O desafio de Kamala
Há dois meses, a eleição americana mostrava-se como um espetáculo moroso no qual Donald Trump, ex-presidente que busca voltar à Casa Branca, venceria por pontos.
De lá para cá, o atual mandatário Joe Biden abandonou a disputa —algo inaudito desde 1968— e o republicano foi alvo de um atentado frustrado. Ungido como mártir, sua vitória parecia ainda mais certa.
O democrata rapidamente apoiou sua vice, Kamala Harris, que conseguiu recompor a campanha situacionista de forma tão eficaz que hoje larga em vantagem na etapa final da corrida.
Kamala acordou candidata na sexta (23) tendo meros 75 dias até a eleição. Na véspera, havia coroado uma bem urdida convenção democrata com um discurso que, se não chegou ao brilho de oradores como Michelle Obama ou a apresentadora Oprah Winfrey, mostrou uma postulante competitiva.
Um dos motivos da derrota de Hillary Clinton para Trump em 2016 foi a aposta da então primeira candidata mulher ao cargo máximo nos EUA em seu gênero. A tal América profunda sequestrada pelo trumpismo associa qualquer identitarismo a elitismo e privilégio.
Oito anos depois, em um país no qual famílias multirraciais são grupo demográfico em expansão e a representação feminina está em alta, Kamala fez um jogo balanceado.
Deixou para outros evidenciarem seu lugar de negra, de origem asiática. Em sua fala, explorou a ideia de que ela, não o arestoso rival, representa a defesa de liberdades individuais e oportunidades promovidas pela mitologia americana.
Com isso, buscou vacinar-se contra rejeições a seu esquerdismo. Além das dificuldades que terá no tema da imigração, uma de suas parcas responsabilidades como vice, a visão crítica de Israel e principalmente teses intervencionistas na economia trarão questionamentos a sua campanha.
A vice abraçou o dissenso ao trazer como seu vice o desconhecido governador Tim Walz. Um achado de comunicação, ele abraça o progressismo enquanto maneja rifles, dando credibilidade à imagem de uma chapa "gente como a gente".
Por fim, Kamala virou o jogo do debate etarista ao substituir Biden, 81. Tem 59 anos de idade, 18 a menos do que Donald Trump.
Com tudo isso, a democrata fechou julho arrecadando quatro vezes mais do que o rival, um sinal vital de suas chances, e o ultrapassou levemente nas pesquisas nacionais. Nos campos de batalha estaduais, está em vantagem técnica, o que sugere o olho mecânico como juiz final de uma disputa agora de fato empolgante.
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