Tião Carvalho vem a Goiânia promover vivência de Bumba-meu-boi e de Tambor de Crioula
Um dos maiores nomes vivos da cultura popular brasileira: Tião Carvalho. O artista maranhense, vai compartilhar com o público goiano as manifestações do Bumba-meu-boi e Tambor de Crioula numa imersão cultural gratuita, que conta com oficinas, rodas de tambor, exposição artística e cortejo, nos dias 27, 28 e 29 de outubro. O Mercado de Àkesán, evento artístico cujas atrações têm protagonismo negro, acontece no Orum Aiyê Quilombo Cultural, responsável pela produção deste evento, que pela primeira vez terá três dias de duração.
O protagonismo negro é o pilar deste evento, que terá mais duas edições, além desta, a serem realizadas em 2024. O quilombo se localiza na região Norte de Goiânia, no Residencial Nossa Morada. Na sexta-feira (27), às 14h, haverá uma oficina de musicalidade afro-brasileira ‘Tambor de Crioula’ com Tião Carvalho, que já apresentou-se com grandes artistas, como Klauss Viana, Sivuca, Hermeto Pascoal, Paulo Moura, Zeca Baleiro, Graziela Rodrigues, Ná Ozzetti e Cássia Eller. Mais tarde, às 19h, haverá uma roda de Tambor de Crioula.
No domingo (28), às 14h, Tião Carvalho vai oferecer outra oficina, desta vez de musicalidade e dança de Bumba-meu-boi. As oficinas serão destinadas para pessoas negras, com foco em integrantes de coletivos que pesquisam cultura popular e arte. A programação ainda contempla a exposição ‘As Rosas de Um Boi do Rosário’, que tem curadoria de Raquel Rocha. Trata-se de um mapeamento poético-visual da história do Boi do Rosário, que acontece há mais de 10 anos na cidade de Pirenópolis. A abertura acontecerá no sábado (28), às 19h e permanecerá em cartaz no Orum Aiyê Quilombo Cultural por 20 dias.
Encerrando a programação e encantando as ruas da região norte de Goiânia, no domingo (29) será realizado um cortejo do Boi do Rosário, com a presença do ilustre Tião Carvalho. A concentração do cortejo será às 14h, no Bar da Poliana (Setor Nossa Morada) e a sua chegada no Orum Aiyê Quilombo Cultural está prevista para às 18h. Ali, haverá a venda de acarajé e a Feira Preta, que comercializa livros, arte em macramê, aromaterapia, estética preta, moda, cachaças artesanais.
💥️Manifestações afro-diaspóricas
A presença do Bumba-meu-boi e do Tambor de Crioula nesta edição traz a referência cultural afro-diaspórica e da pajelança na música, na dança e na imagem. “São símbolos de uma resistência da musicalidade, do corpo preto e indígena e como todos esses elementos se fundem e se mesclam e nascem como uma das mais belas identidades brasileiras”, comenta Raquel Rocha, artista visual e produtora do mercado.
O Bumba-meu-boi é um folguedo popular tradicional da cultura brasileira que ocupa todo o território nacional, com nome e características próprias em cada localidade. A manifestação é composta por música, dança e teatro e cada participante ocupa o lugar onde tenha maior habilidade e que melhor lhe agrada, lhe traga maior satisfação e rendimento para todo o grupo.
Mesmo aqueles que não tenham habilidade para dançar ou tocar, podem participar da festa ajudando nos preparativos e na produção da festa, seja contribuindo na preparação dos figurinos, da comida, da fogueira e/ou participando da organização da manifestação e da brincadeira em si. Dessa maneira, a brincadeira valoriza o potencial de cada indivíduo acolhendo todos que quiserem participar.
Já o tambor de crioula é uma forma de expressão de matriz afro-brasileira popular no estado do Maranhão. Envolve dança circular, canto e percussão de tambores. É considerado referência de identidade e de resistência cultural dos negros maranhenses. Não se pode precisar com segurança as origens históricas do tambor de crioula. No entanto, por meio de documentos impressos e da tradição oral, é possível associá-lo a práticas lúdico-religiosas realizadas ao longo do século XIX por escravizados e por seus descendentes, como forma de lazer e de resistência à escravidão.
💥️Artistas negros no centro
O Mercado de Àkesán nasce do desejo dos produtores culturais e artistas Marcelo Marques e Raquel Rocha de realizar um evento afrocentrado com o propósito de gerar mais possibilidades de renda para afroempreendedores, contribuir para a valorização da produção artística em Goiás e potencializar trocas trazendo artistas de outros estados e nacionalidades. “Vale lembrar que a cultura dos povos negros tem sido histórica e sistematicamente negada pelas estruturas racistas que são hegemônicas nos locais poder. Com isso o Mercado de Ákesàn visa subverter essa ordem pensando a toda sua construção por um viés afirmativo, no qual o protagonismo negro é o foco”, compartilha Raquel Rocha.
As próximas edições do evento ainda trazem uma aula espetáculo de dança africana com o artista beninense Setchegnon Sokenou e a exposição Aláfia, da artista Rafaela Rocha. “Trazer tantos talentos reconhecidos para nosso Quilombo cultural alicerça a nossa luta antirracista e colabora para a promoção da arte preta. Ao mesmo tempo, fortalece a construção de novas subjetividades para as demais pessoas negras que frequentam o Orum Aiyê”, comenta Raquel sobre a escolha das atrações.
O nome do mercado faz referência a um cargo de Exú na Nigéria, que é o senhor do movimento, dos encontros e das encruzilhadas. “O evento traz as intersecções de diversas práticas artísticas. Além das atrações, pensamos a Feira Preta para fomentar a lógica do mercado, da troca, da arte e das potências de encontros sensíveis possibilitadas com este evento”, compartilha Raquel.
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