Marçal ativa símbolos bolsonaristas e provoca reações do ex-presidente

Um candidato que defende a família, ora a Deus e diz que o Brasil está em primeiro lugar. Que condena o comunismo e a ditadura venezuelana. Que é contra as drogas e a prostituição. Um homem que diz estar combatendo o sistema, que fala o que pensa e que não tem medo do confronto. Que não tem tempo de televisão, mas que tem ampla presença digital.

Com essa imagem Jair Bolsonaro (PL) pavimentou seu caminho à Presidência em 2018. Em 2024, Pablo Marçal (PRTB) tenta reeditar esse roteiro para chegar à Prefeitura de São Paulo.

Ao longo dos últimos meses, o influenciador tem ativado símbolos que são caros para o eleitor do ex-presidente, aproveitando-se do baixo entusiasmo de apoiadores de Bolsonaro com a candidatura do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Oficialmente candidato do ex-presidente, que indicou para a vice o ex-Rota Ricardo Mello Araújo (PL), Nunes não empolga os aliados de Bolsonaro por ser visto como alguém que evita o confronto e que não é verdadeiramente alinhado às pautas do grupo.

Na última semana a relação piorou. Bolsonaro e seu entorno ficaram insatisfeitos com uma gravação de Nunes em apoio à ex-deputada federal Joice Hasselmann (Podemos), hoje candidata a vereadora, considerada "persona non grata" por bolsonaristas desde que rompeu com o grupo em 2023.

Já havia um incômodo com o fato de que, mesmo depois de ter aceitado o indicado de Bolsonaro na vice, o prefeito vinha evitando explorar a imagem do ex-presidente em sua campanha. Nunes segue numa corda bamba: precisa do eleitorado de Bolsonaro, mas teme herdar a rejeição do aliado e perder votos do campo moderado.

Neste contexto, Bolsonaro fez elogios a Marçal e, seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), teceu críticas a Nunes. Em entrevista na quinta-feira (15) à Rádio 96 FM, de Natal, o ex-presidente disse que o influenciador "fala muito bem", é "uma pessoa inteligente" e "tem suas virtudes". Afirmou, ainda, que o prefeito não é o "candidato dos sonhos", ainda que tenha assumido o compromisso de ajudá-lo.

Poucos dias depois, porém, Bolsonaro ajustou o discurso e afirmou à CNN que Marçal mentiu ao dizer que nunca buscou seu apoio. Também no fim de semana, segundo a colunista Raquel Landim, do, enviou um vídeo a sua lista de transmissão no WhatsApp dizendo que Marçal e Lula (PT) são "farinha do mesmo saco" e que "certas coisas você não precisa experimentar para saber que é um produto estragado".

Nesta segunda-feira (19), o PL publicou nas redes um vídeo no qual o ex-presidente reforça o apoio à candidatura de Nunes.

Segundo uma pessoa próxima de Bolsonaro, caciques partidários pressionaram o ex-presidente a manifestar, mais uma vez, que está com o prefeito. O pedido teria partido do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, do presidente do PP, Ciro Nogueira, e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Tarcísio já manifestou a aliados, diversas vezes, preocupação com o crescimento do influenciador. Ele foi peça-chave no processo de aceitação de Mello Araújo como vice de Nunes, defendendo que a indicação seria importante para amarrar o ex-presidente com o prefeito e estancar a onda Marçal.

Enquanto o prefeito patina entre os bolsonaristas, o autodenominado ex-coach avança neste eleitorado, como mostrou o último Datafolha, do início de agosto. Ele conquistou, até agora, 29% das preferências entre os que escolheram o ex-presidente em 2022, ante 22% no levantamento anterior, de julho.

Aliados do ex-presidente afirmam que o perfil de Marçal, alguém mais agressivo, que vai para o confronto nos debates e que tenta parecer autêntico, agrada o eleitor bolsonarista. O influenciador também tem apostado em reforçar a imagem de virilidade e masculinidade, um aceno para os homens conservadores.

Políticos do grupo afirmam que não irão fustigar Nunes ou declarar apoio público a Marçal. Mas ponderam que o ecossistema digital revela que os eleitores estão animados com o influenciador e que líderes conservadores sem amarras com Bolsonaro podem acabar manifestando apoio ao empresário.

A estratégia de acionar símbolos bolsonaristas ficou clara na convenção do PRTB que confirmou a pré-candidatura de Marçal. Ele foi mencionado por dirigentes do partido como alguém que defende os valores "Deus, pátria e família", lema de origem fascista que compôs a fundamentação ideológica do governo Bolsonaro.

O influenciador costuma dizer que tinha como candidato à prefeitura o deputado federal Ricardo Salles (Novo), que teve sua intenção de concorrer barrada por Valdemar Costa Neto, com apoio de Tarcísio, que entendia que um nome mais moderado teria melhor desempenho na capital.

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