler foram escritas não por mim, e sim pelo ChatGPT. A resposta, que impressiona por sua coerência e coesão, apresenta um rápido vislumbre dos impactos e desafios que a IA generativa pode trazer para a indústria criativa e seus profissionais. O curioso, no entanto, é que a “visão” do chatbot está em linha com o que pensam os especialistas no assunto.

Uma biblioteca com visão aberta para o espaço — Foto: Reprodução/Midjourney 1 de 10
Uma biblioteca com visão aberta para o espaço — Foto: Reprodução/Midjourney Uma menina com árvores enraizadas na cabeça — Foto: Reprodução/Midjourney 2 de 10
Uma menina com árvores enraizadas na cabeça — Foto: Reprodução/Midjourney ✅Pular X de 10
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Super Mário e Princesa cozinhando — Foto: Reprodução/Midjourney 4 de 10
Um quadro de Harry Potter em estilo cubista — Foto: Reprodução/Midjourney ✅Pular X de 10
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Um astronauta jogando bola com o Planeta Terra — Foto: Reprodução/Midjourney 6 de 10
Versão realista de Peppa Pig — Foto: Reprodução/Midjourney ✅Pular X de 10
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Um inseto na floresta com asas brilhantes e pontos de luz pelo corpo — Foto: Reprodução/Midjourney 8 de 10
Um avião em formato de pássaro — Foto: Reprodução/Midjourney ✅Pular X de 10
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Um menino cavalgando no cavalo em cima de uma nuvem — Foto: Reprodução/Midjourney 10 de 10
Um urso gigante com armadura — Foto: Reprodução/Midjourney ✅Pular X de 10
Publicidade De fotos ultrarrealistas a quadros e esculturas: confira imagens inusitadas feitas com a ferramenta

Segundo o pesquisador do projeto “Human(e) AI”, da Universidade de Amsterdam, Mathias Felipe de Lima Santos, a IA generativa inaugura um novo cenário na indústria criativa, que precisará se reinventar para se adaptar ao futuro. “A tendência é que, nos próximos anos, as inteligências artificiais generativas sejam mais autônomas e mais fiéis à forma de expressão humana. Ferramentas como ChatGPT e DALL-E 2 provavelmente vão passar a fazer parte do nosso processo educacional, de trabalho e criativo”, opina o pesquisador, que não acredita na substituição do homem pelo software.

5 de 9 ChatGPT foi treinado com textos de diversos lugares da Internet — Foto: Getty Images/Bloomberg

ChatGPT foi treinado com textos de diversos lugares da Internet — Foto: Getty Images/Bloomberg

“Se o criador de conteúdo publicar integralmente um texto gerado pelo ChatGPT, ele pode ser acusado de plágio, já que o material é uma ‘colagem’ de diversos textos existentes na Internet. Isso destaca a importância da correta atribuição e citação de fontes na criação de conteúdo digital”, afirma.

Mesmo que o profissional use modelos de linguagem apenas como fonte de inspiração, há ainda a preocupação quanto à confiabilidade das informações, ressalta o pesquisador Mathias Felipe. Como o banco de dados do ChatGPT é composto por textos disponíveis em toda a Internet, e o chatbot não mostra a fonte das respostas, não é possível garantir que elas são confiáveis. "O problema é que, apesar de enganosas ou incorretas, as informações vêm com aparência de verdadeiras, o que pode favorecer a disseminação de desinformação, se não houver o cuidado de checar as respostas", explica.

ChatGPT escreve blog post otimizado para mecanismos de busca após simples comando — Foto: Reprodução/Ana Letícia Loubak 6 de 9 ChatGPT escreve blog post otimizado para mecanismos de busca após simples comando — Foto: Reprodução/Ana Letícia Loubak

ChatGPT escreve blog post otimizado para mecanismos de busca após simples comando — Foto: Reprodução/Ana Letícia Loubak

Ainda segundo Mathias Felipe, outro risco é a possibilidade de as inteligências artificiais generativas reproduzirem preconceitos como os de gênero e raça. Isso porque elas foram treinadas com informações produzidas por seres humanos inseridos em uma sociedade marcada pelo machismo e racismo estruturais.

Um exemplo é que, em dezembro do ano passado, artistas alertaram para o fato de que o Lensa, aplicativo que usa inteligência artificial para criar avatares personalizados, estava embranquecendo pessoas pretas. Não raro as imagens geradas pelo app traziam uma versão do usuário com pele mais clara, olhos azuis ou verdes em vez de castanhos ou pretos e nariz e boca mais finos. Mas o problema não é exclusivo do Lensa: durante a produção desta matéria, pedi ao DALL-E 2 para gerar a imagem de uma mulher bonita trabalhando. O software retornou com quatro fotos de mulheres brancas e loiras.

