A saga do Parque Bixiga, mais perto de um fim

O Parque Bixiga começou a virar realidade. A cidade escolheu comprar o terreno do Grupo Silvio Santos e ele já foi incluído do Plano Diretor.

Ainda está longe de terminar, mas essa história de décadas conta muito sobre o jeito que tomamos – ou não tomamos decisões.

O tombamento para evitar a destruição

O maestro João Carlos Martins era Secretário de Cultura do Estado de São Paulo em 1982. Ele conta que certo dia, o prédio da Secretaria foi invadido por Zé Celso Martinez Correa e mais quarenta pessoas. Eles cantavam pelas escadas e pediam pelo tombamento do Teatro Oficina, para evitar a venda pelo proprietário ao Grupo Silvio Santos. - "Para quando?", pergunta Martins. – "Para ontem". Ato contínuo, Martins chamou o diretor do Patrimônio, o geógrafo Aziz Ab’Saber, pediu celeridade e o tombamento saiu em 5 dias, um recorde. O teatro, projeto de Lina Bo Bardi, protegido, está frequentemente na lista dos mais bonitos do mundo.

O Baú descobre a antropofagia

Anos depois, Silvia Santos quis construir prédios no seu terreno. Zé Celso quis construir um parque...No terreno do vizinho.

A reunião entre os dois é histórica e está disponível no Youtube. Em 2017, o gigante da mídia brasileira é convidado a encontrar com o diretor de teatro, numa reunião mediada pelo então prefeito João Doria. O desconforto é visível. Silvio diz – "Não sonha! Ninguém vai dar esse terreno a você!". Zé Celso, vestido com um poncho mexicano escala o tom: – "Mas eu sonho! Eu quero colocar tendas, fazer teatros nesse lugar maravilhoso". O empresário joga água na efervescência do interlocutor: – "Mas esse seu projeto tem que ser no meu terreno?"

O prefeito propôs um grupo de trabalho, saiu para o governo do estado e a conversa não andou.

Poderes que às vezes andam juntos, às vezes não

Os moradores do bairro e os amigos do Oficina fazem pressão há décadas para que o projeto ande. O Executivo entra e sai do assunto. O Legislativo sempre conta com alguns vereadores amigos da causa, como o Eduardo Suplicy e o então vereador Gilberto Natalini, que propôs em 2017 que o terreno, ainda de posse de Silvio Santos fosse incluído na lista de parques municipais. O prefeito em exercício, Eduardo Tuma, vetou a lei, por ‘invadir a competência do Executivo’.

Mais recentemente, foi a vez do Ministério Público entrar em ação. O promotor Silvio Marques promoveu um acordo que trafega na linha tênue entre a criatividade e aceleração dos ritos. A Uninove devia dinheiro para o município. Em vez do primeiro cheque entrar no caixa da Prefeitura, ele foi destinado diretamente ao pagamento ao Grupo Silvio Santos para pagamento do terreno. O pragmatismo provavelmente explica o arranjo e acelerou a inclusão do parque na revisão da revisão do zoneamento, mas poderia ser questionado por passar na frente de outras prioridades do município.

E aqui vai uma questão: se por um lado é fantástico ter um novo parque num lugar carente, como explicar a fila de projetos que esperam por sua vez, também em lugares carentes, ou ainda mais carentes? A lição é clara. É preciso fazer barulho para que os projetos avancem.

A polêmica do nome

Grande parte dos projetos da Câmara dos Vereadores são de dar nomes a viadutos, passarelas, acessos e praças. Talvez o pior caso seja o de Tom Jobim, o poeta do amor e da natureza que ganhou a discutível homenagem de nomear uma passagem subterrânea no centro de São Paulo.

Agora, no caso do Parque, a Câmara se divide entre homenagear Silvio Santos ou Zé Celso. Claro que não faz sentido dar o nome de Silvio, Ele apenas aceitou vender um terreno, ganhou por isso e basta. Zé Celso poderia ser um nome (já há proposta do vereador Xexéu Tripoli para isso) mas, apesar de seu protagonismo, o movimento do bairro pelo parque ficou muito maior que uma pessoa. O nome Parque do Bixiga, ou Rio Bixiga já está incorporado aos movimentos: é simples, relevante e bonito.

Pode-se pensar até em fazer um plebiscito, mas, provavelmente, isso não vai fazer diferença alguma já que os nomes que funcionam são aqueles que os usuários dão. Assim acontece com o Minhocão (Elevado João Goulart) ou o Parque Augusta (Parque Prefeito Bruno Covas), por exemplo.

O que você está lendo é [A saga do Parque Bixiga, mais perto de um fim].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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