Renegociação das dívidas dos estados e o imperativo da isonomia
O tema da renegociação das dívidas com a União volta ao debate neste momento em que o governo federal e o Congresso Nacional, através do diálogo com os estados, buscam uma solução para o endividamento e consequentes dificuldades destes. Dificuldades agravadas pelas medidas eleitoreiras do governo anterior, que alterou o regime de tributação dos combustíveis, energia e telecomunicações sem qualquer diálogo ou compensação para estados e municípios, promovendo reduções em seus orçamentos e reduzindo em R$ 124 bilhões por ano a arrecadação de ICMS.
Para que essa solução seja justa, ela não pode ignorar as desigualdades existentes entre os entes federativos, do ponto de vista dos diferentes níveis de endividamento com a União, e, principalmente, das desigualdades regionais e socioeconômicas conhecidas por todos. Os quatro estados com maior participação na economia nacional respondem por 90% de toda a dívida com a União, enquanto outras unidades da Federação que sofrem com limitada capacidade de investimento e dificuldades com o custeio de suas obrigações básicas devem muito pouco.
Não é por mera coincidência que, na liderança do ranking dos estados mais endividados, figuram as maiores economias estaduais. Foram exatamente os empréstimos e garantias da União, componentes dessas dívidas, que permitiram alavancar as economias desses estados —tratamento este que não foi estendido às demais regiões do Brasil, especialmente o Nordeste e o Norte. Não é errado que os recursos públicos sejam destinados para garantir o crescimento da economia e a melhoria das condições de vida do povo. Mas sua distribuição precisa ser mais justa, menos concentradora e excludente, e não beneficiar apenas as economias mais desenvolvidas —como historicamente foi feito no Brasil.
Qualquer proposta que não considere essa realidade, e deixe de contribuir para alterá-la, insistindo em tratar os desiguais de maneira igual, incorrerá em dois erros: um econômico, por deixar de valer-se dos potenciais subaproveitados de crescimento do país, como da região Nordeste; e um ético-político, por afastar o princípio constitucional fundamental da erradicação das desigualdades. Assim, a proposta em discussão do fundo de equalização é uma sinalização positiva, porém carece de um debate mais aprofundado quanto a seus detalhes.
É preciso garantir que o fundo tenha fonte segura de recursos para que não tenhamos apenas uma promessa vazia de ajuda. Aqui, a ideia de direcionar para o fundo uma parte do que será economizado com o não pagamento de juros à União é uma boa solução. Ponto ainda mais relevante e crucial é que a distribuição dos recursos do fundo seja feita a partir de parâmetros que reduzam as desigualdades regionais. Defendemos que seja adotado o critério já consagrado do FPE (Fundo de Participação dos Estados), que garante o equilíbrio socioeconômico entre os estados e permite uma distribuição justa dos recursos.
Sabedores de que este é um debate politicamente tão sensível quanto necessário, acreditamos que o país precisa dar esse passo. A resolução aprovada pelo Conselho da Federação sobre o tema é um bom guia.
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