Respostas do DALL-E 2 para o prompt "foto de uma mulher bonita trabalhando" — Foto: Reprodução/DALL-E 2 7 de 9 Respostas do DALL-E 2 para o prompt "foto de uma mulher bonita trabalhando" — Foto: Reprodução/DALL-E 2

Respostas do DALL-E 2 para o prompt "foto de uma mulher bonita trabalhando" — Foto: Reprodução/DALL-E 2

Essa discrepância entre o real e o virtual é um dos motivos pelos quais a ilustradora Thais Barbosa não se enxerga inserindo inteligência artificial em seu processo criativo. “Gosto de saber de que fontes estou bebendo, digamos assim. A busca por inspirações é uma parte significativa do meu processo e faço isso, no geral, consumindo outros tipos de arte feitas por outros artistas, sejam eles escritores, cineastas, pintores ou músicos. Prefiro estudar uma base ‘real’ de referências”, comenta.

“No entanto, consigo imaginar que essas ferramentas possam auxiliar alguém na produção de seus próprios trabalhos, principalmente para tirar algo da abstração e tornar mais palpável”, completa. É o que pensa a também ilustradora e designer Nanda Doti. "As inteligências artificiais generativas são boas opções para conseguir inspiração e referências mais específicas de iluminação e composição que atendam suas ideias, por exemplo", opina.

Arte roubada?

Outra polêmica quando o assunto é inteligência artificial generativa e arte – seja visual, literária ou de outros tipos – diz respeito à propriedade intelectual. Afinal, a quem pertencem as artes e textos gerados pelos softwares inteligentes? Aos autores das obras que foram usadas para treinamento? Ao usuário que deu o comando para a geração do conteúdo? À própria plataforma?

Tayná Carneiro explica que, segundo a WIPO (sigla para “Organização Mundial da Propriedade Intelectual”, em português), o direito à propriedade intelectual existe quando há “criação da mente humana”. Por essa definição, os algoritmos da IA não podem ser considerados, legalmente, autores do conteúdo. No entanto, se considerarmos que os softwares foram desenvolvidos por seres humanos e que há um usuário por trás do comando que gerou a imagem ou texto, as coisas podem ficar mais complicadas.

Aplicativo utiliza Inteligência artificial para criar avatares a partir de fotos — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull 1 de 9
Aplicativo utiliza Inteligência artificial para criar avatares a partir de fotos — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull O app está entre os mais baixados da Google Play e Apple Store — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull 2 de 9
O app está entre os mais baixados da Google Play e Apple Store — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull ✅Pular X de 9
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O app é um editor de imagens, sendo possível baixar fotos dos avatares em preto e branco e aplicar outros efeitos — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull 4 de 9
App ganhou destaque nas redes sociais e foi utilizado por diversos famosos, como Ivete Sangalo e Luan Santana — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull ✅Pular X de 9
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O app, no entanto, é pago. A edição de imagens pode ser testada gratuitamente por uma semana; a função de criar avatares custa R$16,90 — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull 6 de 9
O app foi lançado em 2016 e tem o diferencial da maioria de suas funções serem feitas por Inteligência Artificial — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull ✅Pular X de 9
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Para criar o avatar, é preciso enviar entre 10 e 20 fotos, precisando ser da mesma pessoa — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull 8 de 9
As fotos precisam ser selfies ou fotos de retrato, tendo apenas uma pessoa na imagem — Foto: Reprodução: Anna Kellen Bull ✅Pular X de 9
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Para bons resultados, o app ainda recomenda que sejam utilizados fotos com variedades de fundos, expressões faciais e ângulos. — Foto: Reprodução/Anna Kellen Bull Aplicativo utiliza inteligênica artificial para criar os avatares e ficou entre os mais baixados nas lojas virtuais da Google Play e Apple Store nos últimos dias

A verdade é que a resposta não é nada simples. Na visão de Tayná Carneiro, a Lei de Direitos Autorais (nº 9.610/98) ainda não é capaz de lidar com as demandas geradas pelo uso de plataformas como ChatGPT, DALL-E 2 e Midjourney. “A legislação ainda pode não ser clara o suficiente para tratar de questões específicas relacionadas a inteligências artificiais generativas e as obras geradas por elas”, afirma a CEO da Future Law.

