Festival de Gramado premia o melhor e o pior filme da competição

No Festival de Cinema de Gramado, raramente o melhor filme ganha o prêmio principal do júri, que tradicionalmente laureia algum filme de maior comunicabilidade com o público. O belíssimo "Oeste Outra Vez", de Érico Rassi, parecia arriscado e cinematográfico demais para sair com a maior láurea nesta edição. Mas saiu. O júri distribuiu prêmios absurdos no começo, mas acertou no final e em outros poucos troféus.

É necessário dizer que sou amigo de Érico Rassi e de sua produtora e companheira Cristiane Miotto, embora seja importante lembrar também que o filme encantou a maior parte dos jornalistas, e alguns o considerou o melhor da competição. Como disse o crítico Luiz Zanin, na transmissão do Canal Brasil, o júri oficial teve o mérito de premiar o melhor filme.

Críticos são treinados a passar por cima de amizades ou eventos que possam prejudicar a fruição de uma obra, como os celulares que acendiam durante todas as exibições, num dos vícios mais irritantes da contemporaneidade.

Pois a forma não mente. Uma vez identificada a excelência ou a deficiência da forma, uma amizade, como também uma inimizade, não devem interferir em nosso julgamento. Gente de cinema de todos os credos e gostos reconheceram a forma superior de "Oeste Outra Vez". É um dos raros momentos de encontro de subjetividades tão diversas, aproximadas pela evidência na tela, como queria Jacques Rivette.

História de rivalidade masculina filmada na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, "Oeste Outra Vez" mostra dois homens ridículos, vividos magistralmente por Ângelo Antônio e Babu Santana, que tentam se matar porque amam a mesma mulher.

Se Federico Fellini foi o grande cronista do fracasso do macho italiano em filmes como "Casanova" ou "A Cidade das Mulheres", Rassi faz uma representação da masculinidade frágil no que se costuma chamar de Brasil profundo. A mulher pela qual esses homens lutam se afasta deles —e da camera— na primeira cena do filme, mostrando estar acima desse tipo de toxicidade possessiva.

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