No ano passado, durante o auge da popularidade do Lensa, uma artista notou que os avatares 3D gerados pelo aplicativo traziam resquícios da assinatura do artista original. Aqui, é importante lembrar que o app não é gratuito e cobra a partir de R$ 22,90 pelo pacote de ilustrações. Ou seja, a Prisma Labs – empresa por trás do Lensa – estava lucrando com o uso não autorizado das obras, enquanto os artistas, além de não receberem pela reprodução de seus trabalhos, sofriam invisibilização.

Avatares 3D produzidos pelo aplicativo Lensa trazem resquícios das assinaturas de artistas — Foto: Reprodução/Twitter (editado por Ana Letícia Loubak) 8 de 9 Avatares 3D produzidos pelo aplicativo Lensa trazem resquícios das assinaturas de artistas — Foto: Reprodução/Twitter (editado por Ana Letícia Loubak)

Avatares 3D produzidos pelo aplicativo Lensa trazem resquícios das assinaturas de artistas — Foto: Reprodução/Twitter (editado por Ana Letícia Loubak)

Situações como essa levaram uma equipe de pesquisadores da Universidade de Chicago a projetar uma ferramenta chamada Glaze (http://glaze.cs.uchicago.edu/), que visa proteger os artistas de "usos invasivos do aprendizado de máquina". Funciona assim: imagine que você quer publicar um novo trabalho de estilo surrealista online, mas não deseja que a obra seja usada para treinamento de inteligências artificiais. Você pode enviar uma versão digital do seu trabalho para o Glaze e escolher um tipo de arte diferente do seu – abstrato, por exemplo.

A ferramenta, então, faz alterações na arte para confundir o algoritmo, de forma que este entenda que se trata de uma obra abstrata, e não surrealista. Assim, a IA generativa não será capaz de imitar o trabalho do artista. A olho nu, porém, as mudanças são quase imperceptíveis. Para desenvolver a ferramenta, que deve ser disponibilizada para download, os pesquisadores entrevistaram mais de 1.100 artistas e trabalharam em conjunto com a ilustradora e artista Karla Ortiz.

Página inicial do Glaze, ferramenta que visa impedir inteligências artificiais de imitarem o estilo de um artista — Foto: Reprodução/Glaze 9 de 9 Página inicial do Glaze, ferramenta que visa impedir inteligências artificiais de imitarem o estilo de um artista — Foto: Reprodução/Glaze

Página inicial do Glaze, ferramenta que visa impedir inteligências artificiais de imitarem o estilo de um artista — Foto: Reprodução/Glaze

Vale ressaltar que, apesar de dificultar o trabalho da IA, o Glaze não garante proteção aos artistas. Nesse sentido, Nanda Doti acredita que é preciso encontrar meios legais de proteger a propriedade intelectual dos profissionais e evitar que haja monetização sobre obras usadas sem autorização expressa dos autores.

“As empresas podem criar seus próprios bancos de dados com artes licenciadas pelos artistas em vez de buscarem pela Internet toda, por exemplo”, sugere. Nos Estados Unidos, companhias como Stability AI e Midjourney já estão sendo processadas por artistas por violação de direitos autorais e de publicidade.

O que esperar para o futuro?

Por ora, a única certeza que podemos ter é que os modelos de inteligência artificial generativa devem evoluir ainda mais, principalmente em decorrência dos investimentos pesados que grandes empresas têm feito na tecnologia. A Microsoft, por exemplo, está investindo US$ 10 bilhões na OpenAI. Em 7 de janeiro, a fabricante do Windows lançou uma versão aprimorada do buscador Bing, com a inteligência artificial do ChatGPT. O lançamento aconteceu um dia após o Google anunciar o Bard, chatbot inteligente também integrado ao mecanismo de pesquisa. A gigante de buscas, aliás, investiu cerca de US$ 300 milhões na startup de tecnologia Anthropic, fundada por ex-funcionários da OpenAI.

Com isso, a tendência é que seja cada vez mais difícil discernir se os textos ou imagens são produzidos por pessoas ou pela IA. Ainda assim, especialistas acreditam que o ser humano continuará tendo um papel central na indústria criativa, já que a criatividade é uma capacidade que os softwares, limitados aos dados com os quais foram treinados, não conseguem replicar. Entretanto, essa centralidade não elimina os desafios que os profissionais terão de enfrentar.

Nesse sentido, a ilustradora Nanda Doti entende que as inteligências artificiais podem trabalhar a favor ou contra os artistas, dependendo da forma como a sociedade é ensinada a utilizá-las. Thais Barbosa, por sua vez, acredita que as discussões sobre o tema por si só são uma oportunidade de reforçar a importância do trabalho artístico. "Fazer arte é trabalho especializado, fruto de estudo e prática e, por isso, artistas merecem ser respeitados e remunerados de maneira digna", ressalta.

Com informações de

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